De R$10 bilhes disponveis para compra de mquinas e equipamentos, s 40% foram contratados
Anunciado em junho do ano ado, o Plano Agrcola e Pecurio 2010/2011 destinou R$116 bilhes para operaes de crdito rural. Em relao ao ciclo 2003/2004 (R$32,6 bilhes), o volume de recursos praticamente quadruplicou. O que chama a ateno, porm, segundo levantamento da Scot Consultoria, que parte do crdito que poderia ser usada pelos produtores no sai do banco, sobretudo em relao ao crdito voltado a investimentos.
No Plano Agrcola e Pecurio 2009/2010, enquanto o volume de crdito contratado para custeio e comercializao (R$64,8 bilhes) chegou a 98% do total de R$62,2 bilhes disponveis, o volume contratado para investimentos no chegou a 40% do disponvel. De R$10 bilhes, foram tomados R$3,6 bilhes. “O produtor d prioridade ao crdito de custeio e comercializao, tanto que a mdia de crdito contratado para investimento nas ltimas seis safras de 48%”, diz o consultor da Scot, Rafael Ribeiro de Lima Filho. No Moderfrota, que financia tratores e implementos, dos R$2 bilhes disponveis em 2009/2010, s 10% foram contratados.
“O dinheiro existe, mas as exigncias so muitas. O produtor esbarra na burocracia”, diz o consultor. Outros motivos tm relao com a falta de conhecimento do agricultor sobre as linhas de financiamento e com a falta de preparo dos bancos. A burocracia faz tambm o agricultor recorrer s tradings, que trocam insumos por produto a juros bem maiores se comparados com os do crdito oficial. "Hoje as tradings representam 50% de todo o financiamento agrcola e pecurio do Pas, mesmo cobrando juros de 15% a 25% ao ano. O agricultor opta por pagar mais porque mais fcil se entender com a trading do que com o banco”, diz.
Demora. Em Bragana Paulista (SP), o agricultor Hlio Jnior Lustosa de Oliveira diz que quase desistiu de financiar um trator novo, de 75 cavalos. Com grade aradora, roadeira e subsolador, o trator sairia por R$73 mil, para pagar em nove anos, com um ano de carncia e juros de 3% ao ano. “Era para o dinheiro sair em um ms, mas a liberao demorou quase oito meses. Cada hora o banco alegava um motivo. Procurei a Cati e o dinheiro acabou saindo.”
J o crdito para custear um plantio de minitomates em estufa saiu rpido. Oliveira tomou R$ 16 mil para pagar em um ano, a juros anuais de 3%. “Procurei a Casa de Agricultura para conseguir a Declarao de Aptido ao Pronaf (DAP) e fui ao banco. Em 15 dias o dinheiro saiu”, diz.
“Do lado dos bancos, preciso lembrar que cada agncia trabalha conforme a demanda. Numa cidade grande, pode haver essa falha de atendimento ao agricultor, mas se a cidade tem vocao agropecuria o banco preparado para oferecer um cardpio de produtos para a regio”, diz o diretor adjunto de Produtos e Financiamentos da Federao Brasileira de Bancos (Febraban), Ademiro Vian.
O pecuarista Marcelo Pimenta Mascarenhas, de Minas, diz que, nas agncias das capitais, a falta de familiaridade com o agricultor grande. “Para lidar com o agricultor preciso conhecimento e boa vontade. Nas capitais, os gerentes no tm o costume de lidar com agricultores.”
“Recursos para o crdito existem, mas pode ser que haja dificuldade em ar o dinheiro. Temos de investigar por que o produtor no procura o banco”, diz o gerente executivo da diretoria de Agronegcios do Banco do Brasil, lvaro Schwerz Tosetto.
Maior operador de crdito rural do Pas, o Banco do Brasil desembolsou, at dezembro do ano ado, R$22,1 bilhes, 13,7% a mais em relao ao mesmo perodo anterior. O desembolso projetado para a safra 2010/2011 de R$41,9 bilhes. “Pelo desempenho verificado at dezembro de 2010, 52,8% do total projetado j foi desembolsado.” Segundo ele, o crdito projetado para custeio de R$25,4 bilhes.
O produtor Joo Batista Gritti, de Tuiuti (SP), aconselha os interessados a planejar bem. “Seno, o produtor se afunda em dvidas e a sim tem o o ao crdito bloqueado.”
Vacas. H cinco anos, Gritti financiou a aquisio de 30 vacas no valor de R$35 mil, para pagamento em cinco anos e juros de 7,25%. “Paguei, por ano, R$7.500, por causa do juro alto. Mesmo assim foi vantajoso, porque consegui elevar a produo de leite. Mas tive que me programar para no me endividar.” Produtor de frango e de hortalias, Gritti reservou parte do rendimento das outras atividades para quitar o financiamento. Com muito planejamento, financiou dois tratores usados, um de R$20 mil e outro de R$30 mil. “Vou pagar um em cinco anos e o outro em seis anos, com juros de 5% e 4,5%.”
Servio estadual
Nas Casas de Agricultura, o produtor pode se informar a respeito do crdito rural e obter o DAP. Se no houver casa da agricultura no municpio, o interessado pode ir cidade vizinha. Em 2010, a Cati emitiu 13.664 DAPs, cuja validade de seis anos.
Recursos
R$116 bilhes o valor destinado ao crdito rural no Plano Agrcola e Pecurio 2010/11
50% o quanto as tradings representam de todo o financiamento rural do Pas
Agilidade
As cooperativas de crdito do mais agilidade tomada de crdito. Na Credicitrus, a maior do gnero do Pas, o volume de operaes somou R$739 milhes em 2010.
Planejamento
JOO GRITTI
PRODUTOR DE TUIUTI (SP)
“Para tomar crdito preciso se programar. Seno, o produtor se afunda em dvidas e a sim tem o o ao crdito bloqueado.”
Burocracia
HLIO LUSTOSA
PRODUTOR DE BRAGANA PAULISTA (SP)
“Quase desisti de financiar um trator. O que era para sair em um ms levou oito meses. Cada hora o banco dava uma desculpa.”
Fonte: O Estado de So Paulo. Economia. Por Fernanda Yoneya. 13 de abril de 2011.