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Polemizar nos faz crescer, pois aprendemos a conhecer as opinies contrrias. Podemos medir e comparar ideias diferentes, desde que sejam manifestaes honestas e crticas construtivas, que podem contribuir para propsitos meritrios. Assim, espero contribuir atravs do blog para um debate saudvel sobre a Integrao Lavoura-Pecuria-Floresta (ILPF), apresentando, de um lado, a opinio de seus adeptos, que se encontram no vdeo abaixo, e de outro lado a viso crtica, manifestada no texto, abaixo do vdeo.
A minha tica em relao ILPF concentra-se em dois pontos: primeiro, o fato de quem faz a ILPS, invariavelmente o agricultor (cerca de 90%), que tem a cultura e tradio do investimento no curto prazo e dispe de mquinas, enquanto o pecuarista (10%) no tem a cultura do investimento em curto prazo e no tem as mquinas. Nesse caso o ideal seria a parceria entre o dono da terra, que tem pastos degradados e carncia de recursos financeiros para investir; junto com o agricultor poder recuperar o solo, dar melhor produtividade para a produo de carne, eis que o pasto pode ser implantado a baixo custo, geralmente sem uso de fertilizantes, depois de plantar-colher uma lavoura. A conciliao desses interesses culturais, e as dificuldades da implantao do sistema, portanto, seriam o primeiro entrave, ou dificuldade.
Em segundo lugar, a incluso da Floresta no sistema ILP implica em certeza de que no poder haver "arrependimento" na implantao, eis que retirar as razes / tocos exige tempo, em mdia superior a 5 ou 8 anos, e impossibilita nesse perodo a continuidade da agricultura naquele espao. Fora isso tenho convico de que a ILP (e a ILPF) pode ser a frmula e o caminho para a recuperao de mais de 90 milhes de hectares de pastagens degradadas e sem perspectivas de soluo no curto prazo. Muitos pecuaristas, por causa disso, e para aprender sobre o sistema, preferem implantar apenas a ILP, deixando a "floresta" para depois.
Desta forma, abro o debate sobre o assunto com o vdeo publicado no incio desse texto, e, na sequncia, a opinio do mestre Fernando Penteado Cardoso (agora mais conhecido como "R.100" = Rumo aos 100).
ILPF - Por que floresta?
Por Fernando Penteado Cardoso*
*Eng. Agr. Snior-ESALQ-USP 1936 - Fundador e ex-presidente da Manah S.A. e da Fundao Agrisus. Produtor rural em Mogi Mirim/SP.
Esto na moda os palavreados ambiciosos "lavoura-pecuria-floresta-ILPF" ou "agro-silvo-pastoril". O que significam ou o que podem significar?
Tudo comeou alguns anos atrs com a expresso "integrao lavoura-pecuria - ILP" que foi definida como a sucesso alternada de atividades agrcolas e pecurias na mesma rea.
Importante ser na mesma rea, pois se uma fazenda se dedica a lavouras e a criaes em reas separadas, ela tem essas atividades paralelas, mas no integradas.
A integrao acontece quando as duas atividades - agrcola e pecuria - se alternam, se sucedem, se interagem, se integram e, se completam em uma mesma rea.
Um exemplo de ILP bem sucedido o do produtor Ake van der Vinne, em Maracaj - MS, onde no vero a sucesso anual soja>soja>milho>pasto e no inverno pasto>pasto>pasto. Nesse sistema, a cada 4 anos um hectare em rotao produz em mdia 120 sacas de soja (2 safras), 100 sacas de milho e 1.000 kg de ganho de peso vivo - GPV.
Outra aferio bem sucedida foi relatada pela Granja JAE, Santo Incio - PR, onde, por 6 anos consecutivos, foi comprovada a produo anual de 2.000 litros de leite ou de 300 kg de GPV por hectare durante o inverno, no intervalo entre culturas de soja de vero.
Nesses dois exemplos, o sistema assegura ainda um volume satisfatrio de fitomassa para o plantio direto subsequente. Nos dois casos, pecuria e lavoura se alternam na mesma rea.
De uns anos para c a Embrapa vem incentivando o plantio de renques de duas a trs linhas de eucalipto ou outra espcie arbrea separadas de 25 a 27 m. Nos primeiros 2 anos cultiva-se soja ou outro cereal no intervalo entre os renques. No final do 2 ano semeia-se capim, geralmente uma Brachiaria, iniciando-se ento um sistema permanente de pasto sombreado.
No se trata de uma integrao por falta de rotatividade e de alternncia. Poder, quando muito, ser classificada de silvo-pastoril, sem que a lavoura faa parte do sistema.
Os pastos sombreados no constituem novidade. Anos atrs a CMM do grupo Votorantim patrocinou experimentos e observaes em Vazante, no noroeste de Minas Gerais, mas o trabalho foi descontinuado antes de concludo. Outras descries em Paragominas - PA e no estado de Mato Grosso do Sul so pouco conclusivas quanto aos resultados anuais de ganho de peso, embora apresentem simulaes e estimativas favorveis.
Nos anos 1990 diversos criadores na regio de Dourados - MS iniciaram o plantio de renques de Leucaena ocupando cerca de 50% da rea de piquetes em rotao, com sombreamento intenso na rea arbustiva rebrotada. Os intervalos entre os renques eram semeados com capim, permitindo que os animais pastoreassem a gramnea e os brotos e folhas da leguminosa. Inicialmente houve grande entusiasmo dos criadores, mas, pouco a pouco o sistema foi relegado, seja por dificuldades de manejo, seja por no compensar economicamente.
A forragem sombra menos palatvel nas guas, o capim mais tenro e bem aceito na seca e a faixa lindeira aos bosques prejudicada pela forte competio at uma largura de 10 a 15 m. Estas observaes so de conhecimento geral dos que convivem com o ambiente rural.
Seja pelo sombreamento, seja pela competio por nutrientes e gua, a produo de fitomassa forrageira sombra pode vir a ser limitada, desconhecendo-se pelo momento o GPV anual por unidade de rea. Os custos de implantao so, por sua vez, muito variveis, dependendo de inmeros fatores locais, inclusive da infestao dos inos e de formigas cortadeiras.
A reduo da produo animal at certo ponto compensada pelo crescimento de fustes com valor comercial para celulose, carvo ou madeira, mas o resultado econmico por hectare entre produo animal e vegetal no foi ainda determinado.
O que deve ficar bem claro que a integrao lavoura/pecuria est bem comprovada e dimensionada, mas ao se introduzir rvores permanentes o sistema torna-se mal conhecido, em que pese o entusiasmo desiderativo dos que o apregoam antes de ter aferies convincentes.
Dias de Campo festivos divulgam as iniciativas ditas agro-silvo-pastoris enquanto satisfazem a curiosidade dos interessados e envaidecem tanto os tcnicos promotores, como os proprietrios gratificados.
Vale aqui lembrar o preceito de Lord Kelvin enunciado no sculo 19: "A menos que voc possa medir alguma coisa e descrev-la com nmeros, voc est apenas comeando a compreend-la".
issvel a hiptese de que ao final de alguns anos os agropecuaristas cheguem concluso de que seria melhor ter pastagem e reflorestamento em separado.
O futuro dir, seja por problemas operacionais, seja por pragas rogadas pelos vaqueiros em disparada ao cruzar pelos renques arbreos.