At algum tempo atrs, era relativamente difcil convencer produtores pecuaristas da viabilidade de intensificao e melhoria das condies de sua empresa. A discusso sobre o assunto resumia a debate sobre o que seria melhor: baixa ou alta tecnologia.
Hoje em dia o produtor no questiona mais a viabilidade; a questo como fazer para melhorar a empresa, quanto investir e como istrar o fluxo de caixa. Trata-se de um avano, pois meio caminho andado para se chegar a uma soluo, identificar o problema.
Atualmente o pecuarista reconhece que a baixa produtividade por rea uma das caractersticas que reduz os ganhos da pecuria de corte no Brasil.
No entanto, mesmo sabendo da necessidade, resta ainda um obstculo considervel a ser vencido, que a disponibilidade de capital para investir.
Melhorar a produtividade de qualquer empresa sinnimo de investimentos em estrutura, pastagens, treinamento, equipamentos e maquinrios. H tambm de se investir no prprio rebanho, pois aumento de produtividade implica em aumentar a carga animal da empresa. “Haja dinheiro”, dizem alguns.
timo! Trata-se de um obstculo. Mas nunca, ningum, conseguiu nada sem que em algum momento desafiasse obstculos, mesmo alguns que parecem intransponveis. preciso planejar e, dentro do possvel, avanar alguns os.
Para que estes os sejam ordenados, na direo certa, preciso que tudo esteja previamente planejado, permitindo que o empresrio construa gradativamente as bases para uma empresa mais competitiva, mais produtiva.
importante frisar que o dinheiro um recurso valioso e, caso no haja tal planejamento, os investimentos acabam no sendo coordenados e podem fugir do principal objetivo, que justamente melhorar os resultados econmicos da propriedade.
Sabemos que so nos anos de preos melhores que normalmente os produtores acabam “comprando” bens de capital novos e substituindo os bens mais antigos. Evidente que tal deciso importante, porm caso no seja feita com critrios pr estabelecidos, o empresrio poder aumentar os custos fixos de produo para os prximos anos. O investimento que deveria agregar valor acaba por agregar custo.
Essa armadilha deve ser evitada a todo custo.
Enfim, nesse sentido, um servio que geralmente oferecido a produtores um diagnstico e uma anlise de melhoria da competitividade da empresa. Sendo assim apresentaremos um exemplo de um estudo em uma propriedade localizada em Gois, cujo caso foi apresentado em recente palestra proferida pela Bigma Consultoria.
A fazenda, de ciclo completo, operava com natalidade de 78%; idade de abate em 32 meses; desfrute mdio do rebanho em 27,13%; lotao de 0,84 unidades animal (450 kg de peso vivo) por hectare; rebanho de 14.340 cabeas em 11.950 hectares de pastagens.
Havia um funcionrio para cada 288 cabeas. No apenas os vaqueiros, mas toda a equipe da fazenda. O tempo de vida das pastagens estava estimado em 12 anos. Bom, estes so alguns dos indicadores que foram trabalhados.
A fazenda lucrou R$61,05 para cada hectare em produo no perodo de julho de 2008 a junho de 2009. Os valores foram atualizados por preos de mercado para dezembro de 2009.
Observe, na figura 1, a participao dos componentes de custos de produo nesta propriedade.

O grfico em formato de pizza uma tima ferramenta para se visualizar rapidamente a composio dos custos e iniciar o estabelecimento de um diagnstico.
Por exemplo, quanto maior for a participao nas depreciaes, menor o aproveitamento dos bens de produo da empresa. Em outras palavras, a estrutura presente permitiria maior produo em relao atual. A conseqncia custo fixo alto.
Enfim, finalizado o diagnstico, e em parceria com a Coan Consultoria, estabelecemos um plano para melhorar os resultados da empresa.
O plano, arquitetado junto com o prprio produtor e com sua equipe de campo, estabeleceu como metas atingir os seguintes ndices zootcnicos:
- Natalidade: 83%
- Tempo para abate: 26 meses
- Desfrute: 31,52%
- Lotao: 2,35 UA/ha
- Aproveitamento por funcionrios: 806 cabeas de gado/pessoa
- Rebanho: 40.152 cab
- Pastagens e volumosos para seca: 11.950 ha
- Vida til das pastagens past.: perenizao, mas consideramos 40 anos
Considerando todos os detalhes, investimentos e oramento para se atingir a meta, os custos de produo se comportariam conforme a figura 2, exposta a seguir.

Observe como se reduz a participao dos custos com funcionrios, istrao e depreciaes em relao figura 1. Aumenta consideravelmente a participao dos custos de insumos agrcolas, indicando que h uso de corretivos, fertilizantes e defensivos. Aumenta tambm a participao dos custos de alimentos e mineralizao, indicando maior ateno com a nutrio dos animais.
Lembre-se que a participao nos custos, expostas em grficos modelos de pizza, proporcional. Ou seja, no h alterao pelo fato do nmero de cabeas ter aumentado.
A tecnologia de produo agrcola e a melhor nutrio animal, alm de proporcionar ganho de produtividade, otimiza o esforo humano da propriedade. O uso de herbicidas e a fertilizao de pastagens demandam bem menos quantidade de dirias de trabalho, do que a reforma de pastos e a roada, seja ela manual ou mecanizada.
Mesmo que a reforma de pastagens seja considerada como investimentos, aqueles funcionrios envolvidos sempre constaro na folha de pagamento, onerando a fazenda.
Por isso a meta era atingir mais de 40 mil cabeas com a mesma quantidade de funcionrios, apenas remodelando as funes e salrios. Melhor qualidade de vida para os envolvidos e melhor produtividade.
Na tabela 1 apresentado um maior detalhamento dos custos e resultados da empresa no diagnstico, na meta planejada e durante alguns os pelo percurso de investimentos e melhoria da empresa.

Observe que a meta levar a empresa s condies de R$521,98 para cada hectare em produo. Em valores de dezembro de 2009 esse avano representaria um aumento na rentabilidade de 0,61% para 4,19% sobre todo o patrimnio investido. Observe a evoluo do resultado na figura 3.

Evidente, conforme relatado logo no incio, que h a dificuldade da disponibilidade de capital para o processo.
Mesmo assim melhor ter um plano a no t-lo. Em alguns perodos os preos favorecero ou surgiro algumas possibilidades de capitalizao que podem e devem ser aproveitadas.
Por isso j fica estabelecido um plano de investimentos e fluxo de caixa, conforme descrito na tabela 2. Este plano pode ser mais simples, como o apresentado aqui, ou mais detalhado e elaborado envolvendo maiores perodos.
No caso, apresentamos apenas o capital necessrio para se atingir cada um daqueles os descritos na tabela 1.
Diferente da tabela 1, que trata de um demonstrativo de resultados, a tabela 2 ilustra o fluxo de caixa. Saem as depreciaes e os resultados e entram os investimentos ao longo do processo. O resumo de tudo o fluxo de caixa, ou seja, a diferena entre quanto entrou e quanto saiu.

Veja que para atingir a meta foram estimados investimentos da ordem de R$32,32 milhes. Em quanto tempo? Depende da disponibilidade de capital e, claro, da viabilidade tcnica e operacional em colocar um projeto para andar mais rpido.
Do total dos investimentos, pouco mais de 80% so em compra e expanso do rebanho, um ativo de alta liquidez, cujas vantagens a Bigma Consultoria tem ressaltado sempre que possvel.
E outros 17,3% so investimentos em pastagens e forragens (culturas agrcolas) e edificaes e benfeitorias (cercas, corredores, cochos, bebedouros, currais, etc.).
Inquestionavelmente h uma melhoria da propriedade e da qualidade dos ativos pelo aumento do rebanho. Vale lembrar que o valor da terra continua sendo o ativo individual de maior valor na empresa. Por isso que, quanto maior a produtividade, maior tende a ser a taxa de retorno do capital investido.
No processo, o fluxo de caixa ficou negativo em R$11,118 milhes, dinheiro que precisaria ser aportado no negcio. um valor alto, no tenha dvidas. No fcil disponibilizar todo este capital.
Mas, quando se tem um plano prvio e a disciplina de mant-lo com as devidas adaptaes, a empresa chega aos objetivos mais cedo do que possa parecer. Por exemplo, as depreciaes anuais chegam a pouco de mais de R$1 milho.
Grosso modo as depreciaes so recursos que deveriam ser reaplicados, ou provisionados, para reinvestimentos, na propriedade. Se no so feitos, a empresa vai sucateando seus bens, aumentando os custos de manuteno e criando uma necessidade de investimentos pesados num futuro bem prximo.
Observe que em 10 anos o valor total em depreciaes se iguala ao saldo negativo do fluxo de caixa. E, nos investimentos da tabela 2, j esto sendo consideradas as eventuais substituies e reformas nos bens presentes na propriedade.
Numa fazenda, 10 anos am bem rpido. Sero menos de dois ciclos pecurios inteiros. Por exemplo, outro dia estvamos no ano 2000, preocupados com o “bug” do milnio. Vivamos o foco de febre aftosa em Jia (RS) e o foco de Navira (MS) havia sido pouco menos de um ano antes. Parece que foi outro dia.
muito rpido, e o interessante que quando se olha para trs no se percebe o tanto de dinheiro que foi gasto na propriedade. Mas quando se planeja o futuro, o valor do investimento ou aporte de capital assusta, dando a impresso de que no ser possvel atingir determinadas metas. uma armadilha de nosso inconsciente.
Reforando o argumento do incio, quando h um plano, os recursos so destinados a bens que garantiro o retorno mais rpido daquele capital, possibilitando flego e um bom desempenho na atividade.
por esta razo que o estabelecimento de um “norte” para as aes da propriedade tende a tornar o uso de dinheiro mais eficaz do ponto de vista dos interesses da organizao. Na grande prtica, trata-se de usar os recursos disponveis em alguns anos para crescer, melhorar, ganhar eficincia e no para simplesmente se manter.
No fcil estabelecer e seguir o plano; mas tambm no impossvel. Basta um diagnstico, um plano de metas e o detalhamento tcnico e econmico. Depois s disciplina para manter e corrigir o plano de acordo com mudanas tecnolgicas, econmicas ou mesmo de oportunidades.