cada vez mais comum observarmos tecnologias bem estabelecidas serem substitudas rapidamente. Discos de vinil foram trocados por CDs em poucos anos. Em muitos casos essas revolues permitem que a liderana tecnolgica migre para outro pas. o caso do Japo, que dominou a indstria eletroeletrnica aproveitando uma troca de tecnologia.
Com a substituio das vlvulas pelos transistores e a subseqente miniaturizao dos componentes, empresas japonesas praticamente destruram a indstria de rdios e televisores norte-americana. Dcadas mais tarde, pases como Taiwan enriqueceram com a produo de componentes eletrnicos.
O Brasil nunca esteve no epicentro de uma revoluo tecnolgica, mas isso pode mudar. A deciso de diversos pases de substituir parte do petrleo por biocombustveis pode ser o incio de uma dessas mudanas tecnolgicas.
Caso a tendncia se confirme, a tecnologia brasileira de produo de etanol pode colocar o Pas em posio privilegiada.
Desde 1970 o Brasil vem desenvolvendo tecnologias capazes de diminuir o custo de produo do etanol. Em paralelo desenvolvemos os motores a lcool e descobrimos a duras penas como uma frota de veculos dependentes exclusivamente desse combustvel colocou os consumidores sob a espada dos usineiros. Aprendida a lio, desenvolvemos os motores flex, que permitem transio gradativa dos combustveis fsseis para os renovveis atravs da adio gradativa do lcool gasolina, estratgia j adotada por todos os pases.
Hoje somos o nico pas em que esse pacote tecnolgico est implantado e funcionando.
esse pacote que o presidente Bush veio buscar. Mesmo antes de os EUA iniciarem seu programa de etanol, todos sabiam que produzir etanol a partir do amido de milho caro e invivel em larga escala. Os EUA criaram seu mercado domstico subsidiando a produo de lcool a partir de amido, agora precisam dar o prximo o. Nesses ltimos anos, diversos estudos demonstraram que no longo prazo a maior parte dos biocombustveis ser produzida nos trpicos, onde muita luz, altas temperaturas e abundncia de gua favorecem a fotossntese. E nos trpicos nada bate a cana-de-acar. Alm do Brasil, provavelmente Caribe, Amrica Central, sia e a frica sero os principais produtores de etanol, mas para isso vo necessitar da tecnologia brasileira. E a reside nossa oportunidade de liderar uma revoluo tecnolgica.
No Brasil nem sequer reconhecemos nosso avano tecnolgico. Quando pensamos em lcool, o que vem mente so senhores de engenho que exploram mo-de-obra barata e no pagam seus emprstimos. Mas isso s parte da verdade. A sofisticao tecnolgica presente nas melhores usinas, tanto no plantio da cana como em seu processamento industrial, enorme. Tampouco valorizamos o capital humano presente nos milhares de engenheiros e tcnicos que dominam e desenvolvem a tecnologia e quase ningum sabe que possumos um “Silicon Valley do lcool”, com centenas de pequenas empresas inovadoras em Sertozinho, no Estado de So Paulo.
Foi utilizando vantagens como essas, combinadas com uma estratgia clara, que os chamados Tigres Asiticos enriqueceram com os semicondutores.
Falta uma estratgia que permita ao Brasil liderar a transio tecnolgica. No conheo os planos do governo para garantir nossa propriedade intelectual em nvel global nem como vamos garantir os investimentos necessrios para sustentar nossa superioridade tecnolgica.
Parece que as negociaes devem girar em torno do imposto de importao de etanol cobrado pelos EUA. Se isso representar o pagamento pelo o ao nosso pacote tecnolgico, estamos vendendo barato. Se for o pilar de nossa estratgia para liderar uma revoluo tecnolgica global, no mnimo insuficiente.
Fonte: Estado de So Paulo. Vida&. Por Fernando Reinach. 08 de maro de 2007.