Recentemente a equipe da Bigma Consultoria foi questionada sobre as anlises de relao de troca entre bezerros e bovinos abatidos com 16,5@.
Segundo o produtor, cliente da Bigma, um animal de 16,5@ estaria ainda magro ou renderia pouco em termos de carcaa. Sendo assim, pela sua observao, as anlises de relao de troca acabariam por subestimar os resultados para os compradores de bezerros e terminadores de boi gordo. Faz sentido!
De fato, com base em seu questionamento, uma rpida olhada nos abates de diversas fazendas acompanhadas pela Bigma permitiu concluir que uma raridade ver animais machos sendo abatidos abaixo das 17@.
Na verdade, no encontramos animais abatidos com menos de 17@ numa anlise de cinco anos com dados das diversas fazendas componentes de nosso banco de dados. O menor peso encontrado foi o de um lote de semi-confinamento abatido com 17,2@ em 2006.
fato que clientes de uma empresa privada - ou mesmo de vrias empresas - no podem ser usados como referncia para concluir que haja uma tendncia de mercado.
Portanto buscamos embasar os dados pela pesquisa trimestral do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica). Nessa pesquisa, o IBGE publica o balano dos animais abatidos e os pesos totais das carcaas registrados nos estabelecimentos fiscalizados.
Observe, na figura 1, a evoluo mensal do peso mdio de abate de machos no perodo de 1997 a 2010.

Note que o grfico comea com o peso mdio de um boi gordo em torno das 16,5@, peso este que vem aumentando consistentemente ao longo dos anos.
Atualmente, o peso mdio do boi gordo abatido se mantm acima das 17,75@. O ltimo registro de peso mdio abaixo das 17@ foi em outubro de 2005. Mesmo assim, a mdia ficou em 16,97@ por carcaa.
De janeiro a maro de 2010 – ltimos dados divulgados pelo IBGE – a carcaa mdia pesou 17,97@, 1,18% a mais do que as 17,76@ registradas no mesmo perodo de 2009.
Portanto, no restam dvidas de que o peso de abate est aumentando gradualmente. O boi gordo est sendo abatido, na mdia nacional, em torno das 18@, o que equivale a 1,5 arroba acima do peso tradicionalmente usado nas comparaes.
preciso considerar que o momento do abate no definido apenas pela balana. H uma anlise visual com relao ao acabamento, condio corporal e gordura do animal. Por isso, em termos prticos, os animais vm sendo abatidos cada vez mais pesados.
Mesmo atingindo o peso de balana, o pecuarista percebe que h mais “espao” para colocar massa. E assim feito na prtica.
Ainda assim, vale ressaltar que essa observao no altera as concluses econmicas realizadas com base na troca do boi gordo de 16,5@. Para analisar indicadores, preciso estabelecer critrios. Por isso, seja 16,5@ ou 18@, o comportamento analisado sobre a capacidade de compra do produtor ser o mesmo. O nmero pode diferir, mas a comparao permanecer a mesma. Nessas anlises, o que importa a comparao.
Porm, no dia a dia das fazendas o pecuarista precisa levar em considerao a realidade de sua relao de troca. S assim adotar decises adequadas com relao aos momentos favorveis ou desfavorveis de compra de bezerros.
Na figura 2 foi realizada uma comparao entre a relao de troca com base nas 16,5@ e outra com base no peso mdio de abate, segundo o IBGE. O peso mdio dos meses seguintes a maro de 2010 foi estimado aplicando-se o acrscimo de 1,18% sobre o mesmo perodo de 2009. Observe os resultados.

Pelo comportamento ilustrado na figura, confirma-se que no h diferena alguma em termos de tendncias e concluses econmicas para efeitos de anlise.
Mas as diferenas istrativas dentro de uma propriedade rural so grandes. Em setembro de 2010, por exemplo, estamos considerando uma troca de 2,20 pela metodologia tradicional, contra uma troca de 2,42 pelo critrio baseado no peso da carcaa, pesquisado pelo IBGE.
Voltando ao caso daquele produtor que incentivou a realizao desta anlise, o peso mdio de abate em sua propriedade acima de 21@ para animais que am pelo confinamento. Portanto, so 3 arrobas a mais do que as 18@, segundo os dados do IBGE.
Note que o peso mnimo de abate dos animais confinados 27% acima das 16,5@ usadas como padro para um boi gordo.
Ao ler isso, provvel que venha na cabea de muita gente aquelas fazendas com bois de quatro a cinco anos, com porte de touros. Mas no bem assim.
O caso em questo de uma empresa que adota estratgias de suplementao, confinamento e mantm um completo programa sanitrio na propriedade. Lotes de 21,5@ em 2010 foram abatidos com 26 meses de idade, ando por pastejo intensivo, suplementao e confinamento.
No foram raras as ocasies em que este produtor foi criticado pelo peso de seus animais ao abate. Claro que essas crticas no vieram dos frigorficos, a no ser no caso de compradores que imaginaram se tratar de animais muito erados, e nem de quem conhecia a fazenda.
Essa observao toda vai ainda de encontro com uma ideia que tem sido difundida pela Nutron Alimentos. Em diversas palestras e artigos, os tcnicos da Nutron analisam a viabilidade de identificar pontos timos econmicos para o abate de animais confinados.
Dependendo dos animais, tais pontos podem ser com pesos mais leve, em torno das 17@, ou mais pesados acima das 20@.
O raciocnio relativamente simples. Se a relao de troca vem piorando ao comprador, natural que seja interessante vender bois mais pesados. Na grande maioria dos casos, os bezerros so negociados na “perna” (sem pesagem), enquanto o boi negociado no peso morto, na balana.
Alm da questo da relao de troca, os animais zebus bem nutridos crescem mais que os europeus, abrindo possibilidade de colocar mais peso em uma s carcaa.
E, por fim, h tecnologia disponvel, e economicamente eficaz, para levar este animal a uma carcaa mais pesada. Se possvel e vivel, porque no fazer?
Voltando mais uma vez ao exemplo do produtor, dentro da mdia de 2010, houve lotes de nelores inteiros abatidos com 23@, rendimento de carcaa de 55% e ganho mdio de 1,8 kg/dia em um confinamento de 70 dias.
No caso deste produtor, o custo mdio da diria do confinamento ficou em torno de R$5,56 por cabea, incluindo a dieta e os custos operacionais.
Os custos so referentes aos resultados finais, incluindo o consumo dos ingredientes, desperdcios e as no conformidades que ocorrem em todas as empresas. Portanto, no se trata de oramento ou custo previsto antes do confinamento. o que de fato ocorreu.
A pesagem feita no dia da entrada, data a partir de quando inicia a contagem do nmero de dias confinados. No se desconta o perodo de adaptao.
O ganho de peso mdio foi de 1,55kg/dia, e os animais foram abatidos com 20,98@ e 53,5% no rendimento de carcaa. Os bois so pesados pela manh, antes da primeira distribuio da dieta, e no se aplica o jejum antes da pesagem, o que subestima o rendimento de carcaa.
Enfim, nestas condies o custo de produo da arroba no cocho foi de R$73,27.
Considerando as arrobas carregadas, ou produzidas anteriormente a pasto, o custo final da arroba produzida foi de R$64,30.
Lembramos que se trata de uma empresa com adoo de tecnologia e, consequentemente, com margens lquidas mais reduzidas.
Para efeito de comparao, realizamos uma simples simulao. Consideramos os mesmos custos de produo, ganho de peso e dias de confinamento. Variamos apenas o rendimento da carcaa e observamos os seus efeitos nos custos da arroba engordada no cocho. Observe os resultados na figura 3.

Sendo assim, o raciocnio que tem sido difundido pela Nutron, e gradualmente por outros tcnicos, consistente.
H uma boa margem para se trabalhar no aumento do peso da carcaa e em sua qualidade. A cada alterao de um ponto porcentual no rendimento de carcaa, houve uma queda mdia de R$6,30/@ no custo da arroba produzida.
Existem explicaes nutricionais comparando ndices e custos de deposio de msculos e gordura a partir de determinado peso. No entraremos nos mritos por aqui, mas o fato que tecnicamente possvel e economicamente vivel. Em outras palavras, interessante aplicar tais conceitos.
Os produtores mais atentos j percebam os benefcios dessa prtica. Mesmo que em muitos casos no meam, ou no justifiquem suas aes de maneira tcnica, aplicam corretamente o conceito de margem de contribuio.
Ou seja, a gerao de caixa melhora, na maior parte dos casos, quando se leva o animal at um peso de carcaa superior. Essa prtica proporciona maior incremento de recursos na fazenda.
Evidentemente que h particularidades mercadolgicas que podem favorecer ou desfavorecer a ao.
Apesar de ter usado o exemplo de um produtor, as informaes das fazendas acompanhadas pela Bigma Consultoria permitem concluir que essa metodologia tem sido adotada pela maior parte dos produtores.
Voltando ao conceito da relao de troca, importante lembrar que os bezerros produzidos pelos criadores devero acompanhar a tendncia do mercado. Se a regra aumentar o peso final de abate, o bezerro precisar atender a essa exigncia.
Com isso, a seleo pela fora de mercado vai tambm aumentando o preo do bezerro e pressionando a relao de troca.
A resposta tanto na cria, como na recria e engorda, sempre ser de ordem tecnolgica.
No caso aqui discutido, as tecnologias referidas foram as estratgias de nutrio para maximizar o potencial gentico de produo de carcaa.
Alm de ser interessante do ponto de vista econmico, altera a noo de relao de troca em cada propriedade.