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Como incendiar os espritos mesquinhos 4j4o36

por Instituto Liberal
21/07/2015 - 14:00

"A inveja enxerga sempre tudo com lentes de aumento, que transformam pequenas coisas em grandiosas, anes em gigantes, indcios em certezas". Miguel de Cervantes 1h166

Escrita num tom severamente crtico, o Portal iG publicouextensa matria, com chamada de capa, sobre os salrios dos executivos das principais empresas de construo civil, com aes negociadas na bolsa de valores. A manchete uma boa sntese do vis altamente tendencioso da notcia:

"Supersalrios sobem em meio a desemprego recorde na construo civil".

Embora referncias diretas tenham sido cuidadosamente omitidas, quem l aquela estrovenga fica com a impresso de que os seus autores pretenderam demonstrar quo absurdo o pagamento de salrios to altos s diretorias das empresas, quando o setor se encontra em retrao e os ndices de desemprego bastante elevados. Na melhor das hipteses, o que se l nas entrelinhas que os empresrios gananciosos esto demitindo mo-de-obra em massa a fim de manter seus "supersalrios".

Tal conotao no poderia ser mais falsa, e s possvel a partir de ideias to absurdas quanto irrealistas, como veremos logo abaixo. No entanto, antes de qualquer outra observao, caberia indagar: qual o objetivo desse tipo de reportagem? Sim, pois aquela informao (que pblica e consta das demonstraes financeiras devidamente publicadas) s interessaria aos acionistas das respectivas empresas (PRIVADAS) e, no limite, Receita Federal. Para o restante da sociedade, tal matria absolutamente irrelevante, a menos que voc seja daqueles indivduos invejosos, sempre com "olho gordo" nos salrios alheios.

Mas vamos ao que interessa. A lucratividade bruta das empresas em geral - e das construtoras em particular - est vinculada principalmente demanda dos consumidores e, consequentemente, s quantidades produzidas. Numa firma bem istrada, quanto maior a demanda e a produo, maior ser o lucro total. Se a minha empresa construir e vender mil unidades, muito provavelmente lucrar mais do que se construir e vender apenas 100 unidades. Portanto, o interesse empresarial produzir a maior quantidade de unidades possvel.

A mo-de-obra no setor de construo um insumo importante, mas no deixa de ser um insumo como qualquer outro. Sua aquisio (contratao) est diretamente vinculada s quantidades produzidas. Quanto mais empreendimentos/lanamentos tiver uma empresa em determinado momento, maior ser a quantidade de trabalhadores demandados. O mesmo raciocnio vale para todos os outros insumos diretos. Logo, assim como no faz sentido nenhum uma empresa construtora manter o mesmo volume de compras de cimento e ferro, por exemplo, quando cai o nmero de obras em andamento, no normalmente adequado manter "em estoque" mo-de-obra ociosa.

Da mesma forma que as empresas no contratam funcionrios (ou adquirem outros insumos) por caridade, mas sim em funo da demanda e da produtividade marginal do trabalho, tampouco demitem trabalhadores por crueldade, mas por necessidade, at porque, pelo menos no Brasil, os custos para se demitir trabalhadores so elevadssimos.

Quanto aos salrios dos executivos, os autores da referida matria parecem no saber - embora devessem - que em tempos de crise e retrao da demanda que as empresas mais precisam da eficincia e da criatividade de seus principais gestores. istrar uma empresa em momentos de fartura moleza. Nessas ocasies, a demanda aquecida normalmente compensa eventuais ineficincias. Entretanto, quando a demanda e, consequentemente, os preos de venda caem, s sobrevivem e obtm algum lucro aquelas companhias que fazem bem o dever de casa. Portanto, no h nada de errado, pecaminoso ou contraproducente em se pagar salrios maiores aos executivos em pocas de crise.

Por tudo isso, matrias como aquela, alm tolas e nada informativas, s servem para incendiar os espritos desinformados e mesquinhos, causando revolta onde no deveria. Em meio a tantos desmandos e corrupo no governo e nas empresas estatais, esse tipo de notcia s pode pretender jogar uma cortina de fumaa sobre a opinio pblica. Quando leio esse tipo de baboseira, no consigo discordar de Joseph Pulitzer, para quem, com o ar do tempo, "uma imprensa cnica, mercenria demaggica e corrupta formaria um pblico to vil quanto ela mesma". Lamentvel!

Por Joo Luiz Mauad