Abaixo temos, em porcentagem, dentro de doze meses corridos, a variao do menor preo para o maior preo do boi, suficiente para pegar os piores preos da safra e os melhores preos da entressafra.

Da peguei os Estados Unidos, com seus 90% de animais confinados. Peguei o Brasil, com seus 10% de animais confinados. Quer saber? No tem muita diferena. Repare como parecida a oscilao de preos mnimo/mximo entre os dois pases.
bvio que naquelas semanas crticas de entrega de boi confinado, a presso enorme de oferta. Quem confina tem que estar ciente de que corre um risco de preo nesse perodo. Risco de preo (porque pode cair) e risco de base (os preos locais perdem sustentao perante So Paulo). Mas isso, repito, faz parte do jogo. Tem que se programar antes.
Margens da indstria
O mercado percebeu que as margens dos frigorficos subiram. Seus respectivos papis valorizaram forte desde seus piores preos no ano ado. Abaixo.
Renda
Agora vamos falar de uma coisa importante, caro leitor. A gente sabe que carne bovina no uma coisa to barata quanto, por exemplo, o frango. O frango a carne mais consumida no Brasil, e no s no Brasil. Porm, a que interessante — mesmo com o frango mais barato e levando mais frango para casa, a dona de casa acaba, no final, gastando mais dinheiro com carne bovina. Interessante, no? Em dinheiro que sai do bolso, o brasileiro gasta mais com bovino que com frango ou suno.
Ok. Sabemos que a dona de casa gasta mais com bife, mas sabemos quanto, realmente, essa coisa pesa no bolso? Quero dizer, ao longo dos anos, a carne tem ficado mais cara ou mais barata? Sabemos que dependendo da classe social, o consumo aumenta ou diminui. Voc sabe que a mdia brasileira de 37 quilos por habitante mas, tenha d, voc e eu comemos muito mais carne que isso durante o ano. Provavelmente 50% a mais que isso... provavelmente 100% a mais que disso. Provavelmente a grande maioria dos leitores aqui consome muito mais que os 37 quilos anuais que o IBGE marca como mdia nacional.
Sendo assim, fiz duas comparaes. A primeira quanto a carne bovina pesa em porcentagem do salrio para quem ganha um salrio mnimo, baseado no consumo mdio do IBGE. A segunda comparao quanto pesa a carne bovina para quem ganha o salrio mdio real, que mais se assemelha renda do brasileiro hoje em dia, aumentando em um tero o consumo mdio do IBGE.

A ideia ver se, proporcionalmente ao longo dos anos, a carne tem ficado mais cara ou mais barata para o consumidor final, tanto o que ganha pouco quanto para o que ganha muito. Lembre-se que esses valores esto proporcionais ao aumento real da renda que o brasileiro teve nos ltimos anos, certo?
Veja voc como so as coisas. A gente tem a impresso que a carne est pesando mais no bolso ao longo dos anos para o brasileiro. Bom, est, mas est pesando dependendo para qual classe social voc est pensando. Para quem ganha um salrio mnimo (hoje 622 reais), surpreendentemente a carne hoje mais vel que era dez anos atrs. A carne saiu de um pico ao redor de 12% do salrio mnimo para 8% hoje.
Uma expressiva melhora no poder aquisitivo de mais de 30%.
O que no o caso para quem ganha ao redor do salrio mdio (hoje 1.700 reais). Para esse cidado de classe mdia, a carne, de fato, est menos vel do que estava uma dcada atrs. A carne saiu valendo ao redor de 3% do seu salrio mensal para 4% hoje, uma piora de 30%. Esses so todos nmeros bem pequenos, caro leitor, de 3% para 4%, mas multiplicando isso para a populao brasileira voc v o quanto isso importante de ser notado. Reparou? Para os pobres melhorou 30%, para o resto, piorou 30%.
Mas a boa notcia que, mesmo assim, a maior oferta de gado relatada pelos frigorficos est sendo comsumida, e veremos que os preos no atacado no ficaro muito tempo onde esto. por isso que comentei l em cima sobre as margens dos frigorficos. Elas de fato esto melhores, sim. Umas das melhores em muito tempo, diga-se de agem.
Com a melhora nas margens, o frigorfico ganha maior poder de negociao. Em outras palavras, ganha poder de barganha em relao ao supermercado. Repare nesses dois grficos abaixo. Eles mostram o que vale a carne no supermercado em comparao com a arroba e carcaa casada. Repare na melhora das margens relativas da indstria frigorfica atravs da carcaa. Quanto mais baixos esses nmeros, melhor para o frigorfico.

O mesmo no podemos dizer da figura 5, da arroba e supermercado. Repare que ainda a margem do varejo est historicamente alta, e continua l em cima. Repare, para voc entender, em 2010. No segundo semestre de 2010 as margens do pecuarista melhoraram, e sabemos que isso foi em decorrncia da alta espetacular na arroba naquele perodo. Depois disso, a coisa se inverteu novamente.
Esse tipo de situao fcil de ser entendido, porque quanto mais prximo voc est do consumidor, mais flexvel voc tem condies de ser com seus preos. Pode ser uma promoo, uma estratgica tera-feira de preos baixos, ou outra coisa qualquer, o fato que na mdia geral, hoje, a situao que temos de um mercado consumidor aquecido, comprando carnes em preos historicamente altos, como vemos acima, e isso est, de certa forma, pesando no seu oramento, como vimos na pgina anterior.
A pecuria um jogo de margens. A margem sobe e desce na cadeia... indo da cria, recria, engorda, frigorficos e finalizando nos supermercados. Tudo isso inserido no ciclo pecurio. O que tivemos de 2006 at hoje foi uma margem muito boa para a cria e recria e supermercados, enquanto frigorficos e invernistas seguraram as pontas com margens baixas.
O que est acontecendo, o que est comeando a acontecer o inverso disso. As margens da cria e recria esto retrocedendo, enquanto o invernista e frigorficos esto vendo suas margens melhorarem.
Mas, melhorarem a custa de quem? Ah, sim, da cria, recria e, importante dizer, do supermercado. Veja aqui abaixo novamente o comportamento da margem do supermercado e do pecuarista desde o incio do plano real. Repare que a coisa oscila, caro leitor. No pode-se dizer que sempre subindo ou caindo. Na realidade o que ocorreu foi que as margens da indstria ficaram boas de 1995 at 1998 (4 anos). De 1999 at 2005 (7 anos) favoreceram o pecuarista. De 2006 at hoje (7 anos) favorecem novamente a indstria.

Quatro anos supermercado, sete anos pecuarista, sete anos supermercado.
Vamos tomar um pouco de flego aqui e refletir. A carne para a classe mdia tem pesado mais ao longo dos anos, mesmo com o aumento do salrio real. Isso no quer dizer que o consumo tenha diminudo. Quer dizer que a dona de casa tem que gastar mais dinheiro para manter o seu consumo. Agora, isso significa tambm que ela no tem condies de aumentar a compra de carne bovina, fora do que ela normalmente j faz. Por isso temos um aumento contnuo da carne de frango.
Mas mesmo assim, as vendas de carne bovina aumentam. O aumento extra de venda de carne que temos no Brasil proveniente principalmente pelo aumento do poder aquisitivo da populao, da diminuio do desemprego e importante, do aumento populacional.
A cada ano so necessrios no mnimo 400 mil cabeas a mais sendo abatidas somente para manter o consumo per capita. Lembre-se sempre disso quando for pensar em alta nos abates e, em especial, de animais confinados. Se aumentar 20% o confinamento como alguns esto falando, so 800 mil cabeas sobre 4 milhes. Metade disso s para acompanhar o aumento do consumo de 400 mil cabeas naturalmente a mais sendo "comidas" pelas pessoas. Essa a principal razo que a carne um produto que acompanha a inflao, caro leitor.
A gente sabe que a margem de lucro do negcio flui na cadeia. Ora est com um, ora com outro, e essa cadncia depende principalmente do ciclo pecurio. H tempo demais a margem est com o supermercado, em detrimento da pecuria. Sabemos que isso no vai durar porque entre o supermercado e o pecuarista existe o frigorfico, e o frigorfico est vendo suas margens aumentarem em detrimento do supermercado. s uma questo de tempo at parte dessas margens serem readas para a pecuria, via preos de boi relativamente estveis com vis de alta (porque com margens boas, o frigorfico quer abater mais bois), enquanto temos uma reposio que est caindo ficando um pouco mais barata a cada dia que a.
Tudo isso que quero dizer, caro leitor, se resume a dizer que no esperamos um menor consumo de carne no Brasil e nem em um menor consumo em 2012. Pelo contrrio. O consumo frente aos preos altos que est o atacado atualmente est excelente.
Com as margens melhorando, a reposio ficando mais barata e com aumento natural da entrada de fmeas (isso bem lento), esse aumento de oferta ser absorvido pelo mercado via menores preos de venda no supermercado, ou preos que no subam to acima da inflao, o que d na mesma. exatamente aqui nesse ponto que as pessoas confundem demanda “fraca” com preos altos. claro que com preos altos como os atuais na carne o consumo diminui. Mas da a dizer que a demanda est fraca? Longe disso.
Deixe-me te dizer isso de outra forma. Vamos supor que te digo que em um determinado pas a sua populao tem aumentado em nmero de pessoas, o salrio mdio dessas pessoas tem melhorado continuamente ano aps ano e o cada dia tem menos gente desempregada. Da eu te peo para fazer um prognstico sobre o consumo de automveis nesse pas nos prximos anos. O que voc diria?
Ento, caro leitor, se voc engorda boi ou abate boi, bem vindo a 2012. Ser um ano interessante sob o ponto de vista de ver suas margens melhorarem, creio, aqui e pelo menos nos prximos trs anos pelo aumento da matria-prima e um mercado consumidor demandado. S tome cuidado para no sair comprando boi caro esse ano para abater em 2013, pois ano que vem as fmeas tomaro conta do noticirio. Cuide bem do seu estoque, pois essa transio de boi escasso para boi abundante, ao contrrio do que se imagina, far uma boa anotao na linha final da sua demonstrao de resultados.
No estou dizendo que a arroba vai subir, explodir de preo. Acho que tem horas que a gente tem que sair da armadilha de s ficar falando de preo de arroba, como se isso fosse tudo o que importa. Nada perto disso. Nem falei direito sobre preo de arroba hoje, se voc percebeu. O que quero dizer o que o negcio de engorda de boi e abate de boi est entrando em uma fase que tem tudo para ser favorecido, e o negcio implica olharmos para a compra, produo e venda de animais. A combinao desses itens, penso, que est virando favorvel. isso que temos que ter em mente para ir checando daqui adiante.