Em recente artigo publicado pelo Prof. Sebastio Pinheiro Gomes, baseado em pesquisa sobre a atividade leiteira realizada em Minas Gerais, ficou demonstrado a crescente reduo da participao de pequenos produtores na produo total de leite naquele Estado.
Este quadro, em maior ou menor escala, ocorre tambm em outros Estados. Isto conseqncia do novo perfil assumido pelo agronegcio leite no Brasil, que consistentemente est se voltando para o mercado externo como estratgia fundamental, considerando a abertura de mercados externos e que o acentuado crescimento da produo verificado nos ltimos anos no vem sendo acompanhado na mesma proporo pelo aumento do consumo interno. Dentro desta lgica, a permanncia de produtores na atividade ser balizada pela escala de produo e pela qualidade do leite.
Mas a excluso sumria de produtores no deve ser encarada como fato natural e irreversvel diante das novas tendncias do agronegcio leite. Neste Pas de desempregados e sem-renda, engrossar o quadro dos excludos socialmente indesejvel e perigoso. No se trata de querer a qualquer custo viabilizar o invivel. Basta um pouco de reflexo para visualizarmos estratgias que permitam a viabilidade econmica das pequenas unidades de produo na atividade leiteira.
PEQUENOS PROPRIETRIOS SO PEQUENOS PRODUTORES?
Em primeiro lugar necessrio que uniformizemos alguns conceitos. A expresso - “a produo de leite uma atividade tpica do pequeno produtor”, obviamente est superada. Mas, a meu juzo, a produo de leite continuar sendo uma atividade tpica dos pequenos proprietrios. Confunde-se pequena propriedade com pequena produo, o que nem sempre correto.
Recentemente a revista Balde Branco publicou uma reportagem referente a um produtor gacho, proprietrio de uma rea de 22 ha, e dentro dessa pequena propriedade produz 3000 litros de leite por dia. Exemplo tpico de pequeno proprietrio e grande produtor.
No Rio Grande do Sul, todas as bacias leiteiras importantes esto localizadas em regies coloniais, onde o tamanho mdio das propriedades no ultraa 20 ha, e a produo e venda de leite vm se constituindo, nos ltimos 4 anos, na principal atividade econmica do setor primrio dessas regies.
A atividade leiteira se ajusta muito bem s pequenas propriedades geridas pelas famlias, por duas razes principais: ocupa de forma intensiva o nico fator de produo abundante nessas empresas – a mo-de-obra familiar; por ser uma atividade intensiva, exige diariamente, e ao longo do ano, ateno e dedicao especiais, providncias estas que no so alcanadas com facilidade quando se entrega a istrao da leiteria a terceiros (empregados).
A chegada de trs grandes indstrias de laticnios, que vem somar-se a outras j em operao na regio noroeste do RS, onde ocorre a predominncia absoluta das pequenas propriedades, um forte indicativo do enorme potencial produtivo da regio colonial. claro que para ajustar-se s exigncias do agronegcio leite imperioso que os pequenos proprietrios se profissionalizem, a fim de que possam produzir com baixos custos e maximizar a utilizao dos recursos produtivos.
Cabe aos rgos pblicos e instituies privadas (sindicatos, cooperativas) acelerar o processo de incorporao de tecnologia pelas pequenas unidades de produo, bem como as instituies de pesquisa analisar ou buscar sistemas de produo sustentveis, capazes de viabilizar a atividade leiteira nas pequenas propriedades.
Tambm as prticas de associativismo (pequenas cooperativas de produo, associao de produtores) podem se constituir em importante instrumento capaz de aumentar o potencial de investimentos, diluir custos e melhorar o poder de barganha dos pequenos produtores. No recomendvel a aceitao tcita de que a excluso sumria dos pequenos proprietrios um fato consumado e irreversvel.