Dona de 33% do mercado internacional de fertilizantes - e de outra grande fatia do agronegcio mundial -, a Bunge est com os estoques em alta e os cofres em baixa. A gigante do setor informou que o lucro do terceiro trimestre declinou 33% em virtude da queda na demanda por raes, fertilizantes e servios para armazenamento e transporte de safra. O lucro lquido da empresa caiu para US$234 milhes, do alto de US$351 milhes faturados em igual perodo do ano ado. “No caso de fertilizantes, aqui no Brasil houve uma queda no trimestre equivalente a 25%, mas de janeiro a setembro, ns tivemos um crescimento de receita de 179%”, pondera Adalgiso Telles, diretor de comunicao corporativa da Bunge no Brasil.
A Fosfertil, maior produtora de matrias-primas para fertilizantes do Brasil, comemora um lucro lquido de R$679 milhes nos nove primeiros meses do ano, receita 84,6% maior que aquela faturada no mesmo perodo de 2007. Outra que tambm tirou proveito da alta superior a 100% verificada nos preos dos fertilizantes no ltimo ano foi a Potash Corp. O lucro lquido da empresa do terceiro trimestre quintuplicou e chegou at US$1,24 bilho, valor que, a trs meses do fim do ano, j excedeu todo o lucro lquido de US$1,1 bilho registrado no ano de 2007.
“O que aconteceu com a Bunge foi um erro de estratgia. A empresa fez estoques violentos apostando em um consumo ainda maior, o que no aconteceu”, analisa Elizabeth Chagas, consultora do setor - o dlar fechou o dia de ontem cotado a R$2,30. “A Bunge j comprometeu at o primeiro trimestre do prximo ano”, completa. Ainda de acordo com a consultora, na safrinha de milho 2009 que o excesso de estoque vai levar o preo do insumo ao menor nvel histrico. Jos Amaral, da Scot Consultoria, encontra justificativa tambm na realizao de contratos fsicos quando o bushel da soja estava cotado a US$16,00. “O alto preo das commodities era uma certa bolha, e os atuais tambm no esto baseados em nenhum fundamento, os estoques esto baixos e ainda no se confirmou a esperada queda na demanda por alimentos em virtude da crise”. De acordo com o presidente mundial da empresa, “os resultados do trimestre foram pressionados pela baixa demanda por insumos, raes e pela retrao nas vendas agrcolas em certas regies, como as vendas reduzidas de fertilizantes no Brasil”, disse Alberto Weisser.
No Brasil, o volume de fertilizante entregue ao consumidor em setembro chegou a 2,2 milhes de toneladas, queda de 25,30% em relao ao mesmo perodo de 2007, segundo a Associao Nacional para Difuso de Adubos (Anda). No acumulado do ano, o consumo foi de 18,21 milhes de toneladas, alta de 4,09%, em comparao com mesmo perodo de 2007.
A Fosfertil, segundo Chagas, levaria vantagem no fato de s depender de importaes de enxofre. “Ela tem a carteira toda vendida, no ficou nem um pouco vulnervel, e ainda conta com o guarda-chuva dos preos internacionais. At o fim do ano, deve apresentar um balano ainda melhor”. A Fosfertil a maior produtora de matria prima do mercado nacional.
Voltando s quedas amargados pela Bunge, o lucro de agronegcio caiu 55% indo parar na casa dos US$170 milhes em conseqncia da queda na demanda por produtos a base de soja. Os contratos a futuro da soja tropearam 47% desde o recorde de US$601,38 a tonelada em julho, enquanto os futuros do milho registraram queda de 52% desde o recorde de US$314,65 em junho. A empresa incorreu em perdas cambiais de US$215 milhes com a desvalorizao do real com o financiamento de capital de giro denominado em dlar. Os produtos de leo comestvel registraram perda de US$29 milhes, comparado com lucro de US$17 milhes em igual perodo do ano ado.
A diretora financeira, Jacqualyn Fouse, acredita que “as margens de lucro dos fertilizantes devem permanecer positivas, embora os volumes negociados fiquem em nvel moderado devido as compras antecipadas que ocorreram no primeiro semestre do ano e s correntes condies restritas de crdito agrcola”, disse Fouse.
Fonte: Gazeta Mercantil. Agronegcio. Por Gilmara Botelho e Bloomberg News. 24 de outubro de 2008.