Podemos comparar a economia a uma gangorra: se estiver indo para cima e para baixo “divertido”, mas se estiver parada no tem graa. O “efeito gangorra” o que acontece com emprstimo de dinheiro e promissrias, onde as transaes envolvendo estes dois fatores geram o chamado CRDITO.
A compra de uma casa um bom um exemplo. Casas so caras, por isso os compradores acabam por pagar mais do que emprestam, devido cobrana de juros atravs de mensalidades ou promissrias.
Ao emprestar dinheiro, os bancos pedem algo em troca como garantia de pagamento, geralmente um imvel ou bem, fazendo surgir as famosas HIPOTECAS, que tanto se tem ouvido falar desde os rumores da crise imobiliria Norte Americana.
A casa comprada na realidade do banco e o comprador s a realmente a ser “o dono” quando quitar as dvidas. At que isto acontea, todo ms ele tem que pagar uma parcela de sua dvida. Como existem os juros nesta jogada, os bancos coletam mais dinheiro do que eles emprestaram no comeo. Lucro para eles.
Os investimentos funcionam mais ou menos da mesma forma. As empresas precisam de um capital inicial para comear sua atividade, manter ou aumentar investimentos. a que o banco vende as promissrias, liberando o crdito para as empresas.
Para essas duas vias de crdito, existem dois tipos de banco: os bancos comerciais, que
emprestam dinheiro por promissrias, e os bancos de investimentos, que
vendem promissrias por dinheiro.
Nos Estados Unidos existia uma lei formulada pelo governo depois da Grande Depresso em 1929, que estipulava que essas linhas de crdito deveriam ser independentes. Em 1999, a chamada lei do "Servio Financeiro para um Ato Moderno" eliminou essa regra e agora as instituies financeiras podem trabalhar com as duas linhas de crditos.
A vem a questo: como os bancos imaginavam que todo mundo poderia pagar o que havia emprestado por meio de promissrias, aram a querer ajudar tambm as pessoas com menor poder aquisitivo, atravs das chamadas linhas de crdito
subprime. Para que isso fosse possvel os valores iniciais do investimento foram reduzidos.
Assim as camadas mais pobres da populao tambm aram a utilizar os financiamentos para compra de imveis. O “porm” desta histria que a relao de compra X construo de casas foi desproporcional, ou seja, havia mais pessoas querendo comprar do que casas que poderiam ser construdas. Seguindo a lei da oferta e da procura, os preos dos imveis decolaram.
Nesta situao, os bancos que aram a acumular um maior montante de promissrias, comearam a re-las para os investidores que achavam que com a alta das casas poder-se-ia ganhar muito dinheiro no futuro.
Mas este sistema dependia do PAGAMENTO das promissrias, o que no estava ocorrendo.
Com isso, as taxas de juros das mensalidades subiram para compensar os “calotes” e elevaram mais ainda as mensalidades. Resultado: mais compradores no conseguiam pagar seus emprstimos.
Com o no pagamento das promissrias os moradores tiveram que abandonar seus imveis, sobrando casas no mercado e derrubando os preos das mesmas.
Alm disso, como a garantia do pagamento (hipoteca) era a prpria casa financiada, os bancos absorveram toda a perda do valor do imvel. Para se ter uma idia, uma casa que h 10 anos valia US$400 mil agora a a valer a metade resultando em um prejuzo de US$200 mil para o banco.
Foi esta a onda que afetou o setor de investimentos. Como os bancos dispunham de um menor nmero de promissrias para serem negociadas, tiveram que emprestar seu prprio dinheiro para investidores. A fonte minguou e os bancos foram obrigados a fechar as portas.
O governo americano est com um plano de US$700 bilhes para ajudar os "donos de casa", bancos e investidores, mas ainda no decidiu quanto cada parte ir receber.
Pela sua experincia com produtores na Califrnia quais efeitos a crise financeira no pas tem gerado no setor agropecurio?
Os produtores em geral esto se esforando para terminar este ano com uma boa liquidez e comear o prximo ano, pelo menos, sem dvidas.
Ns estamos sugerindo aos produtores que adquiram emprstimos a longo prazo e a juros fixos, mesmo que esta opo gere taxas mais altas que os emprstimos a curto prazo, pois assim o produtor poder ter um melhor controle de seus gastos.
Alm disso, os produtores devem pensar em comear a juntar foras, atravs de cooperativas ou alianas, as quais podero aumentar seus poderes de compras e ainda diluir custos e riscos de manejo.
Eu acredito que agora uma boa oportunidade para fazerem das suas produes as mais eficientes possveis. H de se lembrar que a
mxima produo no a mesma coisa que mximo lucro!
O programa Agncia de Servio Fazenda (
Farm Service Agency) esta oferecendo certeza em emprstimos para produtores. Isso est sendo feito para balancear a falta de crdito e confiana dos bancos.
Outro fator que esta atingindo o setor agrcola a mudana do hbito alimentar americano, ocasionado pelo alto custo dos alimentos e da gasolina. O americano est acostumado a comer fora de casa, mas com a alta dos preos, este hbito est reduzindo. E isso afeta diretamente o lucro dos restaurantes que diminuem a compra de alimentos do atacado, que reduz as compras de carne e gros dos produtores, que por sua vez, vo reduzir a produo. E o ciclo pode continuar se os preos continuarem a subir.
No setor da carne, a alta dos preos causou um grande impacto no consumo deste alimento. A carne bovina uma das mais caras (R$24,5/kg) no setor e os consumidores, optam por carnes mais baratas, como frango e suno. O mesmo efeito em cadeia explicado acima pode se aplicar ao setor produtivo de carne bovina: os produtores esto reduzindo suas margens de lucro cada vez mais. Ns acreditamos que as Alianas Mercadolgicas so uma boa soluo para integrar o sistema de produo e agregar valor ao produto final.
Como a crise pode afetar os pases em desenvolvimento em um futuro prximo?
Podemos reformular essa pergunta como: "A crise pode gerar fome no mundo?". E a resposta “sim”.
Durante uma reunio em Roma no dia 15 de outubro de 2008, Jacques Diouf, diretor geral da FAO (Organizao das Naes Unidas para a Agricultura e Alimentao) chamou a ateno dos pases desenvolvidos para que NO parem de financiar as naes em desenvolvimento, evitando um protecionismo fatal para o agravamento da crise mundial.
Diouf, na ocasio disse "A maior incerteza no comrcio internacional atual a ameaa que a crise possa causar nos pases, que podem adotar um comportamento protecionista agravando a recesso mundial."
Diouf disse tambm que a crise econmica combinada com os preos dos gros resultou em um adicional de 75 milhes de pessoas com fome e pobreza em 2007. Ele comentou que uma "crise de comida" esta por vir independente do recorde atingido pela colheita de cereais deste ano nos Estados Unidos (aumento de 4,9%).
Alm disso, os preos das
commodities esto caindo em ritmo lento. Este movimento pode estar sendo provocado por projees de altas colheitas nos prximos anos, mas tambm pelo "esfriamento" da economia aliado a outros fatores.
Um exemplo de um pas que est sentindo os impactos da crise financeira mundial a Austrlia que, mesmo sendo desenvolvido, comea a ter dificuldades na exportao das carnes bovina e ovina, especialmente dos cortes de maior valor agregado para os Estado Unidos e Japo, os dois maiores mercados daquele pas para estes produtos. Como reflexo disto, o preo da carne australiana no mercado interno comea a cair, podendo afetar em um futuro prximo a lucratividade dos produtores.
Quais outros setores na agricultura podem ser afetados pela crise?
Um exemplo bem interessante a de venda de tratores agrcolas, pois as mesmas empresas que produzem tratores e implementos para a agricultura tambm produzem equipamentos para construo urbana, setor em que comeou a crise.
Empresas como
Deere & Co, CNH e Agco esto perdendo investidores e suas aes j caram cerca de 65% nos ltimos seis meses.
Terry Darling, analista da
Goldman Sachs acha que o bom desempenho atual "insustentvel", porque "o enfraquecimento no preo das
commodities agrcolas deve reduzir a renda dos produtores", o que desestimularia a compra de novos tratores e colheitadeiras, que chegam a custar mais de US$300 mil.
Mesmo sendo lgico, importante lembrar que a compra de implementos agrcolas feita por produtores e no consumidores. E isso implica que a compra de tratores est relacionada com a lucratividade do produtor.
Para finalizar, as tendncias para 2009 so pessimistas. Com a queda de 49,5% no preo do milho comparado a junho deste ano, de 46,9% nas cotaes da soja comparadas a julho e 29% no trigo no mercado futuro para os ltimos cinco meses, as empresas esto prevendo uma reduo na venda de implementos agrcolas.
A empresa
J.P. Morgan, por exemplo, j esta prevendo que para 2009 somente produtores com terra prpria venham a ter lucros.
Como a bovinocultura de corte esta respondendo aos efeitos da crise e a alta nos preos das commoditties?
Antes de responder esta pergunta, gostaria de situar o leitor para a situao agrcola atual.
Os principais determinantes de preos das
commodities so os fatores que afetam a produo e a competio pelo produto entre homem e animal. O secretario da Agricultura Norte Americana anunciou na reunio mundial de preos dos alimentos que com o crescimento no equilibrado da populao mundial, a produo mundial de alimentos ter que dobrar at 2050. Em resposta a esse comentrio o presidente e diretor chefe executivo da Bunge Norte Americana disse “Eu me sinto confiante e tranqilo sobre a nossa habilidade em dobrar a produo de alimentos. Mas a maneira como faremos isso e quanto suavemente ela poder ocorrer, outra questo.”
Atualmente nos Estados Unidos, o milho a
commodity que est ditando o preo dos alimentos, pois 30% da sua produo total vem sendo destinada produo de etanol. E esta porcentagem tende a aumentar para os prximos anos.
Com o investimento do governo para a produo de etanol, as reas produtoras de soja, trigo e outros gros esto se transformando em lavouras de milho, o que resulta numa falta de alimentos tanto para consumo humano quanto para o animal. Este dficit de alimentos aumenta o custo para produo animal e eleva o preo dos alimentos para os consumidores. A associao de produtores de etanol relatou que desde 2000 pra c a produo de milho aumentou 2,7
bushel/acre, mas a demanda de etanol aumentou em 5,7
bushel/acre.
Baseado nos dados publicados pelos confinadores para o ms de setembro, o peso vivo mdio de entrada de novilhos em confinamento foi de 337,5kg e peso vivo final foi de 587,3kg. O tempo mdio de confinamento foi de 166 dias, com um ganho mdio dirio de 1,5kg e custo de engorda de US$2,17/kg.
Para novilhas os resultados observados foram pesos mdios de entrada de 295,7 kg, peso final de 519,3 kg, ganho dirio de 1,33kg/d, tempo mdio confinado de 168 dias, com um custo de US$2,26/kg engordado. Confinadores estimaram uma perda de US$30,00 a US$40,00 por cabea. H um ano as estimativas eram positivas e esperava-se que o lucro ficasse entre US$10,00 a US$20,00 por cabea. O custo mdio da tonelada da dieta na matria seca era estimado em US$280,00 e US$300,00.
Agora que o leitor est situado nas condies atuais, vou responder a sua pergunta. Eu acredito que com a alta do preo do milho devido a uma elevada demanda para a produo de etanol, os produtores comeam a perceber que podero obter lucro (ou pelo menos reduzir as perdas), deixando seus animais por um perodo mais longo no pasto e colocando-os no confinamento com pesos mais elevados.
Dave Latta, gerente da
Pratt Feeders-LLC, possui um confinamento localizado no estado de Kansas e fez o seguinte comentrio: “o ganho de um quilo dirio est causando um aumento no custo de produo, ao invs de baratear (diluir o custo), como acontece normalmente.” Esta inverso no custo de ganho tem sido a razo principal para iniciar animais mais pesados em confinamento.
Durante o congresso de confinadores (
Beef Feedlot Conference), o professor Ron Plain da Universidade de Missouri comentou que “A alta do petrleo causou a alta nos combustveis que, por conseqncia, elevou as cotaes do etanol e do milho” e completou afirmando que “A cada US$0,10 no aumento no preo do milho, h uma desvalorizao de US$6,00 a US$9,00 no valor do animal confinado”. Isso significa que quanto mais caro o milho, h reduo nos interesses dos confinadores em comprar animais leves, pois gastariam mais para engord-los.
Por outro lado, os consumidores americanos e alguns dos importadores de carne bovina dos Estados Unidos, apreciam a maciez e o sabor da carne do animal alimentado com alto gro, tradicionalmente confinados por 120-180 dias. A entrada de animais mais pesados no confinamento significa que estes permaneceram por mais tempo em pastagem, esta mudana em dieta modifica a composio corporal e propriedades qualitativas da carne desses animais.
Segundo dados apresentados na mesma conferncia, animais confinados por menos de 100 dias podem ter diminuio no rendimento de carcaa, reduo no marmoreio, gordura amarela (principalmente pela maior ingesto de pastagens), mudana no gosto e maciez da carne, alm de uma menor produtividade por animal.
No entanto, na atual circunstncia, mesmo com estes potenciais efeitos negativos a reduo no custo de produo ainda fala mais alto. Por isso, a palavra de ordem do momento que os animais sejam confinados por pelo menos 60-70 dias, mesmo com os possveis efeitos negativos.
Para finalizar, posso resumir a atual situao em uma frase:
“A agricultura Norte Americana esta fornecendo combustvel para uma populao mundial faminta.”
O que voc recomenda para os leitores interessados nesta rea?
Para o leitor interessado nesta rea eu sugiro a participao no “II Simpsio Internacional de Nutrio de Ruminantes” o qual ser realizado nos dias 24 e 25 de Abril de 2009, em Botucatu/SP. O simpsio esta sendo organizado pelo NUTRIR (Grupo de Nutrio de Ruminantes), e tem o objetivo de informar estudantes, professores, pesquisadores e produtores sobre a situao atual nos confinamentos brasileiros e norte americanos. Para maiores informaes e:
www.gruponutrir.com.br .

Gustavo Cruz - Zootecnista formado em 2005 na UNESP-Botucatu. Membro fundador do Grupo NUTRIR. Mestre em Cincia animal pela Universidade da Califrnia-Davis.