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Marketing rural 6o4w6o

por Xico Graziano
19/02/2013 - 16:32

Duas fantsticas homenagens foram recentemente prestadas aos agricultores. A primeira foi em New Orleans, nos Estados Unidos, durante o intervalo do Super Bowl, a final do campeonato de futebol americano. A segunda desfilou na arela do carnaval carioca. Ambas atingiram, em todo o mundo, milhes de pessoas. 6nj1k

O longo comercial veiculado nos EUA aproveitou a maior audincia da televiso para reproduzir imagens retratando a vida no campo, sob a narrao, esplndida, de um texto elaborado em 1978 pelo radialista Paul Harvey. O vdeo emocionante. Oferecida ao agricultor existente "dentro de cada um de ns", quase uma orao, intitulada "E Deus fez o agricultor", prendeu a ateno dos ouvintes.

A seguir, sua traduo livre.

E no oitavo dia, Deus olhou para seu paraso e disse: "Preciso de algum que cuide desse lugar".

Ento, Deus fez o agricultor.

Deus disse: "Preciso de algum disposto a levantar antes do amanhecer, tirar leite, trabalhar o dia inteiro, tirar leite novamente, jantar e ir at cidade e ficar at depois da meia-noite numa reunio de conselho escolar".

Ento, Deus fez o agricultor.

Deus disse: "Preciso de algum disposto a ar a noite acordado cuidando de um potro recm-nascido, v-lo morrer e enxugar os olhos e dizer talvez ano que vem. Preciso de algum que possa transformar um tronco de rvore num cabo de machado, ferre um cavalo com um pedao de pneu usado, que possa fazer um arreio com pedaos de arame, sacos de rao e sapatos velhos. Algum que, durante a poca de plantio e de colheita encerre suas 40 horas de trabalho semanais na tera-feira ao meio-dia e e mais 72 horas penando em cima do trator".

Ento, Deus fez o agricultor.

Deus disse, "Preciso de algum forte o suficiente para derrubar rvores e empilhar fardos, mas ainda gentil o suficiente para aparar cordeiros recm-nascidos, desmamar porcos e cuidar de galinhas, que seja capaz de parar seu trabalho por uma hora para cuidar de perna quebrada de arinho. Deve ser algum capaz de arar fundo, reto e sem moleza. Algum que semeie, capine, alimente, crie, e dome, e are, e plante, e transforme l em linha e coe leite. Algum que mantenha uma famlia unida com a partilha de laos fortes. Algum que sorria, e depois olhe e agradea com um sorriso nos olhos quando seu filho diga que quer ar o resto da vida fazendo o que seu pai faz".

Ento, Deus fez o agricultor.

Os EUA jamais deixaram de prestigiar seus agricultores, os colonizadores. Ruralismo, por l, soa positivo, mesmo que buclico em certas situaes. Sempre se cultivou nos EUA o hbito de venerar a origem da nao, os empreendedores de outrora. No difere muito do que ocorre na Europa, onde os produtores rurais so protegidos, fartamente subsidiados, para que mantenham bela a paisagem, protejam o modo de vida, defendam a cultura originria e estimulem o turismo campestre. Nos pases desenvolvidos a moderna sociedade curte o bero do ado.

Carnaval do Rio de Janeiro. Na madrugada da folia, em plena Marqus de Sapuca, a escola de Vila Isabel desfila sob o inusitado enredo "A Vila canta o Brasil celeiro do mundo - gua no feijo que chegou mais um". O pblico se levanta, aplaude, dana, se entusiasma. Incrvel. A agricultura brasileira, homenageada, indiretamente se sagrou campe do carnaval carioca.

O lindo samba, de autoria de Arlindo Cruz, Martinho da Vila, Andr Diniz, Tunico da Vila e Leonel, ganhou os coraes citadinos enaltecendo a lide rural. A letra fala por si.

O galo cantou/ com os arinhos no esplendor da manh/ agradeo a Deus por ver o dia raiar/ o sino da igrejinha vem anunciar/ preparo o caf, pego a viola, parceira de f/ caminho da roa e semear o gro/ saciar a fome com a plantao/ a lida.../ arar e cultivar o solo/ ver brotar o velho sonho/ alimentar o mundo, bem viver/ a emoo vai florescer

mui, o cumpadi chegou/ puxa o banco, vem prosear/ bota gua no feijo, j tem lenha no fogo/ faz um bolo de fub

Pinga o suor na enxada/ a terra abenoada/ preciso investir, conhecer/ progredir, partilhar, proteger.../ cai a tarde, acendo a luz do lampio/ a lua se ajeita, enfeita a procisso/ de noite, vai ter cantoria/e est chegando o povo do samba/ a Vila, cho da poesia, celeiro de bamba/ Vila, cho da poesia, celeiro de bamba

Festa no arrai,/ pra l de bom/ ao som do fole, eu e voc/ a Vila vem plantar felicidade no amanhecer.

Aqui, no Brasil, ao contrrio dos EUA, os agricultores costumam ser tratados com certo desdm pela sociedade urbana, que enxerga os homens do campo, depreciativamente, como "caipiras". Vem de longe tal desprestgio, cujas razes nunca foram devidamente explicadas. Certamente o rpido e macio xodo rural contribuiu para gerar essa imagem negativa. O moderno erguia-se na cidade e agricultura virou sinnimo de atraso.

O ambientalismo recente tem dado lenha para essa viso distorcida sobre o campo. Comea pelo desmatamento. Antes, desmatar era sinnimo de progresso e todas as naes ricas ocuparam a totalidade das suas reas agriculturveis. Agora, porm, a preocupao com a biodiversidade rema contra a expanso agrcola. O Brasil, que ainda dispe de muita terra boa para explorar, ficou na contramo do relgio da histria. Derrubou, leva bordoada.

Futebol americano, carnaval, agricultura, a criao divina. Misturados com boas doses emoo e alegria, esses dspares elementos resultaram em espetaculares lances de marketing rural, valorizando os agricultores, seu labor, sua cultura. Oxal a comunicao entre os mundos urbano e rural flua mais fcil a partir de agora.

Caipira, sim, com muito orgulho. E respeitado.