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Transgnicos do bem 3n3v4s

por Xico Graziano
02/02/2016 - 14:00

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Pernilongo transgnico vira sucesso contra a dengue. A inusitada notcia vem de Piracicaba (SP). L, recente experimento, realizado a campo, com machos de Aedes aegypti modificados geneticamente conseguiu reduzir em 82% a gerao de larvas do inseto. Gol de placa da engenharia gentica.

Entenda como funciona a tcnica. Quem pica o ser humano, e transmite assim o vrus da dengue, a fmea do mosquito (ou pernilongo). Ela busca sugar sangue humano e o armazena em seu abdmen, pois precisa desse alimento, e unicamente dele, para fazer vingar seus incontveis ovos que nascero posteriormente nos recipientes com gua de chuva deixados por a. Por sua vez, os machos transgnicos, apelidados de "transmosquitos", produzem descendentes defeituosos, que portam uma protena causadora de morte prematura, pouco antes de se tornarem alados. Muito bem.

Acontece que as fmeas do Aedes somente aceitam ser fertilizadas uma nica vez. Ento, quando copuladas pelos machos transgnicos, elas tero seu ciclo de vida encerrado sem a gerao de filhotinhos, o que provocar uma tendncia de reduo da populao do inseto transmissor de doenas. Melhor que pulverizar inseticidas.

Quem criou esses novos heris na luta contra a dengue e, agora se percebe, tambm contra o zika e a chikungunya foi uma empresa britnica, a Oxitec. Seus cientistas denominaram OX513A a linhagem de pernilongos transgnicos trazidos para o Brasil. E o responsvel por realizar a experincia por aqui foi o prefeito de Piracicaba, Gabriel Ferrato. Tudo, por enquanto, ainda preliminar. Mas o resultado bem sucedido indica um incrvel sucesso da cincia na luta contra as enfermidades endmicas transmitidas por insetos. Zero agrotxicos.

Seriam os ecologistas radicais, aqueles que se opem tenazmente engenharia gentica, contrrios ao controle da dengue por meio dos insetos transgnicos? Sei no. Provavelmente permanecero em silncio, qui estupefatos, talvez meio confusos ao verificarem que os organismos transgnicos, que tanto combatem, podem servir ao bem estar da humanidade. No pela primeira vez. Os entendidos sabem que as insulinas produzidas por bactrias geneticamente modificadas auxiliam no combate doena da diabetes h pelo menos 40 anos. E jamais reclamaram dessa maravilha da medicina.

Tcnicas revolucionrias da biotecnologia produziram, especialmente na ltima dcada, centenas de drogas ou vacinas que se estima beneficiarem 325 milhes de pessoas no mundo. Alguns exemplos so inimaginveis. Cabras que produzem leite contendo o ativador de plasminognio (TPA), uma protena utilizada para dissolver cogulos sanguneos em vtimas de ataque cardaco; vacas que produzem lactoferritina, uma protena do leite humano com poderes antibacterianos, til no tratamento de pacientes imunossuprimidos; bananas que contm uma vacina para a hepatite B, capaz de auxiliar tremendamente os pases em desenvolvimento, onde a doena mata 10 milhes de pessoas anualmente. Nenhum ambientalista reclamou desses organismos geneticamente modificados (OGMs) com funes medicinais.

Da mesma forma, nunca se soube de algum, ecologista ou naturalista, que reclamasse dos deliciosos queijos europeus, camemberts, gorgonzolas e que tais, cujo leite de que se originam sofre, h tempos, a fermentao com microrganismos transgnicos. Estes so superprodutivos, capazes de acelerar o processo de fabricao do coalho sem comprometer sua qualidade organolptica. Em todos esses casos, medicinais ou alimentares, o xito da biotecnologia universalmente aceito.

H dois meses, a Food and Drug istration (FDA), agncia reguladora de alimentos e medicamentos dos EUA aprovou, aps longas anlises de biossegurana, a comercializao de um tipo de salmo transgnico. Sua modificao gentica, promovida a partir do gene de outra espcie do peixe, quase dobra o potencial de crescimento do animal. A composio nutricional e o sabor continuam os mesmos, a carne fica mais colorida. Menos tempo na criao, mais protena e sabor no prato.

Na agropecuria, porm, os produtos transgnicos continuam recebendo forte resistncia. Por qu? Desconheo a resposta certa. Existe uma discriminao contra o agronegcio, como se a transgenia interessasse apenas aos grandes produtores. Mas, em 2014, as lavouras transgnicas se estendiam por 181,5 milhes de hectares, cultivados em 28 pases por 18 milhes de agricultores. E no se relata na literatura internacional nenhum problema de sade humana advindo da ingesto desses alimentos.

No incio, fazia sentido certo temor. Quando, em 1982, um grupo de cientistas belgas conseguiu, pioneiramente, retirar um pedao do gene de uma espcie e inserir no cromossomo da outra, parecia perigoso hibridar cargas genticas, de plantas ou animais, sem cruzamento sexual. Todos pedimos uma "moratria" de cinco anos. Nesse contexto surgiu uma nova disciplina: a "biossegurana". Suas regras, adotadas nos laboratrios de ponta, foram sendo estabelecidas de forma muito rigorosa. Hoje, adas trs dcadas, podem os consumidores ter certeza: os requisitos da biossegurana garantem a qualidade dos alimentos transgnicos. Agora, das salsichas, dos salgadinhos, dos bolos de confeitaria e tantas gororobas vendidas por a, vai saber...

Concluso: existe, claramente, um problema "ideolgico" dentro do ambientalismo, que o coloca contra os transgnicos da agricultura. Os demais, tudo bem. estranho. Mas a evoluo cientfica uma fora motriz sem marcha r. Tampouco ite maledicncia, nem preconceito. Que os transmosquitos nos ajudem a combater no apenas a dengue, mas tambm o pensamento retrgrado.