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Agricultura de ponta e mazelas estruturais marcam oeste baiano 4486q

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24/03/2011 - 08:55
A rentvel colheita de gros e algodo esperada neste ano no oeste da Bahia alimenta entre governos locais, agricultores e sociedade civil em geral a discusso em torno dos destinos dos lucros. Ao mesmo tempo em que tendem a estimular a expanso da rea produtiva e novos investimentos em tecnologias aplicadas nas lavouras, consenso na regio que a bonana tem de servir tambm para financiar melhorias sociais e de infraestrutura, sob o risco de que o crescimento desordenado trave o desenvolvimento futuro de municpios importantes como Lus Eduardo Magalhes, Barreiras e So Desidrio. Antes de visitar a regio na semana ada a convite do Rally da Safra, organizado pela Agroconsult, o Valor conversou, por telefone, com o prefeito de Lus Eduardo Magalhes, Humberto Santa Cruz (PP). Produtor de soja e algodo no oeste baiano, alm de caf, laranja e mamo irrigados, Santa Cruz adiantou aquilo que a reportagem conferiu in loco nos dias 18 e 19: o que h de melhor em termos de lavouras e carncias estruturais agudas. certo que “LEM”, como Lus Eduardo Magalhes conhecida, uma cidade nova e extensa - tem 3.941 quilmetros quadrados (394,1 mil hectares). Mas seu crescimento populacional tem sido vertiginoso, e na rea urbana est difcil combater o avano das favelas e as mazelas em servios essenciais como habitao, sade ou educao. Em 2000, quando ou de distrito da vizinha Barreiras a municpio, LEM tinha 18 mil habitantes; atualmente, de acordo com o IBGE, tem mais de 60 mil. “Estamos com produtividades elevadas e preos (dos principais cultivos agrcolas) em nvel excelente, e claro que isso ajuda. LEM o municpio que mais cresceu no pas na ltima dcada e o gestor pblico no consegue resolver seus problemas sozinho”, diz o prefeito. Segundo ele, governo e produtores am em 2010 um convnio para melhorias em 800 quilmetros de estradas vicinais e outras parcerias foram firmadas para a pavimentao das ruas de bairros carentes da cidade. Alm desse tipo de associao, Santa Cruz diz que o aumento do oramento da prefeitura em 2011 servir para irrigar projetos sociais, sobretudo em sade e saneamento. Em 2010, o oramento total de LEM foi de R$96 milhes, valor que cresceu para R$121 milhes em 2011 - 36% do total voltado a gastos com pessoal. No h um hospital na cidade, e nica maternidade e sua pequena estrutura para pequenas cirurgias o prefeito esperar agregar novos postos de sade. No setor de saneamento, o objetivo alcanar, na rea de tratamento de esgoto, pelo menos 50% at meados do ano, ante percentual que hoje prximo de zero. Em habitao, o dficit j chega a 4 mil moradias de baixa renda, e o nmero de alunos na rede pblica de ensino pulou de 10 mil, em janeiro de 2009, para 14,1 mil no mesmo ms de 2011. H 23 escolas em LEM, e a prefeitura precisa escalar dois professores por sala de aula para atender crescente demanda. Santa Cruz tambm pretende implantar no municpio, at pela grande rea que ele ocupa, um conceito de cidade inteligente, com escolas, postos de sade e outros servios interligados pela internet. Quando o valor da produo agropecuria aumenta, afirma, a arrecadao de ICMS aumenta e o combate s mazelas fica um pouco menos difcil. Mas o crescimento acelerado continua, e os desafios vo aumentar. “Nos prximos cinco anos, a expectativa que nossa populao dobre; nos prximos 15 anos, dever triplicar”, afirma Santa Cruz. Segundo a Associao de Agricultores e Irrigantes da Bahia (Aiba), as colheitas de soja, algodo, milho, caf, arroz, feijo, capim para sementes e sorgo devero somar 6,2 milhes de toneladas neste ano em todo o oeste do Estado, 7% mais que em 2010. E, conforme o prefeito de LEM, o valor bruto da produo dever alcanar R$6,2 bilhes, com crescimento de 9%. Os incrementos de volume e receita sero puxados pelo algodo, uma lavoura de custo elevado e alto risco, sujeita a grandes prejuzos ou, como no ciclo atual, lucros tambm polpudos, estimados em mais de R$3 mil por hectare em 2010/11. Diante dos excelentes preos e margens das principais lavouras do oeste da Bahia neste ano, o presidente da Aiba, Walter Horita, est otimista. "S no vai ganhar dinheiro na agricultura este quem no colher. Desde que estou na agricultura, 2011 ser o melhor ano em temos de rentabilidade”, disse Horita, que produz no oeste baiano desde 1984, em recente entrevista ao Valor. Em seus clculos - e a depender do comportamento das chuvas nas prximas semanas -, a margem poder chegar a 200% em algumas lavouras de algodo, enquanto na soja, que ocupa a maior parte da rea plantada na regio, ser de at 100%. Como sempre na agricultura, a situao dos produtores no homognea. O nvel de utilizao de insumos, a estratgia de vendas, o endividamento e questes fitossanitrias so apenas alguns dos fatores que influenciam a rentabilidade das plantaes. Como lembra o produtor Clovis Ceolin, de So Desidrio, 60% da safra de algodo que comear a ser colhida na regio a partir de maio foi vendida no ano ado com preos inferiores aos praticados atualmente. J eram preos remuneradores, mas no haviam alcanado as mximas histricas depois vistas no mercado internacional. No caso da soja, como confirmou o Valor na maioria das lavouras que visitou em Barreiras a convite do Rally da Safra, o problema a elevada incidncia de um fungo conhecido como mofo branco, cujo combate vem elevando custos e contra o qual ainda no h fungicidas especficos. Em parte da rea plantada por um grande produtor da cidade, a colheita de soja no render mais que 40 sacas de 60 quilos por hectare por causa do mofo branco, e inicialmente eram esperadas pelo menos 55 sacas. Grandes grupos como o Sementes Aurora, que conta com 8 mil hectares prprios e 5 mil arrendados, alm de uma rede de cooperados que agregam outros 30 mil hectares sua rea de cultivo de sementes de soja e milho, o ataque ao mofo tem sido feito com manejos qumico e biolgico e maior espaamento entre as fileiras das lavouras. A doena tem sido evitada, mas a batalha j representa 33% do custo direto com insumos (exceto fertilizantes). Nada que desanime os agricultores. Walter Horita, da Aiba, informa que, dependendo do resultado das discusses ambientais que cercam o novo Cdigo Florestal que entrar em vigor, a rea total de plantio no oeste da Bahia poder chegar a 2,5 milhes de hectares, com reas de preservao permanente (APPs) e 20% de reserva legal nas propriedades. Como ele acredita que o fluxo migratrio vai perder fora, as prefeituras devero conseguir, a partir de agora, melhorar a infraestrutura disponvel, inclusive para melhorar a qualificao profissional da mo de obra disponvel na regio. Fonte: Valor Econmico. Por Fernando Lopes. 23 de maro de 2011.