O mercado de lcteos vive um momento favorvel, com demanda firme, empresas investindo e preos que incentivam a produo de matria-prima, mas uma incerteza paira no horizonte do setor. As crescentes importaes de leite em p do Brasil preocupam, afirma o novo presidente da Associao Brasileira da Indstria de Leite Longa Vida (ABLV), Larcio Barbosa.
Segundo o executivo, se as compras de produto do exterior continuarem crescendo no perodo de safra na regio Sudeste e Centro-Oeste - a partir de setembro e outubro -, os preos ao produtor tendem a cair, desestimulando o investimento de pecuaristas na alimentao do rebanho leiteiro. "Se o preo est ruim, o pecuarista deixa de dar rao, s deixa no pasto e a produo de leite cai”, diz Barbosa, para quem o "limite da importao quando ela comea a afetar a produo nacional”.
S nos primeiros quatro meses deste ano, o dficit do Brasil na balana de lcteos alcanou US$179 milhes, quase o dficit total registrado em 2010, que ficou em US$190 milhes. Barbosa estima que em maio, o dficit j deve ter atingido o total do ano ado.
Alm do dlar barato em relao ao real, a demanda tambm sustenta as importaes. "Se no importasse, faltaria leite neste perodo de entressafra”, reconhece o presidente da ABLV. Grande parte das importaes feita pela indstria de alimentos.
Cerca de 60% do que o Brasil importa em lcteos so provenientes de Argentina e Uruguai. Com a Argentina, o governo brasileiro fez um acordo, prorrogado at 31 de julho, que limita as importaes em 3,3 mil toneladas mensais. Afirmando que o mercado de leite "sensvel”, Barbosa defende acordo parecido com o Uruguai.
Por enquanto, as importaes no afetam a produo. No momento, o que torna a oferta apertada, elevando preos do leite ao produtor so questes climticas. O ndice de captao de leite do Cepea/Esalq recuou quase 2,8% entre maro e abril. No acumulado at abril, o ndice caiu 0,6% na comparao com o mesmo perodo do ano ado.
Larcio Barbosa acredita que, apesar do quadro atual, at o fim do ano a produo deve ter crescimento na casa dos 3%. No ano que ou, a produo total de leite no Brasil somou 30,6 bilhes de litros, 5,1% mais do que em 2009.
No perodo, a produo de leite longa vida subiu 3,7%, para 5,455 bilhes de litros, segundo dados da ABLV. J a produo de leite sem tratamento caiu 10,7%, para 1,890 bilho de litros e a de leite pasteurizado, 5,6%, para 1,690 bilho de litros.
A participao do longa vida no chamado leite de consumo alcanou 55,4% ano ado, enquanto o consumo per capita de lcteos em geral subiu 4,4%, para 165,1 litros, conforme a ABLV.
A estimativa de que a produo (e consumo) de longa vida voltem a crescer, entre 3% a 4%, mantendo o ritmo do primeiro trimestre, segundo Barbosa. "Pode ficar at acima disso porque as medidas para reduzir o crdito podem levar ao aumento de consumo de produtos bsicos”, acrescenta.
Ele destaca ainda a melhora na qualidade do leite longa vida no pas. Desde 2008, a ABLV realiza um programa de monitoramento do leite, que coleta, nos pontos de venda, cerca de 500 amostras por ano de 80 marcas pelo pas. "Praticamente, no se encontra problemas em relao qualidade”, diz.
Fonte: Valor Econmico Online. Por Alda do Amaral Rocha. 8 de junho de 2011.