" mais fcil enganar as pessoas do que convenc-las de que foram enganadas." Mark Twain 6t5x25
Acho que j abordei esse assunto aqui antes, mas devido sua grande relevncia, no custa voltar a ele. Afinal, se Thomas Jefferson estava certo e "o preo da liberdade a eterna vigilncia", uma das obrigaes do liberal tentar rechaar os sofismas antiliberais sempre que eles aparecerem.
No por acaso, um dos sofismas mais bem introduzidos no imaginrio popular pelos keynesianos de ocasio diz que os gastos pblicos so benficos para o crescimento do pas. Vejam, por exemplo, o pargrafo introdutriodesta notcia, publicada no fim do ano ado, no site G1, depois da divulgao do PIB tupiniquim do terceiro trimestre:
"Os gastos do governo cresceram 1,3% no terceiro trimestre deste ano e ajudaram a tirar o Produto Interno Bruto (PIB) do "atoleiro" visto no incio deste ano, quando houve recesso tcnica - configurada por dois trimestres seguidos de queda no PIB".
Tudo bem que muitas das informaes que vieram a seguir desmentem, pelo menos em parte, esta baboseira, mas, como dizem por a, a primeira impresso normalmente a que fica.
A origem dessa falcia, disseminada, boa parte das vezes, at involuntariamente, est na famosa identidade contbil, utilizada mundo afora para o clculo do Produto Interno Bruto:
PIB = C + I + G + X - M.
O problema no est na frmula em si. Como mtodo de aferio, ela largamente aceita em todo mundo. O volume do PIB, calculado pelo lado da demanda, equivalente ao somatrio do consumo das famlias e empresas (C), dos investimentos (I), dos gastos do governo (G) e das exportaes (X), menos as importaes (M).
A falha da "teoria" intervencionista est no fato de que governos no criam riqueza. Portanto, quaisquer aumentos em "G" decorrem necessariamente de redues equivalentes nas demais variveis, principalmente "C" e "I" - de onde so desviados, inevitavelmente, os recursos dos impostos e dos emprstimos que o governo toma da sociedade. Em outras palavras, os gastos pblicos so recursos que deixam de ser utilizados pelos consumidores, investidores e produtores. O que ocorre apenas uma redistribuio forada da renda, cujo resultado a alocao ineficiente da mesma.
Enquanto os gastos do governo (G) ganham uma relevncia indevida aos olhos dos desavisados, as importaes (M), por outro lado, no raro so vistas como viles.
Vejam, por exemplo,esta notcia, publicada no portal de O Globo, recentemente, a respeito do resultado do PIB norte americano do 4 trimestre:
"Um dficit comercial maior, j que o crescimento global mais lento afetou as exportaes e a slida demanda domstica atraiu importaes, subtraiu 1,02 ponto percentual do crescimento do PIB no quarto trimestre."
O leitor poderia argumentar que se trata de mero engano de algum jornalista novato, sem conhecimento adequado de economia ou de finanas pblicas, mas no o caso. Prestem ateno, por exemplo, no que dizesta matriado Estado, de 2012, que coloca em destaque uma entrevista do ento ministro da fazenda, Guido Mantega, em que o indigitado afirma, com todas as letras, que aas importaes "comeram" parte do PIB:
"Mantega ressaltou que, enquanto as exportaes cresceram apenas 0,2% no perodo, as importaes tiveram expanso de 1,1%."Portanto, as importaes de bens e servios comeram parte do nosso crescimento", lamentou o ministro. Isso, de acordo com ele, cerca de 30% do crescimento no trimestre. "No pouca coisa, o que demonstra a necessidade de continuarmos com medidas de defesa comercial", destacou Mantega em coletiva de imprensa em que comentou o desempenho do PIB no primeiro trimestre."
Convenhamos, qualquer pessoa menos informada que se depare com tais informaes, principalmente se so oriundas do ministro da fazendo, sair com a firme impresso de que, quanto mais produtos importados consumir, menor ser o PIB do pas. A boa notcia, meu caro leitor que voc no precisa desistir daquele belo carro importado que vem namorando h tempos. Nem tampouco prejudicar o seu pas caso resolva adquiri-lo.
A confuso (to bem aproveitada pelos protecionistas de planto) provocada exatamente pelo sinal de subtrao na frmula acima, o que induz os desavisados a pensar que as importaes diminuem o valor do PIB. Aquele sinal (-), no entanto, est ali justamente para fazer com que as importaes tenham peso neutro no clculo do Produto INTERNO Bruto; afinal de contas, elas j esto presentes (com sinal positivo) tanto em C (consumo), quanto em I (investimento) ou X (exportaes), e at mesmo em G (gastos pblicos).
Peguemos um exemplo prtico. Suponha que uma determinada empresa adquira R$1,0 milho em mercadorias no exterior, com objetivo de revend-las no mercado interno. No final do negcio, ela vendeu todas as mercadorias por um milho e duzentos mil reais, obtendo um lucro de 20,0% sobre o investimento. No clculo do PIB, este R$1,2 milho estar includo em "C" - consumo das famlias -, embora esses produtos tenham sido fabricados fora do pas.
Para corrigir esta distoro, j que, por definio, o PIB deve espelhar somente a riqueza gerada internamente, o volume dessa importao (R$1,0 milho) deve ser subtrado, deixando um saldo lquido de R$200,0 mil, que o acrscimo efetivo no Produto Interno Bruto decorrente da operao. Portanto, longe de contribuir para a reduo do PIB, aquela operao de importao foi bastante positiva.
Em resumo, nem os gastos do governo aumentam o PIB, nem as importaes o diminuem. O segredo do crescimento econmico algo bem mais complexo do que isso. Criar riqueza muito diferente de mover recursos e renda de um lado para o outro. At porque, se economias fechadas e governos gastadores fossem sinnimo de eficincia e bom desempenho econmico, o Brasil estaria muito melhor do que est, no mesmo?
PorJoo Luiz Mauad