O Fundo Monetrio Internacional (FMI) est mais otimista do que o mercado financeiro sobre o desempenho fiscal do governo brasileiro. O organismo aposta no cumprimento da meta de supervit primrio deste ano e prev um dficit nominal do setor pblico de 2,4% do Produto Interno Bruto (PIB), uma sensvel melhora em relao aos nmeros projetados h apenas quatro meses.
"No tenho nenhuma dvida de que, levando em conta as aes tomadas, a meta vai ser cumprida", disse ontem Carlos Cottarelli, diretor de assuntos fiscais do FMI, referindo-se ao objetivo fixado pelo governo para o supervit primrio. Neste ano, pela primeira vez, a meta calculada em reais, mas as estimativas so de um nmero prximo de 3% do PIB.
No monitor fiscal divulgado ontem, um importante documento que faz a reviso da situao fiscal de todos os seus cotistas, o FMI suprimiu o tom de ressalvas ao Brasil.
Em janeiro, quando foram divulgadas as projees anteriores, o FMI havia afirmado que "a deteriorao nas contas fiscais do Brasil particularmente pronunciada". Na ocasio, o documento recebeu duras crticas do ministro da Fazenda, Guido Mantega.
Agora, o FMI reviu para baixo a sua projeo para o dficit nominal deste ano, de 3,1% para 2,4% do PIB. Ainda assim, os nmeros ainda seguem sendo menos favorveis do que os do relatrio de novembro de 2010, em que o organismo projetou um dficit nominal de apenas 1,2% do PIB. O desempenho fiscal pouco depende do relativamente forte crescimento econmico do pais, aponta o FMI. O organismo calcula um dficit nominal ajustado ciclicamente de 2,5% do PIB em 2011 e de 2,6% do PIB no prximo ano.
O FMI est mais otimista do que o mercado financeiro, que prev um dficit nominal de 2,9% do PIB em 2011, segundo a pesquisa semanal de expectativas feita pelo Banco Central. O mercado financeiro projeta um supervit primrio de 2,7% do PIB neste ano.
A melhora nas projees fiscais do FMI se deve a medidas de ajuste divulgadas pelo governo no comeo do ano. "No Brasil, o governo anunciou um pacote de medidas totalizando um total de 1,25% do PIB para alcanar a sua meta fiscal", afirma o monitor fiscal. "As projees so de que os emprstimos feitos pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econmico e Social (BNDES) tambm vo cair, depois de ficarem numa mdia de 3% do PIB entre 2009 e 2010."
Economistas do mercado financeiro duvidam da execuo das medidas fiscais, mas o FMI se mostra mais confiante. "Acho que o governo tomou medidas para apertar a poltica fiscal e para alcanar sua meta de supervit primrio de 3% do PIB", disse Cottarelli.
No Brasil, alguns analistas afirmam que o esforo fiscal do governo pequeno e lento para tirar a sobrecarga da poltica monetria, num perodo em que o Banco Central sobe juros e usa outros instrumentos para conter a inflao. Muitos afirmam que, se houvesse um ajuste fiscal mais ambicioso, os juros seriam menores e o pas seriam menos atrativo para os capitais estrangeiros, dispensando a adoo de controles no ingresso de recursos, como o IOF.
Cottarelli indicou, porm, que a velocidade do ajuste fiscal adequada para lidar tanto com os dilemas monetrios quanto com o fluxo de capitais. "Acho que a velocidade da consolidao fiscal est acontecendo da forma esperada."
H dois dias, o FMI divulgou outro documento favorvel ao Brasil, projetando uma inflao de 4,5% em 2012, o que na prtica significa o cumprimento do centro da meta de inflao dentro do horizonte de tempo traado pelo Banco Central. O mercado financeiro, porm, prev inflao de 5% para 2012.
Fonte: Valor Econmico. 13 de abril de 2011.