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Estudo diz que pecuria pode superar papel de vil 6f4t

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29/04/2016 - 16:10

Importante emissora de gases de efeito estufa, a pecuria brasileira tem sido alvo de diversos estudos cientficos para mudar padres produtivos e livrar-se do papel de vil. Um deles, lanado no final de maro a partir do mapeamento das pastagens no territrio nacional e de simulaes baseadas em dados econmicos e ambientais, demonstra o caminho: com a expanso de prticas sustentveis em sistemas integrados agricultura, a atividade pode ter expressivo crescimento, alcanar maior lucratividade sem desmatar novas reas e ainda virar o jogo dos impactos negativos, tornando o hbito de comer carne parte da soluo e no um problema para o combate s mudanas climticas. 142022

"Se no fizermos um trabalho rpido de adaptao, o agronegcio estar fortemente ameaado", adverte Eduardo Assad, pesquisador da Embrapa Informtica Agropecuria, em Campinas (SP), coautor do relatrio em parceria com o Centro de Estudos do Agronegcio (GVAgro), da Fundao Getlio Vargas, e Embaixada Britnica.

Entre as novidades, a pesquisa apontou que, mediante a integrao com a lavoura e o aumento da lotao de 1,55 para 2,20 animais por hectare, possvel melhorar o solo, ampliar o rebanho brasileiro das atuais 200,00 milhes para 324,00 milhes de cabeas e ao mesmo tempo neutralizar as emisses de gases de efeito estufa em dez anos.

Ao abranger 100,0% das pastagens do pas (hoje, 169,00 milhes de hectares), o modelo de maior eficincia e baixa emisso causaria impacto de R$35,80 bilhes ao Produto Interno Bruto (PIB) por ano, considerando o efeito multiplicador na cadeia produtiva.

No cenrio menos otimista, se o modelo cobrir um quarto das atuais reas produtivas, a injeo no PIB seria de R$9,00 bilhes ao ano. "Produtores tm constatado os benefcios de rendimento e os resultados estimulam a replicao no campo", afirma Assad, ao lembrar a importncia do treinamento e educao, alm do engajamento dos agentes financeiros.

Segundo ele, o inventrio brasileiro de emisses que dever ser divulgado at meados deste ano, a partir de metodologia mais aprimorada, trar novos dados que podero confirmar um potencial ainda maior da agropecuria na retirada de carbono da atmosfera, contribuindo em grau mais elevado para o cumprimento das metas climticas assumidas internacionalmente pelo pas.

Sendo assim, afirma o estudo da Embrapa e GVAgro, "a carne brasileira, que j apresenta preo competitivo no mercado externo, poderia ampliar espaos tambm pelo aspecto ambiental, com baixa emisso de carbono, certificao e boas prticas agropecurias".

Recente trabalho cientfico, tambm da Embrapa, em parceria com as universidades de So Paulo e de Edimburgo, concluiu que ao contrrio do que se imaginava at agora o aumento do consumo de carne tende a reduzir e no a aumentar as emisses atmosfricas da pecuria de corte no Cerrado. Uma demanda 30,0% mais alta em 2030 causaria uma diminuio de 10,0% nas emisses totais. Por outro lado, uma reduo de 30,0% no consumo de carne em relao ao valor projetado para o perodo significaria um aumento de carbono de 9,0%.

Integrado iniciativa global AnimalChange, o estudo considerou os impactos ao longo da cadeia produtiva, dos insumos no campo aos frigorficos. "A presso da demanda fora o aumento da produtividade, com mais gado por hectare e reduo de desmatamento", diz Lus Gustavo Barioni, coautor do trabalho.

A adoo de prticas sustentveis na cadeia de fornecimento de carne bovina, do campo ao varejo, poderia economizar US$1,00 bilho em custos de energia e reduzir o lanamento de pelo menos 16 milhes de toneladas de dixido de carbono na atmosfera. A concluso do estudo recm-concludo no Brasil pela organizao internacional Carbon Trust.

"Falta o mercado reconhecer esse valor, porque os investimentos e os riscos so maiores em relao ao mtodo tradicional, embora os resultados sejam bastante positivos", afirma Caio Dalla Vecchia, diretor de novos negcios do Grupo Roncador.

Na Fazenda gua Viva, com 1,70 mil hectares de pastagens e 2,10 mil cabeas de gado em Cocalinho (MT), a empresa adota tecnologias de restaurao de solo e medio de carbono, com o objetivo de replicar prticas sustentveis entre pecuaristas do Vale do Araguaia, totalizando 50,00 mil hectares.

"A partir dos inventrios, o projeto traar estratgias produtivas para os prximos cinco anos, na perspectiva de reduzir a presso sobre o desmatamento e evitar a emisso de 350,00 mil toneladas de carbono", revela Julio Natalense, lder de tecnologia e sustentabilidade da Dow, indstria qumica que produz insumos para a cadeia da carne e mantm parceria com o Grupo Roncador para a medio do carbono antes e depois da adoo de prticas sustentveis.

"Uma barreira o perfil conservador dos produtores em relao questo climtica", aponta Roberto Strumpf, consultor da Pangea Capital, responsvel pela adaptao realidade da agropecuria brasileira do GHG Protocol, mtodo desenvolvido globalmente pelo World Resources Institute para aferir emisses, agora aplicado na regio do Araguaia.

O projeto comprovar a relao entre o aumento da produtividade e a mitigao de carbono. Segundo Strumpf, "a recuperao de pastagem permite triplicar a quantidade de animais por hectare e neutralizar as suas emisses".

Somado a isso, a associao com a lavoura "gera o milagre da multiplicao", ilustra o pesquisador Joo Kluthcouski, o Joo K., da Embrapa Cerrado, coordenador de pesquisas que tm constatado o alto rendimento de sistemas que integram gado e cultivo de gros, inclusive em solos arenosos de So Paulo, Paran e Oeste baiano, com aumento de produtividade de 20,0% na agricultura.

No Brasil, o mtodo abrange cerca de 4,00 milhes de hectares, a maior parte em Mato Grosso (1,00 milho de hectares). O potencial de expanso expressivo, sabendo-se que no Brasil existem cerca de 30,00 milhes de hectares de pastagens degradadas, com baixa produtividade. A meta do Ministrio da Agricultura recuperar 15,00 milhes de hectares at 2020. "H crdito, mas falta transferncia de informao ao produtor", afirma Joo K.

Fonte: Valor Econmico. 29 de abril de 2016.