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Linguagem do campo 4cf5m

por Xico Graziano
30/12/2004 - 14:00
  • Imagem. Aqui reside, certamente, o maior desafio da agropecuria brasileira. Nos pases desenvolvidos, a sociedade valoriza o campo. No Brasil, ainda o trata com desdm. Isso precisa mudar.
  • Essa tarefa cabe, inicialmente, aos prprios agricultores. No mundo da informao, j ensinava o glorioso Chacrinha, quem no se comunica se estrumbica. Apartar-se um defeito comum do ruralismo.
  • As lideranas agrcolas nem sempre conseguem destacar, para o conjunto da sociedade, a importncia de sua labuta. Continuam a falar para o umbigo, discursar “para ns mesmos”. H uma barreira de comunicao, difcil de ser rompida, entre o campo e a cidade, onde impera a mdia.
    O CAMPO NA MDIA
  • A situao est melhorando. Veculos de comunicao de massa lanam produtos destinados ao campo. O Canal Rural surgiu em 1997 e, embora tenha fechado seu sinal, mantm boa audincia na regio sul.
  • Depois chegou o Canal do Boi. Mais focado no pecuarista e interessado nos leiles de gado, estabeleceu link com a Bolsa de Mercadorias e de Futuros e popularizou o mercado a termo. Ambos os canais de TV, embora dirigidos ao pblico segmentado, contam com simpatizantes urbanos.
  • Facilita essa disseminao a antena parablica. Presente nas fazendas longnquas, o equipamento disseminado na periferia urbana. Estima-se que 10 milhes de lares a utilizam. O saudosismo das famlias e, certamente, a chatice e a baixo nvel da televiso brasileira, empurram telespectadores do asfalto para o meio telrico.
  • Est chegando uma grande novidade: vem a o “Terra Viva”, canal de agronegcios ligado Rede Bandeirantes. Alm de cobrir leiles, eventos e feiras da Agrishow, pretende valorizar a informao e ressaltar as virtudes do meio rural. Vai, assim, formar opinio na defesa do setor agropecurio.
  • Esse movimento da mdia nacional no ocorre por acaso. Espelha um reconhecimento da fora econmica dos agronegcios, que afinal tm sustentado o crescimento da economia brasileira nos ltimos anos.
  • Por esse motivo a revista Veja lanou, j por duas vezes, edies especiais sobre a agricultura e suas cadeias produtivas. A revista Exame, tradicionalmente dirigida ao empresariado urbano-industrial, seguiu no mesmo caminho. Por sua vez, a revista Isto Dinheiro cria um formato especfico para o meio rural. Nota dez.
    NOVO FILO
  • Claramente, os empresrios da comunicao investem em novo filo de mercado, de olho nos leitores e, bvio, em seus patrocinadores. Aps dcadas esquecida, entregue prpria sorte, a agricultura parece estar sendo redescoberta pela sociedade. Venerado no o ruralismo, propriamente dito, mas sim o mundo integrado dos negcios rurais, porteira adentro, mercado afora.
  • Se tal ocorre, se a sociedade e a mdia nacional miram o campo, isso se deve revoluo tecnolgica e produtiva que transformou a velha oligarquia em modernos empresrios rurais.
    PROBLEMAS
  • Nem tudo, todavia, so flores. O preconceito e o desconhecimento permeiam ainda entre formadores de opinio, jornalistas e polticos. Facilmente se observa o preconceito urbanide na suposta questo do trabalho rural escravo. A causa humanitria contra a servido disfarada serve de trampolim para a lngua ferina, como se no campo ainda dominasse a escravatura. o fim da picada!
  • A deturpao brota da cultura. A urbanizao se processou de forma acelerada, venerando a indstria nascente, restando ao campo a imagem do atraso. Como se, para trs, restasse apenas o ado. Em certo sentido, a idia correspondia realidade. At a dcada de 70, a economia agrria caducava.
  • Mas a poltica confundiu as idias. O acirramento da luta do MST, desde 1985, envolveu a esquerda e encantou o senso comum. Em meados de 90, a famosa novela “o rei do gado”, transmitida pela rede Globo, arrasou a imagem da agropecuria.No era para menos. A mocinha sem-terra, linda-meiga, enfrentava o bandido, coronel-malfeitor. A boiada ficou mal-afamada.
  • A transformao da roa, rumo modernidade, j operava forte desde a dcada de 70. Todavia, as mazelas da globalizao e a formao da sociedade ps-industrial distraram as pessoas nos tormentos do cotidiano, cerrando sua viso sobre as mudanas no campo.
    RENOVAO
  • O movimento favorvel da mdia exige uma tarefa inadivel das lideranas rurais: apostar na renovao, tanto das pessoas e como dos mtodos de atuao.
  • Os jovens conhecem a linguagem de seu tempo. Carecem ser estimulados a tomar as rdeas do processo de valorizao do campo.
  • Nos sindicatos, nas cooperativas, nas entidades, fazendas, est na hora de substituir a velha guarda pela moada. Ningum agenta mais a arcaica choradeira ruralista, aquela mania de reclamar de tudo, do governo principalmente. Lderes que dominam a cena h dcadas fariam muito bem em se aposentar, investindo em novos valores, preparando os futuros dirigentes agropecurios.
  • A sim, com gente pr-ativa, empreendedora, comunicativa, com nova linguagem, somente assim muda definitivamente a imagem do campo. Para melhor.