A retratao da demanda por carne nos grandes pases consumidores j se traduz na sensvel diminuio das margens e da produo pecuria. Desde novembro, a produo da Europa caiu em torno de 6% e nos Estados Unidos 5%. Em ambos importantes centros consumidores, os preos aos produtores ainda no atingiram seus nveis mais baixos. A situao alarmante, sobretudo nos EUA, com o considervel declnio das vendas internas e das exportaes sia. Assim como em outros setores, os reflexos no mercado de carne revelam-se primeiro nos segmentos mais elevados e gradualmente atingem os mais baixos.
Em geral, a Argentina, Uruguai e Brasil representam papel fundamental em atender demanda orientada no qualidade, mas ao preo. Caracterizam-se tambm por destinar-se ao segmento base para o mercado internacional, sobretudo o segmento de maior participao em volume. Veja na figura 1, que evidencia os fornecedores do mercado europeu.

A segmentao da figura pode ser tambm interpretada com referncia aos custos de produo, e a representatividade relativa de cada segmento em relao ao volume total do mundo.
Desta forma, fica evidente que nos segmentos de base, o Brasil est menos suscetvel a perder mercado concorrncia, pois muito competitivo em preo. Alm disso, conta com maior capacidade produtiva para atender principalmente a demanda por cortes nobres.
Na agricultura, a regra a mesma. O colapso da colheita argentina, reflexo da estiagem e a reduo projetada na rea plantada de soja nos EUA, alm dos baixos estoques internacionais, coloca o Brasil em situao privilegiada. Com tais fundamentos, a China reagiu a queda de preos desde outubro ado e reforou seus estoques de segurana para os prximos perodos com soja importada. A oleoaginosa um dos poucos produtos agrcolas em que a China no auto-suficiente. A atual cotao de soja entre USD9-10/
bushel sustentada em grande parte pelas compras daquele que o maior importador do planeta.
Alguns argumentam que o pior j ou, muitos no. O rpido detrimento do mercado financeiro antecipa-se aos efeitos colaterais da economia real, que so graduais e mais tardios. A maior parte da produo brasileira agrcola local destinada ao mercado interno, o qual dificilmente ir crescer nos prximos perodos.
A capacidade instalada de abate de bovinos e ampla disponibilidade de matria-prima fortalece a competitividade brasileira no mercado internacional, de forma a preencher os vcuos deixados pelos menos eficientes como EUA e Europa em segmentos orientados a preo.
Alm da sorte (como na soja), a carne bovina depender, portanto, de maiores esforos de vendas ao exterior para ao menos manter o volume exportado em 2008. A habilitao para mercados perdidos, a realizao de acordos bilaterais e a entrada em novos pases importadores sero cruciais no ano de 2009.
Entre todas as incertezas do atual cenrio internacional, a nica certeza o um lento processo de seleo natural, onde vo prevalecer os mais eficientes em termos de produo, criatividade em
marketing e agilidade a adaptar-se ao novo contexto.
Aparte a questo comercial, restam os famosos entraves de cadastramento de fazendas, SISBOV e controle sanitrio, que fecham o ciclo vicioso das importaes brasileiras e certamente no sero solucionados por sorte ou acaso de condies de mercado. O tempo est custando caro...

Leonardo Prandini - de empresas pela FAAP, mestre em
Agribusiness Management pena SAK-UK e atualmente trabalha com
trading de
commodities agrcolas na Holanda.