Ningum nasce grande: o grande o pequeno que deu certo e cresceu, e todos tm o direito de crescer...
Est terminando hoje (7) em Ribeiro Preto a 18 edio da Agrishow. Os expositores, principalmente os fabricantes de mquinas, equipamentos e colhedeiras, esto satisfeitos com as vendas.
No para menos: estamos colhendo a maior safra de gros da nossa histria, os preos esto bons, de modo que, apesar do dlar barato que retira parte significativa do faturamento do setor, a renda rural de 2011 ser melhor do que a de anos anteriores.
O produtor rural ama o que faz e sempre que obtm lucros acima do esperado trata de investir mais em tecnologia buscando melhorar a sua prpria competitividade para se manter na atividade. E vai em busca da ltima palavra oferecida pelos cientistas, seja com as sementes mais promissoras geneticamente, seja com os fertilizantes e defensivos menos agressivos ao ambiente, seja com o maquinrio mais moderno.
E uma feira como a Agrishow tem mesmo de ser um sucesso.
Agora, atingida a sua maioridade, est claro que essa feira dinmica foi um ponto de inflexo da tecnologia brasileira. At ento, nossas exposies eram estticas e o produtor rural tinha de se contentar em ver as mquinas e em ler seus catlogos distribudos por belas recepcionistas.
Uma feira dinmica, ao contrrio, consiste na verificao, pelos produtores rurais, das mquinas operando em plantio, tratos culturais, colheita e transporte.
Com isso, eles podem comparar a performance das diferentes marcas, o que exige dos fabricantes investimentos em tecnologia industrial para se manterem no mercado. Se uma pessoa tivesse assistido primeira verso da feira em 1994 e, por alguma razo, s tivesse voltado neste ano, no acreditaria no que estaria vendo:
pensaria estar em outro planeta, tamanha a evoluo.
Com o advento da agricultura de preciso, as modernas mquinas dotadas de ar condicionado, ampla viso geral da rea e acopladas a GPS se tornaram lugar-comum.
Plantadeiras capazes de semear 150 hectares por dia j esto disponveis. E agora esto surgindo as mquinas-conceito cada vez mais "inteligentes" e que sero operadas de dentro do escritrio, por controle remoto.
Munidas de sensores e cmeras, elas identificaro a umidade relativa do ar, a temperatura, a velocidade do vento, e executaro servios de pulverizao muito mais precisos e econmicos. Mquinas sofisticadas, poderosas e caras...
Por outro lado, sabido que, na economia globalizada, as margens unitrias por produto agrcola so cada vez menores, e a renda rural s se faz com escala. Isso nos coloca diante de um grave dilema: as mquinas capazes de conferir competitividade aos agricultores sero grandes e custosas, e o pequeno produtor no tem escala.
Ele uma figura importante no tecido social do pas. Sua sobrevivncia e progresso interessam sociedade toda e democracia. Como compatibilizar esse legtimo interesse nacional com a concentrao ditada pela globalizao?
Uma das respostas mais evidentes e j adotadas com entusiasmo pelos grandes pases agrcolas o cooperativismo. Em uma cooperativa, um grande conjunto de pequenos ganha escala, agrega valor, incorpora as mesmas tcnicas, aplica insumos iguais aos grandes, e compete com eles.
Portanto, o cooperativismo uma doutrina que interessa a um governo verdadeiramente democrtico e deve por ele ser fomentado. Atravs das cooperativas, um crdito rural diferenciado, acoplado a um eficiente seguro agrcola, pode ser oferecido aos pequenos produtores, inclusive com subveno, como j acontece no mundo todo. Estmulos fiscais indstria de equipamentos devem ser oferecidos para a produo de mquinas menores.
Em suma, em um mundo agrcola em que despontam a biotecnologia, a nanotecnologia, a agricultura de preciso e as mquinas-conceito, fundamental construir as condies de avano capitalista para os pequenos produtores. Afinal, ningum nasce grande: o grande o pequeno que deu certo e cresceu, e todos devem ter o direito de crescer.
Fonte: Folha de S. Paulo. Por Roberto Rodrigues. 7 de maio de 2011.