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Uma Leitura do futuro do agronegcio 32k31

por Marcos Fava Neves
10/12/2014 - 10:01

Texto do discurso proferido no dia 8 de dezembro na Sociedade Rural Brasileira. 16562n

Sras. e Srs.

Confesso ter ficado muito honrado com o convite para fazer esta exposio no tradicional almoo de encerramento do ano (em sua nonagsima quinta edio) desta casa histrica do nosso pas, a Sociedade Rural Brasileira. Aproveito este tempo para tocar em alguns assuntos de interesse aos produtores do Brasil. Divido a anlise em 6 partes, comeando pelo cenrio macroeconmico e evoluindo para as questes estruturais do agronegcio.

1 - A macroeconomia sem alavancar o agronegcio em 2015

O ano de 2015 deve ser um dos anos mais difceis dos ltimos anos, face aos ajustes que precisam ser feitos e ao elevado grau de incertezas que temos pela frente. Acredito que:

- Mesmo com esforos do governo, teremos uma inflao persistente, ficando na casa de 6 a 7%;

- Teremos aumentos de preos istrados, com destaque para gasolina (CIDE visando arrecadao), diesel e energia, a depender da situao de preos do petrleo;

- Creio numa ligeira desvalorizao cambial com o real permanecendo entre US$2,60 a US$2,80 em 2015 e ando a mais de US$3,0 em 2016/17;

- O pas apresentar um crescimento quase nulo (0 a 0,5%) refletindo no nimo das pessoas comuns, dos investidores, e este baixo crescimento deve perdurar por mais dois a trs anos;

- Juros devem ficar mais elevados (Selic 12%) para combater a persistente inflao e face ao surpreendente crescimento econmico recente dos EUA, deve subir por l, refletindo em crdito e na taxa de cmbio;

- Forte reduo do gasto pblico (supervit de 1,5% a 2%) afetar investimentos, obras e a economia como um todo;

- Endividamento das famlias est elevado no tendo muita margem para ampliar crdito, afetando negativamente no consumo com maior austeridade no comportamento de compra;

- Mesmo com a indicao de uma equipe econmica "pr-mercado", observa-se ainda baixa confiana dos empresrios, tambm refletindo em investimentos;

- Teremos aumento do desemprego e da insegurana urbana e rural;

- Governabilidade ficou mais comprometida pelo resultado das eleies que fortaleceu a oposio.

- Observam-se crescentes movimentos sociais contra a m-gesto e a corrupo;

- Ainda no se sabe o tamanho da crise da corrupo na Petrobrs e o efeito "domin nas estatais", quando estas forem atingidas tambm, paralisando a gesto pblica.

Estas questes todas colocadas impactaro o pas e tambm a agricultura e os mercados de alimentos, tanto no consumo quanto nas presses para reduo de preos. Nestes casos, sempre sofrem mais os mercados de produtos mais suprfluos na alimentao. Os impactos especficos na agricultura so abordados na prxima sesso.

Ressalto que com ajustes adequados e dolorosos, o Brasil tem condies de retomar o crescimento, pois existem pontos positivos na macroeconomia, como o alto volume de reservas, o pas apresenta condies importantes para atrair capitais internacionais para investimentos de longo prazo, como vem atraindo anualmente, afinal apresenta o stimo maior mercado consumidor do mundo, com grande presena de recursos produtivos sub-explorados e valores consolidados como a democracia e instituies, tanto na rea pblica quanto privada. Portanto, apesar do momento e do estgio onde chegamos, no podemos perder a confiana e esperana em nossa economia.

2 - O complexo cenrio em 2015 para a agricultura

A safra 14/15 ser desafiadora, aps anos de bonana em preos, a rentabilidade da produo de gros dever cair face principalmente a grandes safras no mundo, notadamente nos EUA, e expectativas tambm de bons plantios e produes nos pases do Mercosul.

A CONAB estima uma safra de gros entre 194,4 a 199,9 milhes de toneladas, podendo ser 0,1% menor que a safra 13/14 at 2,7% maior no limite superior. Esta ser produzida em uma rea entre 56,6 a 58,1 milhes de hectares (13/14 foi de 56,96 milhes de hectares) com produtividades esperadas ligeiramente acima das observadas em 13/14.

Os dois principais produtos, milho e soja, devem ter bom desempenho, sendo a produo de soja esperada entre 89,3 mi.t. at 91,7 mi.t, ante a 86,1 mi. t. na safra 13/14. No caso do milho, a produo esperada fica entre 77,3 a 78,9 mi.t., ante a 79,9 mi. t. na safra 13/14.

So esperados os seguintes fatos e impactos:

- Menores preos das principais commodities agrcolas quando comparados aos anos de bonana, mas acima dos preos de antes de 2007/2008. Devem ficar na parte mais baixa do novo patamar de preos;

- Maior flutuao das cotaes, principalmente de soja e mesmo com cotaes mdias mais baixas, existiro oportunidades para fixao de preos em patamares interessantes em alguns momentos, prevalecendo a habilidade de comercializao. Produtores postergaram a comercializao e no fixaram preos no aguardo condies mais atrativas;

- Deve aumentar o risco de crdito ao distribuidor de insumos, tanto para revendas como para cooperativas, em alguns casos com solicitao de prorrogao de prazos de pagamentos. Isto pode fortalecer a prtica de barter, pois proporciona hedge ao agricultor e reduz risco de recebimento. um ano onde ganham maior importncia as polticas de crdito conservadoras;

- No so esperados grandes impactos negativos do clima;

- Em ano de menor rentabilidade, existe sempre a possibilidade do agricultor optar por solues tecnolgicas de menor custo. Fertilizantes e sementes so mais sensveis queda de rentabilidade do que os agroqumicos, e o maior impacto em vendas sero em mquinas e implementos, pois so a soluo menos dolorosa nas decises de postergar investimentos;

- Desafio maior de rentabilidade nas novas fronteiras agrcolas, com incremento de risco nas reas de expanso, podendo elevar a participao de arrendamentos;

- Desvalorizao do Real perante o Dlar gera riscos para insumos importados e necessidade de hedge, por outro lado compensao de preos por um real mais desvalorizado;

- Mesmo com este cenrio mais complicado, acredito em expanso da rea agrcola, pelos fundamentos favorveis de mdio e longo prazo de nossa agricultura. reas em expanso carregam favoravelmente o mercado de insumos continua em expanso, o desafio ser a oferta de crdito;

- Momentos difceis aceleram o processo de concentrao e profissionalizao do setor, pois produtores com melhor gerenciamentos e controles, consequentemente mais capitalizados, saem a frente nestes momentos;

- Logicamente, qualquer evento climtico no esperado muda o quadro, como mudou em anos anteriores, afinal, lidar com a incerteza inerente agricultura.

Apesar de dificuldades previstas na safra 14/15, existe uma preocupao que gostaria de levantar, mais estrutural, que pode atrapalhar a conquista de mercados pela agricultura brasileira: o aumento dos custos de se produzir no Brasil.

3 - O preocupante aumento dos custos de produo no Brasil

Apesar dos incrveis ganhos de eficincia e produtividade em muito setores, do show na renda agrcola, que ou de R$257 bilhes em 2004 para provavelmente mais de R$450 bilhes em 2014, e do salto nas exportaes, que aram de US$20 bilhes em 2000 para praticamente US$100 bilhes, nestes ltimos anos, a agricultura brasileira ou por algumas transformaes que merecem destaque, entre elas, o considervel aumento de custos de produo nos ltimos anos, principalmente devido s seguintes questes:

- Custo do trabalho (aumento de 100% em dlar em 10 anos) e das crescentes exigncias e questes trabalhistas;

- Pessoas deixando de procurar trabalho afetando a disponibilidade e o custo da mo de obra (61 milhes em idade de trabalho no procuram emprego, no trabalham e no estudam no Brasil);

- Custos ligados aos aspectos ambientais, exigncias e normas;

- Custos do crime, com roubos de cargas, de propriedades, necessidade crescente de seguros e segurana nas propriedades e fortalecimento do crime organizado no Brasil;

- Custos das operaes logsticas, apesar de recentes privatizaes, o ponto que poderia ser mais facilmente resolvido, mas caminha muito aqum das possibilidades;

- Custos ligados aos tributos e principalmente, complexidade tributria;

- Custos gerais da burocracia do Estado, do tempo gasto e dos excessos de procedimentos, tamanho excessivo e reduzida eficincia do governo;

- Custos crescentes e menor disponibilidade de capital, com elevao de juros e dificuldades de o ao crdito governamental;

- Custo "cambial", com a excessiva valorizao do real penalizando a atividade exportadora;

- Custo da corrupo nas empresas estatais e no governo, nos trs nveis (federal, estadual e

municipal), onerando o setor produtivo;

- Retorno da inflao;

- Falta de adequado entendimento do Judicirio sobre o funcionamento das cadeias produtivas e os recentes casos de intervenes inadequadas na citricultura e na cana;

- Perda de eficincia nas Agncias Reguladoras, notadamente a lentido nos processos de aprovao na ANVISA, dificultando o a produtos importantes tanto para plantio quanto para defesa da produo;

- Crescente custo ideolgico, com movimentos contra a produo, contra as empresas e o lucro. Convido-os a lerem o artigo "A Ameaa Progressista", disponvel no site da SRB (http://www.srb.org.br/).

Estes fatos todos, que no so exclusivos agricultura, fizeram com que a gerao de renda no Brasil ficasse comprometida, o que se observa com o crescimento quase zero de nossa economia e a reduo de 3% da atividade industrial, observada em 2014. Este comprometimento na gerao de renda est comprometendo e vai comprometer a distribuio de renda em 2015.

necessrio o setor pblico e privado trabalharem fortemente para reduzir estes custos de produo visando tornar o pas mais competitivo e os produtores, mais capazes de ar perodos de menores preos e continuar conquistando espao no mercado internacional, gerando dlares para impulsionar o crescimento do Brasil.

Caso isto no seja feito, o Brasil corre grandes riscos de no ser o vencedor no indiscutvel aumento de consumo de alimentos que ocorrer no mundo, que comento mais adiante. Feita esta anlise do aumento dos custos de produo, a prxima sesso aborda mudanas estruturais nas cadeias produtivas do agronegcio, que transformam o rural de maneira definitiva.

4 - Mudanas estruturais da agricultura

Entre muitos pases produtores, o Brasil provavelmente o que mais de se adequa a anlises dessas tendncias e mudanas apresentadas a seguir. o novo cenrio da agricultura, interferindo cada vez mais na vida dos agricultores.

- Viveremos perodos de aumento da volatilidade de preos na agricultura do mundo;

- Novos riscos devido s mudanas climticas;

- Crescentes interferncias das polticas governamentais, sejam de impostos, o a mercados e outros tipos de controles;

- Portflio tecnolgico e o tecnologia assumindo uma posio cada vez mais importante;

- Aumento na concentrao dos produtores rurais (mais propriedades sendo gerenciadas por um nmero menor de produtores mais eficientes);

- Mudanas no comportamento do produtor, cada vez mais profissionalizado e informado aumentando constantemente o conhecimento tcnico e mercadolgico;

- Maior o informao, a maioria destas de graa, sobre fornecimento de produtos e servios e tambm sobre os preos praticados em diferentes regies;

- Diversificao da agricultura para outras regies e atividades, incluindo integrao de gros com produo de protena animal, energia (biomassa) e atividades florestais;

- Aumento das necessidades de capital, com necessidade de desenvolver novas alternativas de e e crdito para atender as necessidades de capital de giro dos agricultores;

- Interferncias e restries sobre o uso da terra;

- Oportunidades para o trabalho urbano esto aumentando dificultando a mo de obra rural;

- Escassez de recursos necessrios para a produo agrcola em muitas regies, notadamente China e ndia;

- A necessidade de se aumentar a escala um princpio bsico para ganho de eficincia e reduo de custos com necessidade de boa gesto da terra, ativos e custos;

- Mudana no balano de poder na direo dos agricultores organizados;

- Agricultores esto se organizando em cada vez mais grupos de compra, cooperativas e centrais de cooperativas. Necessidade de boa gesto da terra, ativos e custos;

- Vrios atributos de compra demandando diferentes abordagens para atender a diferentes perfis de agricultores e a combinao de atributos tcnicos, relacionais e de preo esto se tornando cada vez mais importante ao se analisar o comportamento de compra dos agricultores;

- Aumento da exposio ao risco e da demanda por capital devido oferta de produtos e servios mais sofisticados no mercado;

- O uso da tecnologia ir permitir mudanas incrveis no futuro, a maioria relacionada agricultura digital ("nas nuvens");

- Grandes desafios no tocante sucesso nas propriedades rurais, nas entidades de classe, associaes, sindicatos e cooperativas, entre outros;

- Uma nova era de governana nas organizaes (entidades de classe, associaes, sindicatos e cooperativas).

Em se pensando nestas mudanas, fica evidente que a agricultura em 2025 ser muito diferente do formato atual de se produzir. O importante disto tudo que no faltaro oportunidades para se colocar os produtos dos pases que produziro de maneira eficiente, e o Brasil tem grandes chances de aumentar fortemente as exportaes no cenrio atual, e mais ainda se fizer as reformas estruturantes demandadas no item 3.

5 - O Brasil tem oportunidades imensas no curto, mdio e longo prazo

Os direcionadores (drivers) de consumo so muito positivos para a agricultura, e podem ser resumidos nos seguintes:

- Populao chegar a 9 bilhes de pessoas em 2050, portanto necessitamos produzir para mais 2 bilhes;

- Existe intensa urbanizao, estimada em cerca de 90 milhes de pessoas por ano, que impacta no hbito de consumo (mais protena demandando mais gros) e nas quantidades demandadas de produtos;

- Crescimento econmico mundial, principalmente nos pases emergentes, que so os grandes mercados futuros de alimentos, impactando diretamente em suas necessidades de importaes ;

- Distribuio de renda na sociedade impacta positivamente o consumo e esta vem acontecendo, aliada ao crescimento econmico;

- Grandes programas governamentais de distribuio de alimentos e de renda parcela mais miservel das populaes impactam fortemente o consumo;

- Crescimento do mercado de alimentao para animais, sejam os produtores de protena, como de recreao (mercado pet), com taxas elevadssimas em muitos pases;

- Onda BIO: mesmo com o preo do petrleo em baixa, o que traz ameaas, volta a crescer no mundo a conscientizao do biocombustvel, desde o etanol, biodiesel, bioquerosene, biogasolina, bio-pneu, bio-plstico, bio-eletricidade, todos demandando produo agrcola. Todo pas que assina uma meta de uso de biocombustvel misturado ao combustvel fssil abre uma oportunidade ao Brasil.

um desafio avaliar quais pases do mundo esto mostrando as maiores oportunidades em termos de crescimento no mercado de alimentos e quais as principais caractersticas comuns entre eles. Antes de apresentar suas caractersticas comuns, convido os rpida viagem virtual em meio a alguns nmeros surpreendentes que mostram a urbanizao e mudana de consumo.

A Indonsia possui cerca de 252 milhes de habitantes e a rede de fast food KFC inaugurou sua primeira loja em 1979 sendo que em 2013 a rede j possua 470 restaurantes no mesmo. Em 2011, a Indonsia possuia 5.900 restaurantes fast food e para 2017 esperado que o pas alcance cerca de 9.000 unidades.Possuindo 175 milhes de habitantes, a Nigria teve sua primeira loja da rede KFC em 2009, sendo que aps 3 anos esse nmero saltou para 25. Na Ngria, a indstria do fast food cresce mais de 10% ao ano.

O McDonalds iniciou suas atividades na China em 1990. Hoje o pas conta com 2.000 restaurantes sendo o terceiro maior mercado da companhia com US$2,8 bilhes em vendas em 2013. O Vietn possui quase 100 milhes de habitantes e o fast food est crescendo 26% ao ano, triplicando os restaurantes em 5 anos. A rede KFC inaugurou seu primeiro restaurante em 2011 e atualmente possui 140 lojas que geram cerca de 4.000 empregos. O McDonalds abriu sua primeira loja no Vietn em 2014 e atendeu 20.000 consumidores nos dois primeiros dias. O Paquisto possui quase 200 milhes de habitantes e representa um mercado de U$S1 bilho por ano com crescimento anual de 20%, para ficar em alguns exemplos.

Essa exploso no nmero de redes fast food ocorre pois essas companhias conquistaram a confiana dos consumidores contando com alta confiabilidade em suas cadeias de suprimento e demonstrando preocupaes com questes relacionadas sade da populao. Tambm possvel notar que ocorreu uma ocidentalizao das novas geraes com o grande uso de dispositivos mveis. So pelo menos 12 os fatores que temos que observar para identificar os mercados de alimentos em expanso nos prximos anos e que merecem ateno por parte das empresas brasileiras e aes de construo de posies nestes mercados:

- Grandes populaes (em quantidade de habitantes);

- Populaes crescentes (taxa de crescimento da populao);

- Elevada populao jovem (com tendncia de crescimento);

- Rpida urbanizao (alto percentual de pessoas que ainda vivem na rea rural e esto se mudando para as cidades);

- Gerao de renda (crescimento do PIB);

- Distribuio de renda (crescimento da classe media);

- Possuem recursos com valor a serem exportados (petrleo/gs/minerais) gerando capacidade para pagar pelas importaes de alimentos;

- Apresentam deficincia em recursos produtivos (baixa disponibilidade de terras, de gua, ausncia de outros recursos e capacidade para investir e receber investimentos estrangeiros diretos para a produo de alimentos);

- Leis que favorecem a importao de alimentos (abertura para importaes, poucas barreiras como taxas de importao, cotas, barreiras sanitrias;

- Apresentam sensibilidade decrescente trazendo esforos reduzidos para a questo de segurana alimentar/produo local e apresentam estabilidade dos governos/ ambientes institucionais;

- Adoo de polticas favorveis mistura de biocombustveis na gasolina;

- Disponibilidade de canais de distribuio para importao e sistemas logsticos factveis. Apresentam atratividade para que varejistas internacionais levem alimentos a esses pases utilizando recursos estratgicos globais (estratgias de "global sourcing";

- Taxas de cmbio que favorecem a importao de alimentos (moedas locais valorizadas).

Como alguns exemplos, China, ndia, Indonsia, Vietnam, Paquisto, Nigria, Angola, Africa do Sul e pases agregados do Oriente Mdio, entre muitos outros. Ainda veremos grandes surpresas nesses pases, uma vez que os mesmos possuem muitos mercados de rua, alta informalidade nas cadeias alimentares e ausncia de dados disponveis. aro cada vez mais a serem grandes importadores. Essas so algumas caractersticas dos pases que no podem deixar de constar nas estratgias de organizaes mundiais de bens de consumo para os prximos anos, sendo grandes oportunidades para pases exportadores de alimentos como o Brasil.

6 - Quem vencer a disputa da oferta de alimentos aos crescentes mercados?

Os pases e regies vencedoras na oferta de alimentos para a crescente demanda so os que tiverem e manejarem bem os recursos necessrios para se produzir, sejam os naturais (fontes de vantagem comparativa) como os inerentes atividade humana (fontes de vantagem competitiva).

Aqui esto como uma lista de trabalho.

- Terra e solo (disponibilidade e preo);

- gua e clima (presena e custo);

- Fator trabalho, com disponibilidade de mo de obra produtiva, e qualidade da educao;

- Nutrientes (fertilizantes...) disponveis e a preos competitivos;

- Tecnologia, pesquisa e desenvolvimento fortes gerando solues aos problemas e produtividade;

- Informao disponvel e conectividade (velocidade de transmisso de informaes);

-Disponibilidade de capital: crdito ($) para investimentos e seguro de produo e renda;

- Instituies (leis) com credibilidade e confiana e em contnuo aprimoramento;

- Organizaes (associaes) eficientes e propositivas, bem gerenciadas;

- Eficincia de governos, promovendo investimentos, marcos regulatrios e privatizaes;

- Energia - disponibilidade e competitividade de custos para os produtores;

- Capacidade de estocagem, malha eficiente de transporte e operaes logsticas;

- Capacidade de gesto agrcola nas propriedades, evitando duplicidades e desperdcios;

- Capacidade de coordenao da cadeia produtiva (sistema agroindustrial) reduzindo custos de transao e promovendo aes conjuntas para desenvolvimento setorial;

- Comunicao adequada da atividade produtiva como geradora de valor na sociedade;

Estes so os recursos que precisam ser trabalhados para maior competitividade do agronegcio, via governo e cadeias produtivas integradas, e com isto aumentar a capacidade de gerao de renda no Brasil, que possibilitar o governo continuar as aes de distribuio de renda.

Alm da agenda de polticas e aes pblicas, fundamental a presena de um setor privado ativo, inovador. Portanto, no mbito empresarial, sempre relacionado com o pblico, necessrio s empresas atuarem no modelo que chamo de CCCV (criao, captura e compartilhamento de valor), visando o trip de aes estratgicas em diferenciao, custos e aes coletivas.

Em diferenciao destaco as importantes estratgias de CCCV ligadas : construir uma abordagem de relacionamento integrado e oferta de solues ao comprador; fortalecer sempre a pesquisa e a inovao, construir estratgias de fidelizao, inovando em produtos/servios, imagem e marca, solues de embalagens, canais e fora de vendas, servios e finalmente, ter como foco oferecer performance para o comprador. Buscar sempre a sustentabilidade e as certificaes de excelncia.

Em custos destaco as importantes estratgias de CCCV ligadas : explorar com competncia atividade central da empresa (o core business); melhor uso de todos os ativos e recursos de organizao; estratgia de produo em escala; qualidade, segurana e custos de insumos; eficincia em trabalho (simplicidade); contnuo redesenho das operaes; estmulo de competio entre fornecedores; arquitetura financeira criativa (fontes de $$); reduzir o poder de barganha dos vendedores; busca dos melhores momentos de compras; contratos estveis buscando reduzir custos de transao; uso intensivo de inovaes tecnolgicas redutoras de custos e gesto "celular" dos custos de produo.

Finalmente, em aes coletivas, destaco as importantes estratgias de CCCV ligadas : aes coletivas horizontais (empresas da mesma indstria) e verticais (da mesma cadeia produtiva), aes com empresas no relacionadas; fortalecer as associaes setoriais e entidades de representao, participar de cooperativas, criar a fortalecer consrcios e alianas estratgicas, entre outras formas de trabalho cooperativo. Melhorar a cadeia de suprimentos via montagem de centrais de compras, aes conjuntas em produtos/marcas/embalagens e servios, canais de distribuio e vendas, comunicao, precificao, entre outras. uma rea onde o agro brasileiro tem muito a melhorar.

Estas seriam ento as contrapartidas, ou as estratgias do setor privado para um agronegcio brasileiro cada vez mais competitivo.

Concluso

Apesar de um 2015 muito difcil, acredito que com aes adequadas nos ambientes pblicos e privados para reduo dos custos de produo no Brasil e melhoria na utilizao de recursos, listados no item anterior, temos condies de continuar avanando sustentavelmente em direo mais produo e mais exportaes. O agronegcio no a nica, mas sem dvida a maior chance aberta sociedade brasileira para insero mundial nos prximos 30 anos, promovendo com isto o desenvolvimento econmico, social e ambiental de nossa sociedade.

O prximo o olhar como fazer isto, partir desta lista e trabalhar fortemente em um plano estratgico com claros objetivos, adequadas estratgias e arrojados indicadores a serem alcanados. Desejo a todos um feliz natal, com muito dilogo e congraamento, e um 2015 com muita sade e trabalho, que sero necessrios para enfrentar a situao que teremos pela frente. Tambm desejo a todos grandes realizaes no mbito pessoal no ano que se inicia. Obrigado Sociedade Rural Brasileira por este inesquecvel convite.