Fazenda que vende carne para UE ganha mais. Mas na atual crise mercado interno e emergentes no devem ser esquecidos
O Brasil tem atualmente 2.095 fazendas pecuaristas habilitadas a exportar carne para a Unio Europeia. So propriedades que se submeteram a um processo burocrtico, lento e sujeito a auditorias de seis em seis meses. Nos bons tempos no continente europeu, fazendas que se sujeitaram ao protocolo e foram aprovadas na cobiada lista receberam at R$10 a mais por arroba. Atualmente, porm, o prmio fica entre R$3 e R$4 por arroba. Adicione-se a isso a crise na Europa para que o criador se pergunte se compensa continuar exportando.
Para economista Thiago Bernardino de Carvalho, pesquisador do Cepea/Esalq/USP, o mercado exportador continua interessante para o produtor, mas preciso ficar atento crise. “O pecuarista deve buscar a excelncia na produo de carne no s de olho no mercado externo, mas pensando no consumidor interno, que, no futuro, vai ar a exigir carne cada vez de melhor qualidade.”
J o consultor Hyberville Neto, da Scot Consultoria, tambm chama ateno para o consumo crescente de carne no Brasil pelas classes C e D. “O mercado interno aquecido acaba competindo com as exportaes. Se o cmbio tambm no est favorvel e o gio sobre o “boi-Europa” no est compensador, o pecuarista tem que avaliar o que melhor”, diz.
Na pecuria h 40 anos, Edson Crochiquia, com rebanhos em Agudos (SP) e em Pedra Preta e Paranatinga (MT) - em Agudos, so 5.200 cabeas, entre recria e confinamento. J as de Mato Grosso so de cria, com 25 mil animais -, garante que o esforo compensa. “Alm de a fazenda se profissionalizar, a qualidade dos animais aumenta significativamente.” E arremata: “A pecuria brasileira no de excelncia, mas as fazendas que cumprem o protocolo de exportao podem ser consideradas de excelncia.”
Exigncias. Com rebanho de 1.750 cabeas em Uberaba (MG) e mais 2 mil animais em Turvnia (GO), o pecuarista Paulo Ferolla abate para exportao 1.400 animais/ano. Apto a exportar para a UE h quatro anos, ele reclama do “excesso de teoria” das exigncias. “Mais difcil que entrar na lista se manter habilitado”, diz. “No meu caso, o Instituto Mineiro de Agropecuria vistoria. Depois vem o ministrio. preciso apresentar tudo: registro de cada brinco, medicamentos, vacinas, alimentao e nota fiscal”, diz. “ tudo detalhado e sem se organizar no d.”
Em anos anteriores, Ferolla j recebeu R$10 a mais sobre o valor da arroba, mas hoje recebe de R$3 a R$4. O sobrepreo varia conforme a oferta e procura. Por isso o produtor deve por tudo na balana. “Tem que pesar o custo do confinamento e o custo de animais de reposio e se vale a pena exportar se o mercado interno pode absorver a oferta de carne. Exportar bom, mas no se deve abandonar o mercado interno.”
O diretor da Praterra Agropecuria, Caio Augusto Arroyo Barbosa, concorda. “Mesmo habilitado, o produtor deve colocar tudo na ponta do lpis. Este ano, com o confinamento 30% mais caro, foi mais negcio vender os animais antes, aproveitando os picos da arroba.”
Profissionalizao. A Praterra tem fazendas em Rosrio Oeste e Ribeiro Cascalheira (MT), com giro de 10 mil cabeas/ano. Barbosa acha vantajoso estar habilitado. “Estamos na lista h trs anos e em Mato Grosso o prmio chegou a R$10 por arroba.” J no ano ado, o prmio foi de R$3 a mais, em mdia. “Por um lado, o produtor deveria receber mais, por toda a burocracia e todos os investimentos que so feitos na propriedade. Por outro, tem um lado muito positivo, que a profissionalizao e a gesto eficiente da propriedade.”
O pecuarista Crochiquia, habilitado para exportar para o bloco h trs anos, destina 100% dos animais para exportao. No ltimo lote, em julho, de 794 animais, s 3 no foram classificados para exportao. “Os animais so todos nascidos na fazenda. Assim no se corre o risco de ter um animal sem garantia de gentica”, diz o em Agudos, Leosmar Dionizio. Este ano, Crochiquia abater 4 mil animais, todos para exportao.
E, pela primeira vez, exportar carne pela Cota Hilton. “O produtor recebe mais, mas h mais exigncias.” Segundo ele, a carne exportada via Cota Hilton deve ser oriunda de animais rastreados at os 10 meses de idade. Outra exigncia que tenham nascido em fazenda j habilitada pela UE. “O peso o mesmo - mnimo 235 quilos -, mas a cobertura de gordura deve ser de 3 milmetros, sem exceder os 8 milmetros.”
O consultor Hyberville Neto, da Scot Consultoria, explica que a Cota Hilton prev a exportao de cortes nobres de carne a tarifas menores de exportao para a indstria. cota anual, fixa, somente tm o pases credenciados.
Para o ciclo 2011/2012, a cota brasileira de 10 mil toneladas. Crochiquia diz que dos 4 mil animais abatidos este ano, 2.200 cabeas vo para a Cota Hilton. “O prmio para quem exporta para a Unio Europeia varia de 2% a 4% a mais sobre o valor da arroba; na Cota Hilton, a premiao de 4% a 7%”, diz, satisfeito, o criador.
3 RAZES PARA...
O pecuarista exportar
1. A indstria costuma pagar um gio sobre o preo da arroba de animais que sero abatidos para exportao.
2. Para a propriedade ser habilitada para exportar para a Unio Europeia, por exemplo, o produtor deve investir em gesto. Organizao e um bom gerenciamento da fazenda so itens essenciais para quem quer se tornar exportador.
3.Com controle individual do rebanho e manejo sanitrio em dia, a propriedade no s produz mais, mas tambm com mais qualidade.
Fonte: O Estado de So Paulo. Economia. Por Fernanda Yoneya. 17 de agosto de 2011.