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O que o mundo espera do agronegcio 284z6s

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24/03/2015 - 08:23

Ningum mais duvida de que o Brasil hoje uma das maiores potncias agrcolas do planeta. Graas a agricultores competentes e investimentos em tecnologia tropical, tornamo-nos lderes globais em importantes commodities. Gros, acar, caf e algodo so exportados com base em cotaes de Bolsas e chegam a mais de 200 pases. 15656x

Mas a pergunta que fica : estamos conseguindo entender e atender as expectativas de nossos consumidores finais? Nosso nico papel vender commodities ou h outras oportunidades que no esto sendo exploradas?

Vejo hoje quatro grandes vetores que puxam a demanda do agronegcio no mundo. Nos pases pobres, a preocupao central a "segurana alimentar" da populao no sentido mais clssico ("food security") - oferta crescente de alimentos a preos veis.

Quase 1 bilho de pessoas ainda a fome no mundo. Na sia e na frica, mais da metade da populao vive em condies precrias de subsistncia em pequenas propriedades no campo, sem conhecimento, tecnologia e o a mercados.

Para esse imenso grupo, a palavra mgica "produtividade", obtida pelo aumento do rendimento e escala da produo domstica, ou pela maior abertura para importaes competitivas, reduzindo as barreiras que hoje impedem o comrcio. Esse o segmento em que o Brasil se posiciona muito bem desde que existe, primeiro em produtos tropicais, depois nas grandes commodities da alimentao mundial.

Na sequncia, vem outro vetor ainda pouco explorado pelo agronegcio brasileiro: a questo da "segurana do alimento" ("food safety"). Cresce o nmero de pases cuja preocupao central no mais a quantidade produzida no campo, mas sim a qualidade dos alimentos que chegam mesa dos consumidores. Aqui o que interessa no volume, mas sim sanidade comprovada, armazenagem adequada, distribuio rpida, certificao, rastreabilidade etc. Em suma, o consumidor quer ter certeza quanto qualidade do alimento que vai comer e, para isso, a palavra mgica "segurana da cadeia de suprimento".

A China deve ser o pas em que essa preocupao hoje mais intensa. O Brasil possui cadeias produtivas consolidadas e bem coordenadas que chegam com eficincia mesa do consumidor domstico. Porm, na exportao, com raras excees, ainda no conseguimos ir alm da venda de commodities bsicas sem grande diferenciao.

Pases de renda mdia de Amrica Latina, Leste Europeu e alguns asiticos se encontram no terceiro grupo. Aqui a palavra forte "valor adicionado", traduzido em segmentao e variedade de produtos, criao de marcas globais, convenincia, sabores, embalagens e logstica eficiente.

Oferecer ao consumidor produtos confiveis, veis, saborosos, de alta qualidade, na hora certa. Este o estgio em que estamos no mercado interno. Mas no exterior ainda h muito por ser feito, principalmente entre o processamento e o consumidor final. Reside a a maior oportunidade de internacionalizao da cadeia de valor que o agronegcio brasileiro tem hoje.

No quarto grupo, esto consumidores de renda maior, que, na maioria dos casos, vivem em pases desenvolvidos em que a dimenso preo x qualidade x variedade j foi conquistada. Para esses consumidores mais ricos, o que interessa so "novas demandas" do tipo de alimentos produzidos localmente, prximos regio de consumo, com mnimo impacto ambiental e menor uso de tecnologia - orgnicos, sem antibiticos, sem transgnicos, sem instalaes fechadas. Exigncias que costumam elevar o preo do produto.

Esses quatro vetores definem demandas com diferentes comportamentos e velocidades, s vezes em direes opostas. Por exemplo, enquanto o primeiro grupo busca o aumento da produtividade por meio da maior tecnificao da produo, o quarto grupo est disposto a pagar mais por alimentos produzidos com menor intensidade tecnolgica.

Cabe s empresas entender esse quadro e buscar satisfazer seus diferentes grupos de clientes e consumidores. Cabe aos pases entender as diferentes dimenses da demanda global por alimentos e gerar as polticas e as regulaes adequadas.

Claramente cumprimos um papel relevante no suprimento global de commodities. Mas ser que estamos nos organizando adequadamente para aproveitar as fantsticas oportunidades que o mundo nos oferece?

Fonte: Folha de So Paulo. Por Marcos Sawaya Jank. 21 de maro de 2015.