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Moacyr Bernardino Dias-Filho, engenheiro agrnomo, mestre em pastagens e nutrio animal e Ph.D. em ecofisiologia vegetal. pesquisador da Embrapa Amaznia Oriental.
Scot Consultoria: O Brasil possui extensas reas de pastagens degradadas. O que caracteriza um pasto degradado? Quais so os possveis processos e causas que podem levar degradao do pasto? Quais os cuidados que o produtor deve ter para que isso no acontea?
Moacyr Dias-Filho: A degradao de pastagens alcana, de fato, uma extensa rea no Brasil, sendo tambm, um problema de grande importncia em outros pases onde a pecuria desenvolvida predominantemente a pasto. Caracterizo um pasto degradado como uma rea com acentuada diminuio da capacidade de e ideal que seria esperada para aquela rea, podendo ou no ter perdido a capacidade de manter a produtividade do ponto de vista biolgico (acumular biomassa). Portanto, ao contrrio do que geralmente se imagina, uma pastagem pode estar degradada, mesmo que a fertilidade do solo seja adequada.
O processo de degradao de pastagens um fenmeno complexo que envolve causas e efeitos. Descrevo como as principais causas: falhas no manejo do pastejo e da pastagem; falhas na formao da pastagem; fatores biticos (ataque de insetos-praga) e fatores abiticos (drenagem deficiente do solo e o excesso ou a falta de chuvas).
Manejar o pasto tarefa difcil e requer profissionalismo do produtor. O bom produtor de carne ou leite deve, antes de tudo, ser um bom produtor de pasto. Para isso, o pasto deve ser visto e tratado como uma lavoura de produo de forragem para a produo de carne ou leite.
Scot Consultoria: Quais as principais doenas que acometem as pastagens? Comente.
Moacyr Dias-Filho: Em geral, no Brasil, as pastagens no so acometidas de doenas que possam ser muito limitantes para a sua produtividade. A maior limitao advm da ocorrncia de insetos-praga. Dentre esses insetos, os mais problemticos para as pastagens so as cigarrinhas-das-pastagens, o percevejo-castanho e algumas espcies de lagartas.
No entanto, nos ltimos 13 anos, tm ocorrido no bioma Amaznia um problema srio com a produtividade das pastagens. Este problema est, de certa forma, associado ocorrncia de doenas. Trata-se da sndrome da morte do capim-braquiaro. Essa sndrome acomete principalmente pastagens de braquiaro (Brachiaria brizantha cv. Marandu) e est associada a reas onde haja algum problema com a drenagem de solo. Nessas reas, o braquiaro, por ser intolerante s condies temporrias ou permanentes de excesso de gua na zona das razes, sofrendo mudanas em seu metabolismo e tornando-se suscetvel a fungos do solo, os quais, normalmente, no seriam ofensivos para esse capim em outras situaes. Descrevo esse problema com mais detalhes na quarta edio do livro sobre Degradao de Pastagens.
Scot Consultoria: Do ponto de vista da recuperao de pastagens, possvel mensurar qual o potencial de expanso do rebanho nacional, considerando somente o aumento na capacidade e dos pastos?
Moacyr Dias-Filho: Costumo dizer que mais de 90% dos pastos no Brasil esto sendo explorados abaixo do seu real potencial em termos de capacidade de e. Medidas relativamente simples de intensificao, como a construo de cercas, muitas vezes j seriam suficientes para melhorar o manejo desses pastos e aumentar a sua capacidade de e. Quando falamos em recuperao de pastagens consideradas degradadas, isso evidentemente seria ainda mais verdadeiro. Nesse caso, seria possvel inferir que s pela recuperao dessas pastagens, poderamos, no mnimo, dobrar o nosso rebanho, sem a necessidade de derrubar uma s rvore, isto , a recuperao de pastagens seria a principal alternativa para conciliar o crescimento da pecuria com a preservao ambiental, garantindo, com isso, a preservao da segurana alimentar da populao.
Scot Consultoria: O senhor acredita que o pecuarista entenda e assuma a importncia do pasto na produo, motivado, principalmente, pelas presses econmica e ambiental?
Moacyr Dias-Filho: Nos ltimos anos tem havido uma mudana bem acentuada na mentalidade dos produtores. Tenho observado isso nas minhas andanas pela Amaznia e em outras regies do pas. Embora ainda seja grande o nmero de pecuaristas que ainda no despertaram para essa realidade, a tendncia que estes em a ser uma minoria.
Scot Consultoria: Em sua opinio, quais os impactos que o novo Cdigo Florestal trar ao agronegcio, produo de alimentos?
Moacyr Dias-Filho: Esse assunto seguramente tem propiciado comentrios movidos por grandes doses de paixo e pouca razo. Por isso, a populao leiga (e essencialmente urbana), no meio da troca de argumentos entre os chamados "ambientalistas" e "ruralistas", acaba ficando sem um ponto de referncia que considere seguro.
Estamos vivendo em uma poca onde o tema segurana alimentar, infelizmente, tem tido uma importncia apenas secundria no nosso dia a dia. A razo para isso que, ao contrrio da primeira metade do sculo ado, vivemos um perodo de grande fartura no Brasil. O Brasil hoje capaz de abastecer com alimentos a sua populao e ainda ser um exportador de alimentos para o resto do mundo. Dentro desse cenrio, a importncia da produo de alimentos e, consequentemente, da nossa segurana alimentar, acabou tendo um peso bem menor nas discusses do novo Cdigo. Outro fator relevante que a nossa populao, basicamente urbana, no tem condio de avaliar as grandes dificuldades que o produtor rural a para produzir o alimento que esta consome com avidez. Por essas razes, para uma parte considervel da populao, os chamados "ruralistas" acabam injustamente sendo mal vistos.
Certamente, em um primeiro momento, haver alguma dificuldade para que certos setores do agronegcio se adaptem ao novo cdigo florestal. Vejo, por exemplo, que os produtores do Sul e do Sudeste devero ter mais dificuldades do que aqueles do Norte e Nordeste do pas. No entanto, a partir de agora, o novo cdigo florestal ter que ser encarado como um aliado do produtor para a produo de alimentos e certamente ser.
Scot Consultoria: No Brasil, como o senhor caracteriza a evoluo da pecuria de corte em reas de fronteira agrcola?
Moacyr Dias-Filho: reas de fronteira agrcola, tradicionalmente, sempre foram aquelas nas quais a pecuria de corte a atividade preferencial para o incio do processo de explorao. Isso ocorre porque, na pecuria de corte, ao contrrio de outras atividades agrcolas, possvel produzir, embora com baixa eficincia, de forma predominantemente extensiva.
O processo de expanso da pecuria em reas de fronteira agrcola ou por fases bem distintas. Em uma fase inicial, a explorao mais extensiva dessa atividade predomina, em uma fase posterior, a a predominar uma explorao mais intensiva.
Em breve, estar disponvel pela Scot Consultoria um livro de minha autoria no qual este assunto descrito com detalhes. No livro a histria da evoluo da pecuria e do abastecimento de carne na Amaznia, com nfase no estado do Par, abordada minuciosamente. Recomendo a todos a sua leitura.