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Mercado de boi gordo se descola da economia brasileira e aperta frigorficos 1g6p2w

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02/04/2015 - 17:57

SO PAULO - O mercado do boi gordo no Brasil continuar aquecido em 2015, com os preos pagos aos pecuaristas perto de patamares recordes, sustentados por uma oferta apertada e exportaes fortes, em um cenrio descolado da realidade de desacelerao da economia brasileira. 5ie4

O preo da arroba bovina no Estado de So Paulo, uma das referncias do mercado brasileiro, voltou a registrar recordes consecutivos no fim de maro, apertando as margens de frigorficos e do varejo.

O indicador Esalq/BM&FBovespa do boi gordo atingiu 147,61 reais/arroba na tera-feira, um patamar recorde. A valorizao de mais de 17 por cento em 12 meses.

"Tem um pouco de euforia com esses patamares de preo", disse Leonardo Alencar, gerente-executivo de Inteligncia de Mercado na Minerva Foods, uma das maiores produtoras de carne bovina do Brasil.

"O pecuarista que faz a conta comea a se perguntar... Como meu boi s sobe e a economia toda piorando?", afirmou o executivo Reuters.

A explicao est principalmente na oferta apertada de bovinos, muito mais do que na demanda, dizem os especialistas.

"Ns h alguns anos estamos alertando que existe um grave gargalo na produo de bezerros", disse o diretor da consultoria Informa Economics FNP, Jos Vicente Ferraz.

O diretor de Relaes com Investidores da JBS, maior processadora de carnes do mundo, Jeremiah OCallaghan, lembrou que a partir de 2010 o setor frigorfico no Brasil vinha registrando margens bastantes razoveis, o que estimulou o abate.

"(O Brasil) vem aumentando a produo de carne bovina mais rapidamente do que o rebanho vem crescendo", disse ele. "O que determina o preo do boi hoje mais oferta do que a demanda pela carne... Estamos num mercado relativamente enxuto."

Os contratos futuros da BM&F Bovespa apontam a arroba do boi gordo acima de 150 reais em todo o segundo semestre.

Mercado interno

O Brasil produziu aproximadamente 8,5 milhes de toneladas de carne bovina em 2014. Deste total, cerca de 81 por cento ficaram no mercado interno e 19 por cento foram exportados, segundo levantamento da Informa FNP.

A lgica seria que os consumidores brasileiros, que absorvem uma fatia to grande da produo nacional, pagassem pela carne o valor proporcional alta do preo do boi gordo.

No entanto, os analistas lembram que h uma forte resistncia no varejo a preos mais elevados que os atuais, inclusive por causa da inflao em geral, que corri o poder de compra da populao.

"O varejo est diminuindo margem e o frigorfico est diminuindo margem, e isso sinaliza que o consumidor no est aceitando essas altas", disse o diretor da Scot Consultoria, Alcides Torres.

Segundo a Scot, a margem dos frigorficos fechou maro em 8,4 por cento, pela relao entre o valor pago pelo boi gordo e os valores obtidos na venda de carne com osso, couro, sebo e outros subprodutos. No incio de maro, esse ndice era de 16 por cento.

Economistas projetam inflao acima da meta, juros elevados e uma retrao de 1 por cento no Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro em 2015.

"Todo esse cenrio econmico... acaba criando uma expectativa de que o preo do boi est descolado em relao economia, que est desacelerando, dando sinais negativos", disse Alencar, da Minerva.

Exportaes sustentam

O setor de carne bovina do Brasil, maior exportador global, projeta uma demanda aquecida no exterior, o que dever contribuir para manuteno dos abates e dos preos elevados para o boi gordo ao longo de 2015.

"O consumidor interno pode no ter poder aquisitivo, mas o externo pode ter. A carne do Brasil est ficando mais barata em dlar", disse Ferraz, da FNP.

A forte desvalorizao recente do real frente o dlar torna os produtos brasileiros mais atrativos para compradores externos e tambm encarece, na moeda local, produtos balizados em preos internacionais.

A provvel abertura do mercado da China e um bom desempenho das aquisies de Rssia, Chile, Egito e Ir, por exemplo, devero garantir bons embarques para a carne bovina brasileira este ano, disseram os especialistas.

A Abiec, associao que representa os frigorficos exportadores, projeta embarques recordes de 1,7 milho de toneladas de carne bovina em 2015, ante 1,56 milho em 2014.

Presso sobre os pequenos

A estratgia de escoar para o exterior a produo que no for absorvida no mercado interno no vel para pequenos frigorficos, que devero sofrer bastante em 2015.

"Vender carcaa no fecha a conta da compra do boi. Se acrescentar couro e sebo, se comear a desossar a carne, comea a melhorar essa relao. Se incluir exportao, melhora um pouco mais", ressaltou Alencar, da Minerva.

A tendncia, segundo os executivos dos grandes frigorficos, de muitas dificuldades para os pequenos em 2015, at com fechamentos de unidades.

"Quem ar de 2015, fica (no mercado)", projetou o executivo da Minerva.

OCallaghan, da JBS, lembra que muitas redes de supermercados do Brasil j comeam a demandar certos padres na carne ofertada, sem contar as certificaes e exigncias necessrias para a exportao.

"Pela sofisticao do mercado, voc vai eliminando algumas empresas que no conseguiram atingir esse grau de exigncia. Tem que haver um investimento", disse o executivo.

Mesmo assim, os executivos dizem que as grandes empresas no iro aproveitar a fragilidade das concorrentes menores para comprar frigorficos, como j ocorreu em outros anos, uma vez que a capacidade ociosa ainda muito grande no setor.

Fonte: Thomson Reuters, por Gustavo Bonato. Publicado em 01/04/2015 - http://br.reuters.com/article/businessNews/idBRKBN0MS56520150401?feedType=RSS&feedName=businessNews&utm_source=dlvr.it&utm_medium=twitter&dlvrit=1375018