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Ainda sobre a banalizao do ensino superior 136s6x

por Otaliz
28/02/2007 - 16:36
No momento em que o mercado mundial de alimentos se abre para o Brasil e em que precisamos potencializar nossa produo em termos de quantidade e qualidade, aproveitando as nossas enormes vantagens comparativas no que se refere a clima, solo e extenso de reas cultivveis, nos deparamos com um vcuo entre a gerao de tecnologia e a sua aplicao prtica no campo. Tecnologia existe, mas a sua transferncia para o campo muito deficiente. Assim conclu o artigo na edio anterior deste informativo, prometendo voltar ao tema. De fato, a relao entre a pesquisa e a extenso rural muito frgil neste Pas. Em boa parte a causa desta fragilidade se deve a deficincias na formao de tcnicos nas reas das cincias rurais. Esses tcnicos partem para o campo sem uma bagagem slida de conhecimentos que propicie uma interveno ampla, contemplando todos os fatores do processo produtivo e vendo na propriedade rural uma empresa que precisa ser gerida no seu todo. Isto vale para grande parte das faculdades que formam tcnicos nas reas de agronomia, zootecnia e veterinria. Como mdico-veterinrio, com 35 anos de experincia no campo, sinto-me vontade para discorrer sobre a formao e atuao deste tipo de profissional. Parece-me que os cursos de medicina veterinria padecem de um vcio de origem, qual seja, o de buscar uma semelhana com a medicina humana. Trata-se de um equvoco, posto que o mdico trata da sade de pessoas, e a vida destas no tem preo, enquanto o veterinrio tem que, antes de tudo, considerar a questo econmica, isto , a relao custo/benefcio da sua atuao. No entanto, de uma maneira geral, os cursos de medicina veterinria do nfase especial para as cadeiras ligadas s enfermidades, reservando para estas uma carga horria muito superior a das matrias diretamente ligadas a produo animal. No estou, de nenhuma forma, minimizando a importncia de cadeiras como clnica, cirurgia e profilaxia, mas sim acentuando que no menos importantes que essas so as cadeiras de zootecnia, reproduo, melhoramento gentico, alimentao, planejamento e economia rural. Este desequilbrio durante o processo de formao profissional, faz com que, de uma forma geral, o veterinrio ao atender uma propriedade rural, centralize sua ateno basicamente nas questes sanitrias. claro que a sanidade do rebanho uma questo importante, mas com certeza no a nica a ser contemplada pela assistncia tcnica. Na propriedade leiteira, por exemplo, to ou mais relevante que a eventual ocorrncia de doenas, o fraco desempenho produtivo do rebanho, em funo de falhas na alimentao, reproduo, na seleo e no manejo. Este problema no de ocorrncia eventual, mas pelo contrrio, constante ao longo do ano e vai minando de forma insidiosa a viabilidade econmica da atividade. Por isso deveria receber uma ateno especial do mdico-veterinrio, o que nem sempre ocorre na intensidade necessria. Talvez por a se explique o fato de ser insignificante o nmero de produtores leiteiros dispostos a pagar uma assessoria tcnica efetiva e contnua. A atuao dos outros profissionais das reas de cincias rurais (agronomia e zootecnia) no difere em muito do que foi acima exposto. Normalmente limitam-se a orientaes espordicas, focalizando questes pontuais nas poucas e rpidas visitas para assistir aos produtores. imprescindvel que as faculdades de cincias rurais mantenham um estreito vnculo com o meio rural, a fim de conhecer as verdadeiras demandas tecnolgicas do setor produtivo e formar tcnicos com o perfil adequado para atender essas demandas, com profundos conhecimentos sobre as tendncias do agronegcio brasileiro e, portanto, capazes de solucionar problemas e ajudar o empresrio rural na busca constante da eficincia produtiva.
Otaliz de Vargas Montardo mdico veterinrio e instrutor do Senar – RS