por Bruno da Silva Almeida
Aps o incio da expanso da agricultura para a regio do cerrado mato-grossense, a pecuria brasileira tem ocupado, cada vez, mais uma maior rea de fronteiras agrcolas. Fato este, devido atividade requerer um baixo nvel tecnolgico, baixo investimento e obter bons lucros devido ao aumento da escala do produtor.
Atualmente, as reas de fronteiras agrcolas so ocupadas quase que em totalidade pela pecuria de corte extensiva. Portanto, se tornando a principal fonte de renda para estas regies, aps a atividade madeireira. Entre as principais “fronteiras” podemos destacar os estados do Acre, Rondnia, Par, Tocantins e norte do Mato Grosso, todas presentes no Bioma Amaznia, onde podemos encontrar facilmente precipitaes acima de 2.200 mm e relevo plano. Nas zonas de transio para o cerrado comum encontrarmos precipitaes menores, porm concentradas apenas em uma estao e um relevo com maior declividade.
Segundo VALENTIM et al. (2000), em 1994 no Acre, foi relatado o primeiro foco da sndrome da morte de Braquiria (SMB) e na mesma poca, o mesmo problema foi encontrado na Colmbia e relatado pelo CIAT, Centro Internacional de Agricultura Tropical (CIAT, 1997, citado por ZIGA PEREIRA et al., 1998). A partir desta data a sndrome comeou a ser relatada em diversas localidades da regio Norte, principalmente no estado do Par, onde o primeiro foco ocorreu em Paragominas (TEIXEIRA NETO et al., 2000) e, atualmente, o estado do Par o mais atacado.
Desde ento, trabalhos cientficos e de campo foram realizados para tentar explicar a enfermidade. No entanto, 14 anos aps os primeiros focos, ainda no h nada de concreto, apenas observaes realizadas por tcnicos, pesquisadores e produtores.
Entre as regies mais atacadas, podemos perceber algo em comum entre elas, como alta precipitao, baixas altitudes e solos encharcados. Principalmente, no estado do Acre onde na maioria dos solos ocorre presena de minerais de argila do tipo 2:1, relacionada a solos de alta fertilidade, porm baixa condutividade hidrulica, o que leva ao encharcamento do solo. Outro fator que agrava o encharcamento a ocorrncia de classes de solos com gradiente textural, ou seja, solos que possuem um maior teor de argila abaixo da superfcie, pois a gua infiltra rapidamente nas camadas mais arenosas e se acumula em camadas com maior teor de argila, solos estes chamados de Argissolos. No entanto, existe uma srie de solos que apresentam caractersticas semelhantes como: Cambissolos, Planossolos, Gleyssolos e outros. Por isto, de fundamental importncia conhecermos o solo da nossa propriedade como ferramenta de planejamento e zoneamento agrcola.
No entanto, em diversas reas de “espiges”, onde no ocorre encharcamento visvel, verifica-se a ocorrncia da sndrome. Portanto, como explicar? O que devemos verificar a ocorrncia de encharcamento em subsuperfcie. Quando o solo est saturado de gua, esta a a ocupar o lugar do ar, principalmente do O2, j que a difuso de gases, em meio liquido, severamente reduzida. Como as razes esto abaixo da superfcie e no recebem luz para produzir energia, dependem do processo de respirao dos carboidratos produzidos pela fotossntese para produzir energia para suas funes vitais, principalmente a absoro de nutrientes. Portanto, se reduzir o teor de O2, no solo, as razes perdero eficincia e morrero. Com os tecidos radiculares mortos e a baixa atividade metablica, o sistema radicular restante se torna altamente suscetvel infeco por fungos e bactrias. Dentre os principais fungos de solo podemos citar
Rhizoctonia sp,. Fusarium sp,
Pythium sp., estes sendo os principais causadores de podrides radiculares e de colo em culturas anuais. ZNICA et al. (1998), em um experimento na Costa Rica, observaram que estirpes isoladas dos fungos citados, nas reas onde ocorreram os de SMB, apresentaram patogenicidade em trs gentipos de
Brachiaria brizhanta, incluindo os cultivares Marand e Xaras e na
B. dictyoneura, sob dois nveis de gua no solo, solo saturado e em capacidade de campo. Constatou-se suscetibilidade do cultivar Marand a esses patgenos somente em ambiente encharcado e sintomas leves em capacidade de campo. No mesmo experimento, foi constatado que o cultivar Xaras apresentou maior tolerncia aos patgenos e a espcie
B. dictyoneura no foi afetada.
No entanto, existem outros fatores relacionados a esta enfermidade, dentre eles o manejo inadequado de forrageiras onde o principal erro que pode agravar a SMB o super pastejo, pois as gramneas, de modo geral, utilizam as razes como reserva energtica, assim quando cortada, os carboidratos so translocados para as folhas remanescentes e para as gemas dos perfilhos para que dem origem a novas folhas e perfilhos e o sistema radicular fica sem carboidrato e uma parte do sistema radicular morre. Este erro comum em propriedades extensivas devido ao excesso de taxa de lotao, falta de planejamento devido a estacionalidade de produo forrageira e baixa eficincia de pastejo relacionada m diviso de pastos. Outro fator a cigarrinha das pastagens, praga que ganha cada vez mais importncia na regio norte, onde seu ciclo de vida beneficiado pela alta umidade e temperatura, prejudica a “sade” e a produo da forragem na poca em que as pastagens so mais exigidas, ou seja, na estao chuvosa. Portanto, conclumos que h inter-relao entre os fatores, sendo que a ocorrncia deles influencia no aumento da severidade da morte das braquirias.
Mesmo ao longo dos 14 anos de pesquisas, os resultados obtidos ainda no chegaram em um consenso para identificar um mtodo eficiente de controle para esta enfermidade. No entanto, algumas medidas podem ser tomadas para ser evitar os prejuzos e, como mtodo preventivo, podemos citar um melhor planejamento da propriedade no momento da sua abertura, ou seja, uma prtica que deve ser abolida o chamado corte raso. Mtodo aplicado em grandes desmatamentos onde tudo derrubado at mesmo terras de brejo e seus arredores, que certamente sero encharcados na poca das chuvas. Outro ponto a se verificar o planejamento da propriedade agrcola, a qual deve ser dividida em pequenos lotes e escolher o melhor cultivar para aquela situao juntamente ao melhor manejo para cada lote da propriedade.
Para reas onde j existem os da sndrome, podemos tomar medidas que visam diminuir o prejuzo, como por exemplo, o replantio das reboleiras atacadas. Para isto, devemos adotar cultivares que apresentem boa adaptabilidade a ambientes encharcados.
Na Tabela 1, pode-se observar diferentes cultivares e diferentes graus de adaptao. Entretanto, importante salientar que o grau de adaptao descrito na Tabela 1 utilizado em situaes quando ocorre encharcamento do solo. No quer dizer que as espcies descritas so recomendadas para rea encharcadas, como por exemplo, tipo vrzeas midas e pantanal.

Para reas onde o nmero de os muito grande o replantio torna-se economicamente invivel e, neste caso, a prtica mais recomendada seria reforma total ou parcial da rea. Para isto, deve-se escolher um cultivar tolerante ao encharcamento. No caso da reforma, os custos variveis so apresentados na tabela abaixo (Tabela 2).

Como mostra a tabela 2, o custo de reforma R$707,15 por hectare. O custo com a reforma superior ao replantio. Portanto, de suma importncia que o produtor tome alguma medida logo no incio do problema, para evitar que cada vez mais a pastagem se degrade e com isto, minimizar os prejuzos.
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Bruno da Silva Almeida – graduando em Engenharia Agronmica, ESALQ-USP.

Andrea Brasil Vieira Jos - Engenheira Agrnoma e Doutora pela ESALQ-USP, Coordenadora de Projetos Boviplan Consultoria.