Scot Consultoria
scotconsultoria-br.noticiascatarinenses.com

Margem do varejo 59u1l

por Rogrio Goulart
27/07/2010 - 09:52
Vamos comear respondendo um leitor de Cceres-MT. Ele enviou a seguinte mensagem sobre rastreamento de gado. Agradeo os boletins que voc tem enviado. So de grande valia as informaes e orientaes, parabns! Gostaria que voc comentasse sobre o sistema ERAS, de rastreabilidade. Hoje nos encontramos com vrios problemas: 1) Preo da arroba do boi ERAS, pouco valorizado em relao ao boi comum; 2) Demora em avaliar as fazendas por parte do MAPA e; 3) Quando avaliado, a UE demora para publicar o registro que a fazenda esta apta a exportar. No tenho nada contra quem est hoje no ERAS. Fazendo uma brincadeira, uma opo “individual, particular, de cada um, consigo mesmo”, mas no seria honesto se no respondesse a voc indo direto ao ponto. Ns fazamos a rastreabilidade at o final de 2007, porm, a partir daquele ano desativamos tudo. No mais fazemos a rastreabilidade exatamente pelos motivos que voc citou acima. Porm a rastreabilidade deixou uma coisa positiva. Achamos fantstico controlar o rebanho individualmente. uma boa e merecida evoluo dentro da propriedade. Continuamos a fazer isso, s que utilizamos a marcao a fogo para tal fim. Seguindo em frente, quero destacar um estudo que recebi pelo Maurcio Campiolo, da Acrimat (Associao dos Criadores de Mato Grosso). Nesse estudo eles projetam a evoluo do rebanho mato-grossense utilizando as informaes contidas nos dados oficiais do gado nos relatrios de vacinao contra febre aftosa. Dentre as evidncias que eles encontraram utilizando esses dados, duas so importantes. A primeira confirma que o preo do bezerro um fator determinante para a opo entre a manuteno das vacas nos pastos ou mandar elas para o frigorfico. Ou seja, quando o bezerro est barato, o povo manda vaca para o frigorfico. Quando ele sobe de preo, como nos ltimos anos, o povo segura a vaca no pasto. A segunda evidncia ainda mais importante. Fazendo uma evoluo do rebanho at 2013 e usando os dados oficiais do nmero de cabeas e utilizando a expectativa de crescimento de abate dentro do estado, eles chegaram a concluso que: “Por conta do alto abate de fmeas em 2006 e 2007 a oferta de boi gordo, acima de 36 meses, vai ter um forte impacto [para baixo] a partir desse ano. Em 2007 eram 1,9 milhes de cabeas de animais acima de 36 meses disponveis para o abate, em 2010 baixou para 1,5 milhes. Tendo como base a evoluo desses nmeros, em 2011 o Mato Grosso ter um estoque de 1,25 milho, baixando para 1,1 milho em 2012 e 1,04 milho em 2013. Aqui est a resposta para aqueles que acusam o pecuarista de segurar o boi no pasto para forar a alta da arroba. O pecuarista no est com boi pronto para abate no pasto. Os bezerros que no nasceram em 2006 e 2007 esto fazendo falta e mesmo confinando e at abatendo mais cedo os animais, no teremos boi gordo suficiente pra atender a demanda crescente.” Comentrio: Expectativa de diminuio real do rebanho de um lado e aumento dos abates do outro? Vamos acompanhar o desenrolar dessa histria. Seria muito bom se as outras associaes estaduais de produtores pudessem levantar suas respectivas previses de evoluo de rebanho, “hein”? Bomba! Abaixo coloco um grfico feito pelo pessoal da Scot Consultoria. um estudo que queria ver h algum tempo mas no sabia como “pegar” essas informaes. Casou que nem precisei de procurar. Eles fizeram o servio para a gente!
A histria bem simples. Existe um preo em que o pecuarista vende o boi para o frigorfico. Existe um preo que o frigorfico vende a carne para o supermercado e afins (atacado) e existe um preo que o supermercado vende essa carne para o consumidor (varejo). So preos completamente diferentes, mas existe, sim, relao entre eles. Essa relao a que dita o que vai acontecer no lado da “demanda” da pecuria, quando a gente estuda a relao demanda vs. oferta. Um pouco de histria. Faz um tempo que ficava perplexo ao ver o consumo “bombando” em vrios setores. Nem necessrio ir muito longe. A gente comentou muito sobre isso nesses textos aqui mesmo. s sair de casa e ir ao centro da cidade ou ir ao shopping. Voc tem ido ao cinema ultimamente? Se no, v. Ser uma experincia reveladora. Em uma frase: muita gente gastando! Da a gente olhava para nosso setor, a pecuria, e lia em tudo quanto lugar a mesma coisa. O consumo no est bom, no se consegue colocar carne, etc. Bom, esse grfico mostra que isso no era verdade. Faz tempo que venho falando que no acreditava que o consumo estava do jeito que estavam falando, mas no sabia a razo. No tinha como verificar a fonte porque as informaes dos preos do varejo so difceis de serem juntadas. S uma equipe especializada que tem o know-how e tempo para buscar isso. Agradeo ao pessoal da Scot por esse trabalho. Vocs soltam muitas notcias todos os dias. Recebo todas. Mas tem ocasies que vocs acertam “na veia”. Eis porque a razo desse meu entusiasmo. A carne no supermercado vem subindo desde 2006 at hoje, mas por alguma razo, a partir de meados de 2008 a coisa desandou. Quero dizer, desandou para o frigorfico e tambm para o pecuarista. Observe no grfico na pgina anterior. A carne vendida pelo frigorfico caiu, mas a carne no supermercado no caiu. Pelo contrrio! Ela s fez subir desde ento, mas essa alta no foi reada para a cadeia pecuria. Amigo, nem os frigorficos pegaram parte dessa alta da carne vendida! Eu no fico muito indignado com facilidade, mas esse grfico mostra o absurdo que a concentrao de venda no varejo e o que eles conseguem fazer com o preo da carne. Voc acha que o frigorfico no est te pagando direito? Isso brincadeira de criana se comparado ao que o varejo vem fazendo conosco, com o nosso setor. A chega um dirigente da Abras (Associao Brasileira de Supermercados), no me lembro qual, e diz: “Est insatisfeito? Abra um aougue, ento.” Quero dizer, tivemos a crise de 2008, a arroba caiu de preo, o frigorfico abaixou o preo da carne vendida, mas no supermercado a carne no caiu. Aproveitando-se da fragilidade do setor, onde o frigorfico fragilizado tinha que pedir “pelo amor de Deus” para o supermercado comprar a carne dele vista, os caras sentaram em cima com gosto. Conseguiram segurar o preo que eles pagam por praticamente dois anos. Como tudo na vida, um dia a coisa sobe, outro dia a coisa cai, at mesmo essa diferena de preo entre o atacado e o varejo, entre o frigorfico e o supermercado, que hoje est alta, parece que est chegando ao limite. O supermercado no est conseguindo rear mais alta na carne, ento para lucrar mais ele tem que comprar mais carne. Segundo puderam me contar, venda de carne corresponde a 12% do faturamento de um supermercado. aqui nesse ponto que entra atualmente o nimo dos frigorficos em pagar um pouco a mais pelo gado. No necessariamente falta de boi gordo que est fazendo a arroba subir, a meu ver. a demanda por carne aqui dentro do Brasil quanto pelo exterior que est levando os compradores dos frigorficos a partir para garantir bois gordos / vacas gordas para atender a essa demanda. Isso , de longe, uma excelente notcia. Grosso modo, ainda segundo esse mesmo grfico, de 2009 para c a carne no supermercado e afins subiu aproximadamente 23%, enquanto a carne do frigorfico ficou inalterada, no subiu nada. A arroba do boi gordo no est no grfico, mas posso te dizer que tambm ela no subiu nada nesse perodo. Isso significa que h um espao propcio para os frigorficos aumentarem seus preos de venda da carne e tambm, espero, h espao para um aumento da arroba do boi nessa onda. Rapaz, esse segundo semestre nem comeou direito e a mar parece que est virando. Vamos acompanhar mais para ver o que isso representar nos preos da arroba at o final do ano. Ah, uma ltima palavrinha. Essa alta recente na bolsa trouxe novamente tona boas oportunidades de fazer seguro de preo dos bois na bolsa. Est bom para, pelo menos, segurar o custo de produo. Alis, j est melhor que isso. J se consegue fazer seguro de uma arroba a R$80,00/@, vista, por um preo bem barato na bolsa. Para quem ter boi gordo nesses prximos trs a quatro meses, um momento interessante para olhar com carinho essas operaes. A operao se chama comprar opo de venda. Ou, mais tecnicamente, comprar put. Comprar o 80 put para outubro, por exemplo. Fale com o seu corretor de bolsa.