Um bom sistema de pastejo consiste na combinao harmnica dos elementos que compem este sistema: planta, animal, solo e outros componentes ambientais, como chuva e temperatura, que iro garantir o suprimento dos animais ali alocados e a permanncia da forragem em bons patamares produtivos.
Cabe a ns, gestores do sistema, manej-lo de maneira a atender essas duas premissas, garantindo o suprimento ao animal e mantendo a forragem com alta capacidade produtiva, evitando assim que o sistema entre em colapso, que no caso, resulta em baixa produtividade e degradao das pastagens.
FREQNCIA DE PASTEJO E PERODO DE DESCANSO
Dois fatores so determinantes na definio do sistema de pastejo: a freqncia de pastejo, que determinada pelo perodo de ocupao e perodo de descanso, e a intensidade de uso, que determinada pela presso de pastejo.
As diferentes combinaes desses dois fatores definem o sistema de pastejo, que entre outros podem ser classificados como: contnuo (com carga fixa ou variada), diferido ou rotacionado.
Vrias pesquisas j foram feitas no sentido de comparar os vrios sistemas existentes na busca de se definir qual deles seria o mais recomendado. Os resultados so os mais variados e controversos.
Observa-se que em sistemas muito intensivos, como o pastejo rotacionado com baixo perodo de ocupao, h um maior ganho por rea e um menor ganho por animal, ao contrrio dos sistemas menos intensivos onde os animais individualmente tm ganhos maiores, porm em decorrncia de uma menor taxa de lotao verifica-se ganhos menores por rea.
O que pode ser notado nesses estudos que, para qualquer sistema a ser adotado o importante equilibrar a oferta de forragem com a quantidade de animais a serem alimentados.
Desse ponto de vista, o pastejo rotacionado confere maior possibilidade de interveno do homem: diminuio da seletividade do material consumido pelos animais em funo da diminuio da rea de pastejo, pastejo uniforme de toda rea, respeito ao perodo de descanso exigido pela forrageira utilizada, menor deslocamento dos animais em busca do alimento e, conseqentemente, menor gasto de energia.
CONHECENDO A ESPCIE FORRAGEIRA
Antes de iniciar a implantao de um sistema rotacionado preciso conhecer a espcie forrageira a ser utilizada.
Nesse momento importante identificar: o perodo de descanso exigido pela planta, para definir ento o perodo de descanso dos piquetes; qual a altura dos meristemas da planta (pontos de rebrota), para ento definir a altura de pastejo e resduo ps-pastejo; quais as exigncias nutricionais da planta, para definir ento o plano de adubao.
DIMENSIONANDO O SISTEMA
Tomemos como exemplo uma rea de 20 ha de pastagem da espcie Panicum maximum cv. Mombaa, a ser divida em piquetes para implantao de um sistema de pastejo rotacionado.
Para o capim Mombaa, o perodo de descanso recomendado de 27 dias. Devemos definir tambm neste momento o perodo de ocupao de cada piquete. Nessa hora devemos levar em considerao que quanto mais intensivo o nvel de explorao a ser adotado, menor o perodo de ocupao de cada piquete, maior a necessidade de nmero de piquetes e, conseqentemente, maior o investimento com infra-estrutura, principalmente cercas.
Recomenda-se perodos de ocupao inferiores a 2 dias somente em reas pequenas e com alto nvel de adubao de reposio, principalmente nitrogenada. Para os clculos do nosso exemplo adotaremos um perodo de ocupao de 3 dias.
Conhecendo o perodo de descanso exigido pela forrageira e o perodo de ocupao de cada piquete, definimos a quantidade de piquetes a serem construdos. Esse nmero pode ser obtido pela seguinte frmula:
NP = (PD / PO) + 1
Onde:
NP = Nmero de piquetes
PD= Perodo de Descanso
PO= Perodo de Ocupao
Temos ento:
NP= (27/3) + 1
NP= 10
J sabemos ento que nosso pastejo rotacionado, com uma rea total de 20 ha, ser composto por 10 piquetes, de aproximadamente 2 ha (ainda devemos descontar as metragens da rea de descanso e corredores) que sero ocupados durante 3 dias cada um.
FORRAGEM DISPONVEL E NMERO DE ANIMAIS
O prximo o ser definir a quantidade de animais que sero alocados nesta rea. Para tal, precisamos estimar a quantidade de forragem produzida na rea.
importante que no momento da coleta da amostra a ser pesada, realize-se o corte da forragem “simulando” a altura do pastejo e j levando em conta o resduo ps-pastejo que deve ficar na sada dos animais.
Esse resduo que garantir reservas para que a planta tenha uma boa taxa de fotossntese aps a retirada dos animais e, conseqentemente, uma rebrota vigorosa, sem precisar utilizar reservas das razes.
A estimativa de massa produzida deve ser feita com base na matria seca.
Voltando ao nosso exemplo, considere que o valor encontrado para produo forrageira no momento da amostragem foi de 1.530kg de matria seca por hectare.
Imaginando que trabalharemos com vacas de 500kg de peso corporal, em mdia, teremos uma necessidade de ingesto de matria seca de aproximadamente 12,50kg/animal/dia, que representa aproximadamente 2,5% do peso vivo do animal.
Dessa necessidade, 4,00kg suprido via concentrado fornecido no cocho, e os 8,50kg restantes devem ser supridos pela pastagem. Como os animais ficaro 3 dias em um mesmo piquete, ele deve ser capaz de fornecer 25,50kg de matria seca para cada animal durante o perodo de ocupao (3 dias x 8,5 kg por dia).
Sabendo que a rea de cada piquete de 2 ha e que isso representa uma produo de matria seca de 3.060 kg, ao dividi-la pela necessidade de cada animal para um perodo de 3 dias, que de 25,5kg, teremos ento um total de 120 animais a serem alocados nesta rea.
Sabendo a quantidade de animais a serem alocados, dimensionaremos o tamanho da rea de descanso (local onde servida a gua e a suplementao mineral e/ou concentrada).
REA DE DESCANSO
A rea de descanso ou de lazer deve ser bem drenada, a fim de evitarmos formao excessiva de lama no perodo chuvoso, com localizao centralizada de preferncia e, ainda, conter sombra natural ou artificial para abrigar os animais.
A medida recomendada de rea de descanso para animais adultos de
15 a 20m2/animal. No nosso planejamento, consideraremos 15m2/animal e, ento, disponibilizaremos aos 120 animais uma rea de descanso de 1.800m2.
Os corredores de o rea de descanso devem ter uma largura de 10m. comum no momento da construo das cercas a tendncia de reduo desse espaamento. No entanto, a experincia tem mostrado que corredores mais estreitos, no perodo chuvoso, acumulam muito barro, dificultando a locomoo dos animais, gerando problemas de casco e contaminao das tetas das vacas, fatores que podem ocasionar queda na qualidade do leite e at problemas de mastite.
O formato dos piquetes, localizao da rea de descanso e disposio dos corredores iro depender do formato do permetro da rea a ser rotacionada. Devemos planejar os piquetes de maneira que estes fiquem com o formato quadrado ou o mais prximo possvel desse formato.
bom que se evite a instalao de piquetes longos e estreitos, alm de piquetes com cantos estreitos, pois estas situaes levam os animais a desenvolverem um comportamento de pastejo indesejvel que no ir promover o corte da pastagem por igual.
Imaginando que a rea do nosso exemplo tenha forma bastante homognea, teramos uma configurao prxima da figura 1.

No entanto, em situaes prticas dificilmente encontraremos um caso de regularidade de medidas como esta.
Cabe ao tcnico que est desenvolvendo o projeto, com auxilio de ferramentas de desenho e criatividade, achar a melhor configurao para diviso da rea. Seguem abaixo alguns exemplos de sistemas desenvolvidos pela Coan Consultoria e que foram bem sucedidos (figuras 2 e 3).

Definidas as divises a serem feitas, partimos para a construo propriamente dita do nosso sistema de pastejo rotacionado. A transferncia do que foi projetado no papel para o campo deve ser feita por um profissional da rea de topografia ou por quem tenha conhecimento neste assunto, para que as reas cercadas correspondam fielmente s reas projetadas.
Confira na prxima edio do informativo “A Nata do Leite” a apresentao dos custos de implantao de um sistema rotacionado para a pecuria leiteira.

rogrio m. coan zootecnista - doutor em produo animal - diretor da coan consultoria e coordenador da diviso tcnica da scot consultoria