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A estranha moral de Stiglitz 2267y

por Instituto Liberal
10/02/2015 - 16:48

"Voto: um instrumento e smbolo de poder do homem livre, que faz dele um tolo e promove o naufrgio do seu pas". Ambrose Bierce 524v2s

Joseph E. Stiglitz, Prmio Nobel de Economia e professor da Universidade de Columbia, escreveu recentemente um artigo,reproduzido por alguns dos mais importantes jornais do mundo, defendendo que os europeus e os organismos internacionais devem perdoar parte da dvida grega, concedendo quele pas a possibilidade de um recomeo.

O economista, opositor intransigente das polticas de austeridade e defensor da gastana estatal como soluo dos problemas econmicos, tem dito, entre outras enormidades, queo problema europeu no a Grcia, mas a Alemanha. Entretanto, nada supera o arsenal de bobagens quanto a seguinte prola, na verdade a cereja do bolo com a qual ele encerra o famigerado artigo sobre a moralidade da reestruturao da dvida grega:

"Dificilmente eleies democrticas emitem uma mensagem to clara como as da Grcia. Se a Europa disser no s demandas dos eleitores gregos por uma mudana de curso, estar dizendo que a democracia no tem importncia, pelo menos no que se refere economia".

Confesso que tive de ler o pargrafo acima diversas vezes para me convencer de que no estava lendo errado. Afinal, o gajo ganhador de um Nobel.

A primeira imagem que me veio mente foi a de um plebiscito no Mxico sobre a emigrao em massa para os EUA. Seguindo o raciocnio de Stiglitz, desde que a democracia mexicana decidisse que seus cidados tm o direito de morar no pas vizinho, este deveria imediatamente retirar todas as barreiras de fronteira hoje existentes, em nome do respeito s decises democrticas.

Pensei tambm que seria razovel se os venezuelanos votassem pelo aumento do preo do seu petrleo para um patamar mnimo de, digamos, 100 dlares o barril, como forma de resolver os seus atuais problemas econmicos. Em nome do valor elevado da democracia e da soberania das decises populares, o mundo inteiro deveria acatar o preo pedido pela Venezuela.

Como todo bom esquerdista, o senhor Stiglitz pensa que as decises da maioria devem prevalecer sobre quaisquer valores ou princpios. Para ele, "a voz do povo a voz de Deus". No . Podemos no concordar inteiramente com a frase da epgrafe, mas difcil discordar do sarcasmo de Churchill: "o melhor argumento contra a democracia uma conversa de cinco minutos com o eleitor mdio." No alvo!

Na verdade, a questo central aqui no o que o povo grego deseja ou merece, mas quem paga a conta. Assim como o voto da maioria jamais poder revogar a lei da gravidade, h leis econmicas que tampouco iro submeter-se ao escrutnio de uma maioria estpida. E o fato que, queiram ou no, gostem ou no, "no existe almoo grtis". Ou, como nos lembra Maimonides, "uma verdade no se torna mais verdadeira em virtude do fato de que todo mundo concorda com ela, nem menos verdadeira se o mundo inteiro a desaprova". Simplesmente, a razo e a verdade independem de maiorias ou de consensos - Galileu que o diga.

A moralidade do senhor Stiglitz, como ademais a moralidade da maioria dos esquerdistas meio bizarra. No fim e ao cabo, ele quer ajudar os gregos no com o seu prprio dinheiro, mas com o dinheiro dos outros. No custa lembrar que os bancos, a quem ele gostaria de imputar os prejuzos de um possvel perdo da dvida grega, nada mais so do que intermedirios entre poupadores e tomadores. Assim como a "reestruturao" da dvida argentinaprejudicou majoritariamente pequenos e mdios poupadoresmundo afora, e no propriamente os bancos, o perdo da dvida grega tambm vai recair sobre poupadores individuais, muitos dos quais pequenos investidores.

Ademais, ainda que fosse possvel transferir o ivo grego para o balano das instituies multilaterais, como FMI, BCE, Banco Mundial, etc., o custo seria ado pelos pagadores de impostos de todo o mundo, principalmente dos combalidos europeus.

Por outro lado, por que a vontade dos eleitores gregos deveria prevalecer sobre a vontade dos eleitores de outros pases? Os alemes, por exemplo, quando chamados a opinar, parecem ter sido muito claros no sentido de que no querem pagar uma conta que no sua. Convenhamos: se so eles que vo ar a maior parte dos custos do calote grego, por que a sua opinio no deveria ser ouvida?

Em resumo, como bem destacou a RevistaThe Economist, os cidados de qualquer nao tm todo o direito de escolher os benefcios sociais ou sistema econmico que quiserem e bem entenderem, desde que, evidentemente, arquem com o custo de suas escolhas. O resto moralidade torta de quem pretende fazer justia com o dinheiro dos outros.

PorJoo Luiz Mauad