Municpio situado a 400,0 quilmetros ao norte de Cuiab, Sorriso no carrega apenas a simpatia do curioso nome. Seu territrio lidera a produo de soja no Brasil e seu ndice de Desenvolvimento Humano (IDH) campeo estadual, atingindo 0,824. Quer dizer, a elevada produo agropecuria garante qualidade de vida. Naquelas paradas inexiste ado, brilha o futuro. 3s4w6x
O chamado Norto de Mato Grosso caracteriza um polo de desenvolvimento, formado por vrios municpios, todos muito recentes, estabelecidos ao longo da BR-163, rodovia que liga Cuiab a Belm, no Par. Destacam-se Lucas do Rio Verde, Sorriso, Alta Floresta e Sinop, esta a capital regional, centro poltico onde pulsa o progresso limpo do interior brasileiro. Vale conhecer.
O nome, mais uma vez, chama a ateno. Sinop um acrnimo advindo da Sociedade Imobiliria Noroeste do Paran, empresa responsvel pela abertura inicial daquelas longnquas terras. Seu ento proprietrio, nio Pipino, legendrio colonizador, adquiriu a Gleba Celeste, com 645,0 mil hectares, destinando parte dela s famlias de pioneiros que, na poca, demoravam sete dias para vencer a distncia do Paran at as margens do Rio Teles Pires, criando um fluxo migratrio cujo auge ocorreu em 1975. Quatro anos depois, o povoado de Sinop seria elevado categoria de municpio. Hoje abriga 130,0 mil habitantes.
Nessa histria se compreende a origem dos agricultores situados no Norto de Mato Grosso. Foram inicialmente os paranaenses, gachos e catarinenses que ficaram atrados por aqueles solos planos ou levemente ondulados, ainda cobertos com mata virgem. Vieram abrir fronteiras e encontraram um exuberante ecossistema cheio de segredos. Por ali se d a transio entre o bioma do Cerrado e a Floresta Amaznica. Quanto mais ao sul, prximo de Cuiab, mais se destaca a vegetao baixa e retorcida do Cerrado na paisagem original; quanto mais se caminha para o norte, rumo ao Par, mais se impe a selva elevada e mida. Por cerca de 500,0 km se percebe tal gradao verde.
A grande maioria dos brasileiros - estrangeiros nem se fala - desconhece que existem no Brasil duas "Amaznias": a Amaznia Legal, um territrio geopoltico, e a Amaznia bioma, palco da tpica rain forest. A primeira mede 5,2 milhes de km2 e inclui a segunda (4,2 milhes de km2), pois seus limites geogrficos foram estabelecidos pelas divisas dos nove estados que a compem, incluindo parte de Mato Grosso, do Maranho e do Tocantins. Isso significa que a Amaznia Legal abarca grandes reas de vegetao do Cerrado do Centro-Oeste. J a Amaznia bioma se forma, bvio, apenas pela densa floresta original. Pouca gente sabe dessa diferena, que confunde muitos analistas desavisados.
Voltando ao Norto, as caractersticas do solo e do clima permitiram amparar com fora total o modelo tecnolgico, e tropicalizado, de grande escala no campo. Ali a agronomia se excedeu, garantindo excepcionais nveis de produtividade nas lavouras e nas pastagens - 100,0% dos agricultores tiram duas safras por ano. As fazendas, totalmente mecanizadas, baseiam-se na gesto familiar. Filhos de sitiantes sulinos progrediram na vida.
Tudo reluz na cidade de Sinop. Inexiste velhice, quer de coisas ou de pessoas. A sede da prefeitura, a igreja central, as lojas do comrcio, as moradias, as largas e planejadas avenidas, os automveis, por onde se enxerga se v modernidade. Nas ruas o povo parece ser mais alto, aloirado, de olhos claros, palavreado cantado, traos prprios de descendentes dos imigrantes europeus.
Assim tambm se mostra a reluzente Sorriso. Com 80,0 mil habitantes, a intitulada "capital do agronegcio" erigiu-se apenas nas ltimas duas dcadas, transformando a planura dos campos de Cerrado, que cobriam a maioria de seu territrio natural, em lavouras verdejantes. O brilho dessas cidades impressiona quem est acostumado com o padro mais antigo da sociedade urbana no pas.
impossvel entender a economia de Mato Grosso sem considerar a crescente produo de gros obtida nessa regio. Em consequncia desse sucesso agrrio, o estado j responde atualmente por 25,0% da safra nacional de gros, ultraando o Paran (19,0%) e o Rio Grande do Sul (16,0%) no ranking da safra nacional. O xito agropecurio, entretanto, no resultou no desmatamento total do territrio nem gerou depredao ecolgica. Nada disso.
Ao contrrio das zonas tradicionais de ocupao, que avanaram sobre as matas ciliares e mantiveram poucos remanescentes florestais, ali, nessa regio de Mato Grosso, se preservaram 100,0% das reas ribeirinhas, mantendo-se sempre as reservas florestais obrigatrias, dentro das propriedades rurais, na razo de 35,0% onde era Cerrado e 80,0% na floresta alta. S vendo para crer.
Viajando pela rodovia, ou observando pelas janelas do avio, veem-se as lavouras contrastando harmoniosamente com as reservas florestais, formando um mosaico de cores e espaos que mais parece um lindo quebra-cabea da natureza. H dados objetivos. Segundo o Instituto Mato-Grossense de Economia Agrcola (Imea), nessa regio oficialmente denominada "Centro-Norte", a agropecuria explora apenas 27,0% da rea total. O restante continua preservado.
Eduardo Godoy, jovem economista que trocou as praias de Santos pela agronomia em Mato Grosso me relata, viajando de Sorriso para Sinop, que os norte-americanos se encantam com essa convivncia lavoura-floresta. Mas no entendem por que os agricultores brasileiros arcam sozinhos com a reserva ambiental. L, nos EUA, reas subtradas da produo recebem fortes subsdios do governo.
Ningum sabe explicar.