por Augusto C. P. Ferraz Junior
As cigarrinhas que atacam as pastagens tropicais tm se tornado uma preocupao cada vez maior entre os pecuaristas. Esses insetos podem ser divididos em dois grandes grupos: as cigarrinhas-das-pastagens, representadas, principalmente, pela
Deois flavopicta e pela
Zulia entreriana; e as cigarrinhas-das-razes, representadas pela
Mahanarva spp. Porm, atualmente, todas elas atacam a pastagem e a cana-de-acar.
A ocorrncia dessas cigarrinhas se d no incio da poca chuvosa, quando as condies so ideais para a sua ecloso. O ciclo de vida das cigarrinhas pode variar de acordo com cada espcie, porm dura em mdia 53 dias, onde as fases so: 15 dias no ovo, 35 dias na fase de ninfa e 3 dias para acasalamento e ovoposio, sendo que a longevidade dos adultos pode chegar a 10 dias.
Os insetos adultos causam os maiores danos para a planta por injetarem toxinas nas folhas ao se alimentarem de sua seiva. Essa toxina pode afetar a planta de dois modos: coagulando entre os tecidos e atrapalhando o transporte de seiva, ou se espalhando pela folha causando a morte dos tecidos. Em ambos os casos, a folha comea a necrosar a partir das pontas, se espalhando por toda a rea e, posteriormente, ocorre o enrolamento das folhas. A ninfa, que se estabelece na parte basal da planta, causa danos pouco expressivos, exceto no caso da
Mahanarva spp. , cuja ninfa mais agressiva e causa danos ao se alimentar, principalmente, atravs do xilema, reduzindo o aporte de gua e nutrientes.
O controle utilizando forrageiras resistentes indicado como medida preventiva ao ataque de cigarrinhas. Dentro desse grupo de plantas, esto as tolerantes, que sofrem menor dano aps um ataque de cigarrinhas como, por exemplo, a
Brachiaria humidcola. Porm, esta pode ser prejudicada se houver algum outro fator, contribuindo para o baixo desenvolvimento da planta. Outro grupo o das plantas resistentes, que possuem mecanismo de antibiose, ainda com modo de ao desconhecido. Esse mecanismo faz com que o inseto no sobreviva ou tenha seu desenvolvimento afetado ao se alimentar da planta. O maior exemplo desse grupo a
Brachiaria brizantha.
Na regio Centro-Norte do Brasil, a
B. brizantha tem sido muito plantada justamente devido ao ataque de cigarrinhas nas forrageiras existentes, e j existem relatos de espcies de
B. brizantha cv. Marandu que so resistentes
Mahanarva spp. A populao de cigarrinhas prejudicadas pela
B. brizantha est reduzindo, enquanto que a de
Mahanarva est aumentado sem competio. Fazendo crescer, assim, os danos provocados pelo ataque. Alm deste possvel descontrole populacional das cigarrinhas, a
B. brizantha possui grande capacidade de produo de forragem e esta grande produo, se mal manejada, acaba produzindo grande quantidade de material senescente na superfcie do solo, formando um micro clima ideal para o desenvolvimento das ninfas. Alguns trabalhos j relacionaram lotao da pastagem (UA/ha) ao nvel de infestao de ninfas, como mostra a tabela baixo.

Alm das medidas preventivas de controle, tambm pode ser feito o uso de produtos qumicos na rea infestada, sendo necessria a retirada dos animais por um tempo pr-determinado pelo fabricante. Dentre os inseticidas registrados para uso em pastagem o
Thiamethoxam o mais indicado, apresentando eficincia de controle de aproximadamente 94% de ninfas e 98% de controle dos insetos adultos (Congio, 2007). Esse produto transportado, com baixa eficincia, dentro da planta principalmente pelo xilema, atingindo tanto as ninfas quanto os insetos adultos. Outra vantagem o efeito residual do inseticida, encontrado nas folhas, colmos e razes, que permanece exercendo controle at aproximadamente 60 dias aps a aplicao. O grande problema no uso de inseticida est relacionado sua baixa translocao no interior da planta, sendo ento necessria sua aplicao na parte basal, o que fica comprometido pelo “efeito guarda-chuva” causado pela pastagem.
O uso do controle biolgico por meio do fungo
Metarhizium anisopliae o recurso mais utilizado por produtores que se encontram em situao de ataque de cigarrinhas, levados pela promessa de permanncia do fungo na rea, fazendo o controle dos insetos de forma integral. Porm, o que se v um controle muito discutido, pois apresenta resultados controversos. A dose encontrada que poder atingir at 60% de controle das cigarrinhas, de 5,0 x 1012 a 1,0 x 1013condeos/ha (Dinardo-Miranda, 2003). Para alcanar um bom controle, as amostragens de campo devem comear logo no incio das chuvas, utilizando um quadrado de ferro de 50 x 50 cm, jogando-o 4 vezes para achar a quantidade de ninfas/m2. O nvel de dano econmico causado pela cigarrinha est em torno de 10 ninfas/m2, e o nvel de controle, ponto em que o produtor dever aplicar o fungo na rea, de 2,5 a 5 ninfas/m2.
Os custos relacionados ao controle de cigarrinhas, comparando os preos dos produtos e a eficincia de controle de cada um, esto relacionados nas tabelas abaixo.

A divergncia de resultados pode se dar pela diversidade de gneros de cigarrinhas existentes tratadas ainda como grupos homogneos, alm da qualidade do produto aplicado e da capacidade da fazenda de fazer uma boa aplicao na rea atacada. Alm da utilizao do fungo, novos inimigos naturais da cigarrinha esto sendo estudados, porm ainda no tiveram sua eficcia comprovada e no se encontram disponveis no comrcio para utilizao. Dentre esses novos inimigos, esto a vespa
Anagrus urichi, que parasita os ovos da cigarrinha, a mosca
Salpingogaster nigra, que parasita a ninfa, e o
Porasilos barbrellinii, predador das cigarrinhas adultas.
Por fim, o controle das cigarrinhas das pastagens deve ser encarado pelos produtores como uma prtica essencial dentro da propriedade, a fim de evitar um aumento descontrolado dessa praga, o que resultar em reduo da produo de forragem, alm de acelerar o quadro de degradao das pastagens e, conseqentemente, menor produo animal por rea e reduo da lucratividade da fazenda.
Referncia
CONGIO, S.F.G., Avaliao da eficincia de diferentes doses de
Thiamethoxam no controle de cigarrinhas do gnero
Mahanarva em pastagens de
Brachiaria brizantha cv. Marandu. Simpsio Nacional de Iniciao Cientfica, Piracicaba, 2007.
DINARDO-MIRANDA, L.L., Cigarrinha-das-razes em cana-de-acar. Campinas, 2003.
MENDONA, F. A., Cigarrinhas da cana-de-acar. Macei, 2005.
GARCIA, J.F., Bioecologia e manejo da cigarrinha-das-razes,
Mahanarva fimbriolata (Stal),1851) (Hemmiptera:Cercopidae), em cana-de-acar. Piracicaba, 2006.

Augusto C. P. Ferraz Junior – graduando em Engenharia Agronmica, ESALQ-USP.

Andrea Brasil Vieira Jos - Engenheira Agrnoma e Doutora pela ESALQ-USP, Coordenadora de Projetos Boviplan Consultoria.
http://www.boviplan.com.br