Scot Consultoria
scotconsultoria-br.noticiascatarinenses.com

Produo industrial e a especializao da pauta de exportao: ganhos para o Brasil 1d131x

por ICONE
28/07/2011 - 09:09
A especializao da pauta de exportao brasileira um tema que gera constantes debates e rene defensores e opositores. H muita confuso sobre o assunto, j que especializar as exportaes no quer dizer especializar a produo internamente. preciso que se entenda que o Brasil s tem a ganhar com a especializao dos produtos exportados, mas que no necessariamente haver especializao na produo nacional. Ao contrrio, os dados da produo industrial brasileira mostram que a pauta diversificada e que nos ltimos anos todos os setores registraram crescimento. A produo industrial para o mercado interno continua diversificada e aquecida. Nas exportaes, no entanto, deve-se aceitar que os setores mais competitivos, como os de commodities devem ocupar um espao maior, aproveitando-se os bons preos internacionais e a ascendente demanda domstica e internacional. A participao de commodities nas exportaes vem crescendo desde 2007, ano em que o Brasil foi considerado pas mais confivel sob a percepo do investidor. Tal fator, combinado com a alta dos preos das commodities, contribuiu para o aumento de investimentos no setor e, consequentemente, aumento na produo e na exportao. Para entender a dinmica da pauta de exportao brasileira, bem como justificar a afirmativa de que a especializao um fator positivo para o Brasil, utilizou-se a metodologia elaborada por Nakahodo e Jank (2007) no estudo “A Nova Dinmica das Exportaes Brasileiras: Preos, Quantidades e Destinos”, que analisa dados de 1996 a 2006. Em seguida, atualizou-se o estudo por meio dos dados de exportao da SECEX (Secretaria de Comrcio Exterior do Ministrio do Desenvolvimento, Indstria e Comrcio), de 2007 a 2010. A metodologia classifica os produtos exportados em duas categorias: commodities e diferenciados. Dentre as commodities, esto trs classes de produtos: os do agronegcio, os combustveis e os minerais e metais. Dentre os diferenciados esto os produtos de manufaturas industriais, classificados em nveis de “intensidade tecnolgica”, podendo ser: alta, mdia-alta, mdia-baixa e baixa tecnologia. Avaliando-se os dados de 2007 a 2010, comparando-os com aos dados de 1996 a 2006 (perodo de tempo avaliado por Nakahodo e Jank), percebeu-se que houve, de fato, mudana na participao do grupo das commodities na pauta de exportao. O equilbrio observado at 2006 entre a participao dos produtos diferenciados e das commodities (ou seja, diferenciados e commodities possuam mesmo peso na balana comercial), aps 2007 as commodities aram a ter maior peso nas exportaes, representando quase 68% do valor exportado em 2010. Especificamente, as exportaes dos produtos do agro tiveram um aumento significativo, com exceo de pontual queda em 2009, devido crise iniciada no final de 2008. A participao de tais produtos, no entanto, continuou a crescer, atingindo seu pice em 2009, com quase 40% do valor total exportado. Nos combustveis tambm houve aumento expressivo no valor exportado, que foi de USD 10,5 bilhes em 2006 para quase USD 20 bilhes em 2010. Vale lembrar que a alta nos preos das commodities tem forte influncia nesses cenrios e que, devido volatilidade intrnseca dos preos dos produtos primrios, a relao entre commodities e diferenciados, na pauta exportadora, pode voltar a se equilibrar se os preos carem. Quanto aos produtos diferenciados, uma variedade menor desses produtos vem sendo responsvel por uma parcela maior das exportaes. No perodo entre 1996 a 2006, observou-se certa constncia na participao dos diferenciados nas exportaes, com significativa presena dos de alta e mdia-alta tecnologia. De 2007 para frente, percebemos uma queda na participao dos diferenciados, principalmente nos produtos de mdia-alta tecnologia, apesar destes ainda serem significativos na pauta, representando 18% do total. Este “rearranjo” da pauta de exportao no deve ser considerado algo ruim, uma vez que o Pas tem no setor de commodities e que a especializao no necessariamente reflete a realidade da pauta de produo (principalmente para consumo interno). Para exemplificar: quando avaliamos a produo industrial por meio do ndice de quantum, percebemos que houve um incremento de 36% na produo de bens de capital e de 10% na produo de bens de consumo no perodo entre 2006 e 2010. Apesar da diferente classificao (em relao usada por Nakahodo e Jank), fica claro que a produo de diferenciados (em que se enquadram as categorias de bens de consumo e de capital) continua a crescer, apesar da reduo na participao no valor exportado. Isso mostra como a produo interna continua diversificada, apesar da especializao das exportaes. Exportar mais dos produtos em que o Brasil tem uma vantagem competitiva positivo, no s em termos de comrcio global, mas tambm em termos de emprego, renda e de benefcios para a sociedade. Se todos os setores crescerem em termos de produo (contrariando a tese de que a especializao na produo de commodities causaria a desindustrializao), no s faz sentido como necessrio o Brasil especializar sua exportao naqueles bens em que mais competitivo internacionalmente. Nesse caso, devemos estimular o crescimento das exportaes das commodities – e no recha-los. Por Paula Moura e Isabella Franchini.