A perda de flego das vendas para a agricultura familiar e as incertezas em relao economia pesaram sobre o mercado de mquinas agrcolas em 2011 e sinalizam resultados pouco auspiciosos tambm em 2012.
De acordo com relatrio divulgado ontem pela Associao Nacional dos Fabricantes de Veculos Automotores (Anfavea), as vendas no mercado domstico caram 4,7% no ano ado, para 65,31 mil unidades. Prejudicadas pelas barreiras impostas pela Argentina, as exportaes tambm diminuram, em 4,2%, para 18,37 mil unidades. O cenrio menos favorvel levou a indstria a colocar o p no freio. Em 2011, a produo de mquinas amargou uma queda de 7,9%, para 81,8 mil mquinas.
O vice-presidente da Anfavea, Milton Rego, ite que os nmeros ficaram abaixo do que a entidade previa no incio de 2011, mas considera o resultado positivo. "Espervamos uma estabilidade nas vendas domsticas, mas a queda de 4,7% nos mantm prximos do nvel de 2010, que foi extraordinrio". Naquele ano, as montadoras negociaram mais de 68,5 mil tratores e colheitadeiras, um recorde.
Rego observa que a queda concentrou-se no mercado de tratores, que encolheu 7,3%, para 52,29 mil mquinas negociadas. As vendas de colheitadeiras, destaca, cresceram 17,3%, para 4,5 mil unidades. "Em 2011 o produtor agrcola priorizou a compra de colheitadeiras, que uma aquisio mais difcil de adiar que a de tratores", explica.
O executivo observa ainda que as vendas para agricultores familiares, grande responsvel pela recuperao do setor a partir de 2009, perderam fora no ano ado. Segundo ele, a fatia de mquinas vendidas para o segmento caiu pela metade, de 30% para 15%, entre 2010 e 2011 - em 2009, foi de quase 50%. "Comea a haver uma saturao das vendas para os setores mais tradicionais e estruturados da agricultura familiar, tpicos da Regio Sul", diagnostica.
Para Rego, esse foi o segmento que mais rapidamente respondeu aos estmulos dados pelo Programa Mais Alimentos (PMA), lanado em 2008 pelo Ministrio do Desenvolvimento Agrrio, que ofereceu condies de financiamento diferenciadas aos pequenos produtores. "O PMA no est esgotado, mas precisa ser adaptado a uma nova realidade, que a da agricultura familiar em regies mais pobres e desestruturadas, como nos Estados do Nordeste, onde muitas vezes o produtor no tem nem a posse da terra".
Segundo ele, o governo deve anunciar ainda no primeiro trimestre, medidas que deem segurana aos bancos interessados em financiar a aquisio de mquinas nessas regies. Entre as propostas est a da criao de um fundo garantidor de crdito, possivelmente com recursos do Tesouro, para cobrir eventuais perdas. "O governo vai atacar essa questo, pois est no cerne da poltica de combate pobreza", aposta.
De todo modo, o prognstico do mercado de mquinas para 2012 , nas palavras de Rego, "conservador". Segundo ele, as vendas devem ficar estagnadas nos nveis de 2011. "Apesar da queda recente nos preos de algumas commodities e do aumento de custos, os agricultores tero um bom ano. O problema o curto prazo. As turbulncias na economia deixam todo mundo com um p atrs", afirma.
O executivo diz que a situao preocupa porque as vendas de tratores no Brasil ainda esto em nveis muito abaixo do necessrio para assegurar a renovao e a expanso da frota a fim de sustentar o crescimento da produo agrcola nos prximos anos. S a agricultura empresarial, calcula, precisaria adquirir 52 mil novos tratores por ano ao longo da prxima dcada. "Se considerarmos ainda as necessidades da agricultura familiar, esse nmero chega a 70 mil", afirma Rego.
Fonte: Valor Econmico. Por Gerson Freitas Jr. 6 de janeiro de 2012.