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A oferta ininterrupta de sal mineral no perodo das guas largamente utilizada na bovinocultura de corte. Ao corrigir a deficincia de minerais, essa prtica permite que a forragem ingerida pelo animal seja aproveitada em todo seu potencial. O resultado maior ganho de peso, melhor desempenho reprodutivo e maior resistncia aos desafios sanitrios.
Quando o custo de produo calculado de forma abrangente, incluindo despesas diretas e indiretas (como a depreciao), o valor despendido com a compra de sal mineralizado costuma ser menor do que 10,0% do total. Ainda assim, considerando o desembolso efetivo, ou seja, o dinheiro que fisicamente “sai do bolso”, ele um dos custos mais sentidos pelo pecuarista e, portanto, uma de suas grandes preocupaes.
Assim, no necessrio combate ao desperdcio, h um grande esforo em se evitar alto consumo de sal mineral. O consumo elevado, ento, reclamao muito mais frequente do que o baixo consumo. De fato, reclamaes sobre subconsumo costumam ser raras. Evidentemente, a situao ideal o consumo estar dentro do recomendado, pois foi balizando-se nesse consumo-alvo que o nutricionista animal “calibrou” a concentrao dos minerais que fazem parte do produto.
Esse consumo, inclusive, deve ser informado pelo fabricante. Mas, os prejuzos decorrentes do superconsumo e do subconsumo so equivalentes? Ou um seria mais danoso do que outro? Para responder a esta pergunta interessante, antes, explicar como a suplementao mineral atua. Como bem o nome indica, suplementamse os minerais com a premissa que eles devam estar faltando.
Zerar deficincias importante, pois o desempenho animal limitado por aquele nutriente que ocorrer em menor quantidade, ou seja, no adianta ele ter protena e energia para ganhar 900g/cabea/dia, se oZinco (Zn) disponvel na dieta permitir o ganho de apenas 600g/cabea/dia. Nesse caso, o animal deixar de ganhar esses 300g/cabea/dia que ganharia se no tivesse essa deficincia mineral. Esta a “lei do mnimo” segundo a qual, o desempenho mximo ser sempre determinado pelo nutriente mais limitante.
Uma analogia frequentemente usada que ilustra bem isso a questo da corrente que sempre se romper no seu elo mais fraco, ou seja, este elo que determina a sua mxima resistncia. No perodo das guas, em geral, o desempenho limitado pela energia da forragem, desde que nenhum mineral comporte-se como o elo mais fraco e reduza o desempenho. E a que reside a importncia da correta mineralizao: no perder o potencial produtivo da viosa forragem das guas! Usando dados reais e considerando um animal de 450kg ganhando 800g/cabea/dia, estimamos uma exigncia diria de 17,4g de fsforo (P).
Considerando uma forragem com 0,15% de fsforo na matria seca e sendo consumida em cerca de 2,0% do peso vivo, o animal estaria recebendo 14,4g. Os 3g de fsforo faltantes para atender a exigncia deveriam vir do sal mineral, o que seria suprido por uma formulao com 60g P/kg do produto com consumo-alvo de 50g/cabea/dia. Supondo que o consumo real do sal mineral fosse de apenas 30g/cabea/dia, o animal teria um aporte total de 16,2g de P (14,4g da forragem + 1,8g do sal mineral).
O desempenho que essa quantidade de fsforo disponvel permitiria de 700g/cabea/dia. O consumo insuficiente do sal mineral estaria fazendo o animal deixar de ganhar 100g/dia em relao ao ganho potencial da forragem. Baseando-se num custo de arroba de R$150,00, esses 100g a menos de peso (equivalentes a 53g de carcaa, considerando um rendimento de carcaa de 53,0%) equivaleriam a R$0,53 por dia a menos por cabea.
Se o preo do sal mineral for de R$45,00 (saco com 30kg), os 20g/cabea/dia consumidos a menos “economizariam” R$0,03/cabea/dia. O prejuzo lquido, ento, seria de R$0,50/cabea/dia. Considerando um lote de 100 animais, o prejuzo mensal seria de R$1.500,00. Importante frisar que, apesar do exemplo usar um desempenho muito bom para pastagem, ele se baseia inteiramente no diferencial de desempenho, independente do ganho, ou seja, tanto faria se fosse feito usando ganhos menores.
Usando o mesmo exemplo para avaliar o impacto de consumo superior ao consumo alvo, consideremos uma ingesto de 70g/cabea/dia do sal mineral, ou seja, 20g/cabea/dia acima do desejado. O gasto a mais com o sal mineral seria de R$0,03/cabea/dia e, para o mesmo lote, representaria R$90,00 mensais a mais. O desempenho seria o mesmo (800g/cabea/dia). Por esse exemplo, fica claro que o pior cenrio o do subconsumo, pois podemos estar deixando de aproveitar todo o potencial produtivo da forragem ingerida. O fsforo foi usado apenas como exemplo, mas qualquer mineral pode ser o elo mais fraco da corrente e limitar o desempenho.
No Brasil, alm dele Sdio (Na), Cobre (Cu), Zinco (Zn), Cobalto (Co), Iodo (I) e Selnio (Se) frequentemente so insuficientes quando a nica fonte a forragem. Alguns deles justificam a preocupao com que a oferta seja contnua, evitando-se interrupes por mais de alguns poucos dias. Esse o caso do Zinco (Zn) e o Sdio (Na), uma vez que os animais no possuem reservas significativas destes minerais. O Magnsio (Mg) porque o mecanismo homeosttico no eficiente o suficiente para manter os nveis de Mg no sangue e pela dificuldade dos animais adultos em mobilizarem grandes quantidades dos ossos.
J o Fsforo (P), o Enxofre (S) e o Cobalto (Co), por causa da nutrio dos microrganismos do rmen. No caso do fsforo, por haver grande reserva nos ossos, o animal a bem deficincias moderadas por certo tempo. Por conta disso, sintomas de deficincia demoram a se manifestar e, na maioria das vezes nem percebida.
Isso se repete para todos os minerais que tm reserva no organismo e, mesmo para aqueles que referimos acima que no tem reserva, o mais comum no notarmos com sintomas claros a deficincia. Em geral, elas am despercebidas, havendo apenas menor desempenho e/ou maior incidncia de doenas. As reservas de minerais s so armazenadas, obviamente, quando o aporte de minerais maior do que a demanda. O consumo de luxo, que ocorre na situao de consumo acima do desejado, tem essa vantagem colateral. As reservas evitam a deficincia nos perodos em que h falha da oferta contnua, mas ainda mais importante em funo da relao entre a sanidade animal e a boa nutrio mineral.
Quando o animal enfrenta desafios sua sade, as exigncias por certos minerais, como Cobre (Cu), aumentam. Se a exigncia ficar acima do aporte total ingerido, so as reservas que cobriro esse dficit, garantindo o bom funcionamento do organismo e de seu sistema imunolgico. E o que fazer para tentar fazer o consumo do sal mineral ficar prximo ao consumo-alvo?
Abaixo, um quadro que sumariza aes para tentar acertar o consumo dos minerais:
O Sdio (Na) o mineral por excelncia que os animais tm desejo por consumir e, ao mesmo tempo, que faz com que eles se enfastiem de ingeri-lo, portanto um elemento-chave no consumo. Aumentar a frequncia e quantidade de sal no cocho tambm aumenta o consumo, o que pode estar ligado ao fato de dar mais oportunidade aos submissos.
Esse o caso, tambm, quando se disponibiliza maior espao linear de cocho. Inclusive, aqui, melhor colocar dois cochos de 2,0 metros do que um de 4,0 metros. Fazendo assim, aquele animal que tem medo de outro animal do seu lote, tem um local alternativo para consumir o sal. Em funo disso, recomenda-se colocar os cochos a uma distncia equivalente a dois corpos de um bovino grande. Dessa forma mesmo que o que animal que intimida esteja na ponta de um cocho, o submisso ficaria tranquilo em ocupar a ponta do outro cocho mais prxima do intimidador. Isso se baseia no fato que a “distncia de fuga” do animal (distncia mnima que, uma vez ultraada, ele se move), equivale ao comprimento do seu corpo.
A localizao tambm influencia no consumo e, quanto mais perto da gua, maior o consumo. O mesmo ocorrendo no caso de se escolher o “malhadouro”, aquele local que os animais demonstram preferncia em ficar.
Por fim, comum os fabricantes colocarem algum palatabilizante no sal mineral, o que percebido por muitos como algo pensado apenas para aumentar as vendas do produto. O fato que a recomendao de incluso do palatabilizante mesmo tcnica, pois ele ajuda na homogeneidade do consumo, ou seja, em que uma maior porcentagem dos animais efetivamente chegue ao cocho e consumam o sal. Em suma, faz com que o consumo mdio que calculamos seja mais perto da realidade, pois estaremos errando menos ao dividir por todos os animais, se quase todos os animais estiverem consumindo.
preciso estar ciente que o monitoramento do consumo de sal mineral deve ser feito mesmo que seja apenas baseado no uso do estoque de sal, considerando quantos sacos foram usadosem determinado perodo e quantos animais receberam o produto, o que permite a estimativa do consumo mdio geral.
Como toda mdia, pode ser enganosa, pois, pode haver animais consumindo muito e outros nem chegando perto do sal. Ainda assim, serve como referncia. Por exemplo, se a mdia for prxima ao valor almejado, deve-se considerar que ainda seja preciso analisar se todos os animais esto chegando no cocho, o que garantiria a mdia ser mais verdadeira.
Todavia, se o consumo estimado desta maneira for baixo, j podemos agir para tentar aument-lo. Atingir consumos prximos ao alvo no nada fcil. Ao se monitorar o consumo na fazenda, mais provvel que encontremos sub ou superconsumo.
O importante entender que eles no so equivalentes e, exatamente o que mais pode trazer prejuzo, o subconsumo, no aquele em que est no foco do pecuarista.