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A banalizao do ensino superior 73143
por Otaliz
30/01/2007 - 19:25
Pasme! Se voc quiser se graduar em istrao de Empresas, freqentando aulas apenas uma noite por semana, durante um perodo de pouco mais de dois anos, basta candidatar-se. E o vestibular?! Ah... uma simples prova de redao ser o suficiente. Concludo o curso neste curto espao de tempo, voc receber o diploma devidamente aprovado pelo MEC (Ministrio da Educao).
Pronto! Voc est apto para engrossar a fila dos desempregados ou subempregados ou, quem sabe, concorrer no mercado de trabalho com outros profissionais que “ralaram” durante quatro ou cinco anos em bancos universitrios para obterem a mesma graduao. Claro... nesse momento, os donos dos cursos “caa-nqueis” estaro “nem a” para voc.
Este exemplo se reproduz aos milhares neste pas, abrangendo diferentes cursos de nvel universitrio. A criao desmesurada de universidades particulares estabeleceu um clima de competio acirrada entre elas. Afinal, essas universidades precisam sobreviver economicamente e para isso necessitam de alunos pagantes. Como a oferta de vagas do conjunto dessas universidades maior do que o nmero de candidatos em determinadas regies, estabelece-se uma disputa feroz por vestibulandos.
Estratgia – oferecer “vantagens” especiais tais como vestibular de “mentirinha”, cursos suaves, sem maiores exigncias quanto freqncia e desempenho do aluno e mensalidades mais baratas.
Resultado – anualmente essas universidades despejam no mercado um enorme contingente de jovens despreparados tecnicamente para enfrentar os desafios impostos pelas comunidades ou empresas carentes de informaes e de tecnologias.
Para sobreviver em termos econmicos essas instituies necessitam reduzir drasticamente os seus custos operacionais. Por a se explica a preferncia pela contratao de professores hora-aula, ou seja, profissionais que fazem “bico” nas faculdades, sem um comprometimento mais profundo com a instituio e seus objetivos. Isso faz com que essas universidades fiquem fechadas em si mesmas, limitando-se apenas a formar alunos e sem nenhuma influncia no meio onde atuam. Ora, como no interagem com o ambiente, ignoram suas carncias tecnolgicas, bem como o tipo ou perfil do tcnico a ser formado para atender essas demandas.
Mas por que as pessoas procuram esses cursos de terceira categoria, pagos e de eficincia duvidosa? Bem, aqui, por paradoxal que possa parecer, existe uma lgica. Egressos de um ensino bsico e fundamental absolutamente deficientes (vide provas do ENEM – Exame Nacional de Ensino Mdio), um enorme contingente de jovens opta por essas faculdades porque, diante da grande concorrncia, no se sente preparado para enfrentar vestibulares de universidades federais.
Fecha-se assim um crculo vicioso – jovens despreparados obtm ttulos de graduao em faculdades pfias e, ainda despreparados, vo enfrentar um mercado de trabalho cada vez mais competitivo. Conseqncia – frustrao do tcnico recm formado ou de quem contrata seus servios.
Na rea de cincias rurais o problema no apenas se repete, como se avoluma. No momento em que o mercado mundial de alimentos se abre para o Brasil e em que precisamos potencializar nossa produo em termos de quantidade e qualidade, aproveitando as nossas enormes vantagens comparativas no que se refere a clima, solo e extenso de reas cultivveis, nos deparamos com um vcuo entre a gerao de tecnologia e a sua aplicao prtica no campo.
Tecnologia existe, mas a sua transferncia para o campo muito deficiente. Uma questo de assistncia tcnica profundamente alineada da real necessidade do campo.
Voltarei a este tema.
Otaliz de Vargas Montardo mdico veterinrio e instrutor do Senar – RS