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Introduo
Entre os dias 23 e 25 de maro foi realizada, em So Paulo, a Conferncia Acar e Etanol 2015. Participaram do evento importantes entidades do setor brasileiro e internacional, que dentre outros pontos, discutiram o futuro e os desafios do etanol brasileiro nos prximos anos.
Veja alguns pontos abordados.
Contexto
Um dos desafios da cadeia produtiva da cana-de-acar aumentar a produo e, simultaneamente, reduzir os custos, aumentar a produtividade e ter uma mercadoria de qualidade, com elevada competitividade nos diversos mercados consumidores e, que seja sustentvel.
Tendo isso em mente, o etanol de primeira gerao, produzido a partir do processamento da cana-de-acar, foi a menina dos olhos do Brasil na dcada ada, quando a indstria estava em franca expanso.
Isso foi reflexo, dentre outros fatores, do aumento da demanda internacional por acar e em funo dos carros com motores Flex.Nesse perodo se fez pesados investimentos no setor sucroalcooleiro, com a fundao de usinas e disponibilidade de crdito, principalmente a partir de 2003.
Verificou-se forte aumento nas exportaes de etanol, motivadas principalmente pelo compromisso internacional de reduo dos gases do efeito estufa e a consequente do Protocolo de Kyoto, que entrou em vigor em 2005.
Dados do Ministrio do Desenvolvimento, Indstria e Comrcio Exterior (MDIC) mostram alta de 32,3% nas exportaes brasileiras de etanol em 2006, atingindo 3,43 bilhes de litros, e em 2008 as embarcaes do biocombustvel somaram 5,12 bilhes de litros, recorde.
A crise mundial
Em 2008/2009 a crise mundial repercutiu no setor canavieiro e afastou os grandes investidores. Houve forte retrao de crdito, aumento das taxas de juros e, consequentemente, as vendas de veculos Flex despencaram.
A partir da o que se observou foram uma sequncia de fatos de uma crise anunciada. A indstria sucroalcooleira sofreu ainda com uma srie de problemas climticos, aumento dos custos de produo e perda de competitividade do etanol frente gasolina.
Esta ltima estimulada por polticas governamentais de subsdio gasolina, cujos preos ficaram menores do que os vigentes no mercado internacional. Alm disso, em 2012 houve a desonerao da CIDE e do Pis/Cofins sobre os combustveis fsseis.
Durante a Conferncia o diretor tcnico do CEISE Brasil, senhor Paulo Gallo, comentou: "Estamos no meio de uma enorme turbulncia. O que diferencia esta crise das outras a intensidade e a durao".
De acordo com estimativas da Unio da Indstria de Cana-de-Acar (UNICA) e da Unio dos Produtores de Bioenergia (UDOP), nos ltimos seis anos 50 usinas, de um total de 370, fecharam as portas e 67 unidades encontram-se em recuperao judicial. A dvida do setor na regio Centro-Sul soma R$85,4 bilhes.
A regio Centro-Sul a maior produtora de cana-de-acar do pas e sua representatividade na matria-prima total processada foi de mais de 90% nas trs ltimas safras.
Esse cenrio e a falta de caixa das usinas resultaram em envelhecimentos dos canaviais, queda da produtividade e falta de investimentos em mecanizao.
Mesmo assim, o tom do discurso durante a Conferncia foi de otimismo e de acordo com o senhor Jos Carlos Correia Maranho, diretor superintendente da Usina Santo Antnio, a indstria brasileira superar essa crise, mas, alguns ficaro pelo caminho.
O que esperar
As expectativas para 2015 indicam um quadro de recuperao das margens para o setor, com a retomada dos investimentos a partir de 2016.
A senhora Miriam Bacchi, professora e pesquisadora da ESALQ/USP e com 22 anos de experincia no setor acredita que a indstria canavieira ar por uma reestruturao, com fuses, aquisies e volta do capital estrangeiro. Para isso ela defende uma definio precisa da matriz energtica por parte do governo federal.
O senhor Rui Chammas, presidente da Biosev e, o representante e diretor de relaes com os investidores do grupo francs Tereos Internacional, que controla o grupo Guarani, senhor Marcus Thieme, completaram dizendo que o aumento esperado da produo de gasolina brasileira j aconteceu e a maior demanda global de etanol est no Brasil, da a importncia de polticas claras e consistentes de mdio e longo prazos.
A senhora Miriam estimou que o pas tem condies de absorver 5 bilhes de litros, mas falta divulgar e promover o etanol para o consumidor, explicitando as vantagens ambientais e de preo.
O presidente da usina Coruripe, senhor Juscelino Oliveira de Sousa, completou destacando a importncia de repensar formas alternativas de comercializao do etanol e a necessidade de aproximao entre indstria e consumidor.
Para o senhor Luiz Gustavo Junqueira Figueiredo, diretor comercial da Alta Mogiana e presidente da Cmara de Acar e Etanol da BM&FBovespa, a demanda por etanol flutua de acordo com os preos, se estes recuarem a demanda, consequentemente, aumentar.
O senhor Juscelino declarou que nos prximos anos a expectativa de aumento de consumo de combustveis, no restando dvidas de que haver mercado para o etanol. Ele frisa que a questo no a fatia de mercado, mas a participao nos lucros (profit share).
Mesmo com a quebra de 4,6% da safra 2014/2015 de cana, os estoques mundiais de acar devero ser suficientes para manter o cenrio baixista ao longo desse ano. Com isso, as usinas mantero uma produo mais alcooleira, o que poder favorecer a recuperao da receita em funo da maior liquidez do biocombustvel.
De acordo com as palavras do senhor Luiz Gustavo (Alta Mogiana) durante a Conferncia, o mercado est abastecido de acar e por isso no deveremos produzir em grande quantidade.
Atrelado a isso, o governo da Tailndia, segundo exportador mundial de acar, modificou a poltica interna de subsdio, garantindo preos mnimos aos produtores e incentivando o aumento da rea de cana em detrimento da do arroz. Alm de gerar excedente da commodity no mercado, tem-se um novo fator baixista sobre os preos internacionais.
Segundo o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA), as exportaes tailandesas de acar bruto devero ter incremento de 13,3% frente 2013/2014, totalizando 8,5 milhes de toneladas. Nos ltimos cinco anos os embarques aumentaram 72,4%.
Embora o cenrio esteja desfavorvel, principalmente pela instabilidade econmica, do crescimento negativo do PIB e a inflao acima da meta, importante buscar oportunidades em meio crise.
O senhor Marcus Thieme acredita que o retorno da CIDE (Contribuies de Interveno no Domnio Econmico) e o aumento da participao do etanol anidro na gasolina para 27% foram decises importantes para o setor, alm do ProRenova, linha de crdito do BNDES de apoio renovao e fundao de canaviais.
O representante do grupo francs terminou dizendo que para a safra 2015/2016 existe um potencial incremento de 10% na demanda de etanol anidro e de, mais ou menos, 18% parao hidratado.
Com as novas medidas anunciadas pelo governo sobre a tributao dos combustveis fsseis, o impacto sobre o preo da gasolina e do diesel nas refinarias foi de R$0,22/l e R$0,15/l, respectivamente.
Outro ponto positivo e citado pelo senhor Luiz Silvestre Coelho, diretor da ED&F Man a desvalorizao da moeda brasileira frente ao dlar, que foi a mais significativa diante de outros pases. Isso dever favorecer a demanda internacional pelo etanol brasileiro por estar mais barato frente ao produto concorrente.
De acordo com o Ministrio do Desenvolvimento, Indstria e Comrcio Exterio (MDIC), alguns pases da frica entraram para o ranking dos dez maiores importadores de etanol do Brasil, como Angola e Gana, que juntos adquiriram 30,43 milhes de litros em 2014.
Na sia, Taiwan (Formosa) e Cingapura ocupam a 5o. e a 6o. posies, respectivamente, com uma participao de 3,3% dos embarques do biocombustvel brasileiro.
A Coria do Sul se consolidou como segundo mercado importador, fechando 2014 com 417,06 milhes de litros. Os Estados Unidos, desde 2011, so os maiores compradores do etanol do Brasil.
O senhor Luiz Gustavo, da Alta Mogiana, considera que o produtor precisa perceber e entender o mercado como um todo e pensar em longo prazo, continuar produzindo etanol, mesmo que os preos no estejam atrativos.
Por fim, o senhor Paulo Gallo (CEISE BR) observou que os participantes da Conferncia esto com uma impresso melhor do que em 2014, mas com cautela diante das dificuldades que viro. E terminou dizendo: "finalmente existe uma luz - esperamos que no seja um trem vindo na contramo".
Bibliografia consultada
Conferncia Sugar & Ethanol 2015. Disponvel em: http://scotconsultoria-br.noticiascatarinenses.com/n/eventos/cobertura-conferencia-sugar-ethanol-2015/[email protected]&utm_source=Etanol&utm_campaign=6f63c0284d-BNDES_por_usina_Mar_26_2015&utm_medium=email&utm_term=0_9fda3940f1-6f63c0284d-71087053. o em 27 de maro de 2015.
Outlook Fiesp 2024: projees para o agronegcio brasileiro/Federao das Indstrias do Estado de So Paulo. -- So Paulo: FIESP, 2014. 100 p. : il. Disponvel em: https://docs.google.com/file/d/0B_TnzM-Mu2qVWVQ1cVpTWEpQWnc/view. o em: 30 de maro de 2015.