O governo Lula beneficiou-se do ciclo de reformas institucionais lideradas por Fernando Henrique Cardoso que resultaram no aumento da produtividade e, assim, do potencial de crescimento da economia. A produtividade explica 88% da diferena de expanso do PIB nos dois perodos (1995-2002 e 2003-2010), da ordem de 2,3% e 4,1%, respectivamente. o1c4n
As reformas de FHC impressionam: Plano Real; privatizao das telecomunicaes e de rodovias; eliminao de restries ao capital privado (nacional e estrangeiro), inclusive no petrleo; cmbio flutuante; metas para a inflao; modernizao das normas cambiais; reestruturao de dvidas estaduais e municipais: Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF); e maior abertura da economia, para citar as principais. Tudo isso levaria tempo para frutificar.
O PT foi contra a maioria dessas reformas. Duvidou do Plano Real, mobilizou multides contra a privatizao da Telebras, questionou a LRF no Judicirio e tachou de neoliberais os avanos institucionais. No governo, mais amadurecido, Lula teve a coragem de manter as mudanas que condenava. Por isso, pde colher os frutos dos plantios anteriores e da emergncia da China como o principal parceiro comercial do pas. O maior crescimento permitiu expandir as polticas sociais, incluindo aumentos reais do salrio mnimo. Lula se consagrou como grande presidente, ainda que os escndalos em reas do governo possam turvar esse brilho.
Nos seus dois primeiros anos, Lula continuou o ciclo de reformas de FHC: nova Lei de Falncias, reforma do judicirio e inovaes no sistema financeiro. Estas ampliaram o o ao crdito a milhes de brasileiros, inclusive para a casa prpria. De 2005 em diante, tudo parou. Muitos de seus companheiros nunca aceitaram a poltica econmica. Depois da crise mundial de 2008, foram despertadas ideias contrrias, que estavam adormecidas pelo xito econmico e pelo pragmatismo de Lula. Iniciou-se crescente interveno estatal na economia e partiu-se para a reedio de polticas do ado, notadamente as do governo Geisel (1974-1979).
No governo Dilma, tais ideias triunfaram de vez. A taxa de juros baixou na marra, o regime cambial deixou de ser flutuante, o cumprimento da meta de supervit primrio ou a depender de malabarismos financeiros e artifcios contbeis. O Banco Central (BC) se tomou tolerante inflao e o controle de preos da gasolina - que fragiliza a Petrobras e os produtores de etanol - voltou cena.
A famigerada "conta movimento", pela qual o BC supria o Banco do Brasil de recursos e constitua canal para subsdios generosos, foi ressuscitada, agora via Tesouro e BNDES. Entre 2008 e 2012, os aportes ao BNDES saltaram de 15 bilhes de reais para 270 bilhes de reais, e o acumulado deve aumentar em 2013. O protecionismo reapareceu. A confusa interveno no mercado de energia eltrica escancarou o DNA autoritrio e antilucro do governo. O foco principal da poltica econmica o estmulo demanda, um equvoco (o problema est na oferta, sobressaindo a baixa competitividade da indstria).
A nova poltica econmica era reivindicada por lideranas empresariais e por economistas.
Dizia-se que o investimento e o PIB cresceriam com uma combinao de juros baixos, cmbio desvalorizado, crdito subsidiado e proteo indstria. No funcionou. Desconsiderou-se a relevncia da produtividade, que despencou por causa da paralisia das reformas. O intervencionismo excessivo criou incertezas que inibem o investimento. O potencial de crescimento caiu. A expanso do PIB em 2012 pode ficar abaixo de 1%. Para 2013, as previses otimistas do ministro da Fazenda (crescimento de 4%) podem no se confirmar (mais uma vez).
O desempenho medocre de 2012 no mudou as convices do governo. Basta, diz-se, pacincia para esperar os efeitos positivos das medidas na taxa de investimento - que cai h cinco trimestres seguidos e pode cair novamente no trimestre em curso - e no crescimento do PIB. Dilma tem legitimidade poltica e instrumentos para dobrar a aposta na estratgia, cuja validade ser testada em 2013. Esperemos e toramos para que d certo. Eu tenho c minhas dvidas.
Fonte: Veja. Por Mailson Ferreira da Nbrega. Dezembro de 2012.