A recente “exploso” das margens das indstrias trouxe, para alguns agentes do setor, “excesso” de otimismo em relao aos preos da arroba do boi gordo para os meses finais de 2016. 644y6p
Depois de um perodo com forte arroxo para os frigorficos, com resultados significativamente estreitos, abaixo da mdia histrica, com inclusive unidades de abate que no fazem desossa operando sem espao em sua receita para os custos operacionais, a situao para o empresrio do segmento melhorou, e melhorou muito.
Veja um resumo deste comportamento, desde o comeo do ano, na figura 1.
Entre os meses finais do primeiro semestre e o incio da segunda metade do ano, era claro a limitao que o resultado da indstria impunha cotao da arroba do boi gordo.
E, talvez por essa constatao, foi natural que se especulasse que a partir de uma melhora dessa margem o caminho ficaria aberto para as altas nos preos da arroba, ainda mais com a entrada da entressafra e com o confinamento menor, fatores que dificultariam ainda mais a compra de boiadas.
Mas o que aconteceu ficou distante do esperado. No houve alta forte no mercado do boi gordo a partir da melhora de margem da indstria. As valorizaes foram comedidas. Em So Paulo, por exemplo, entre agosto e setembro, dois meses, os preos subiram R$2,00/@.
A explicao para isso.
O processo foi o seguinte: as compras de matria prima estavam ruins no comeo de agosto, as indstrias resistiam em pagar mais pela arroba. Ento, as escalas de abate no andaram, a ociosidade das plantas cresceu, os estoques enxugaram e ficaram mais ajustados demanda e isso trouxe a oportunidade de aumentar os preos dos cortes. Resultado, a diferena entre receita da indstria e o preo pago pela arroba subiu fortemente, ultraando a mdia histrica.
Mas, note que nesse processo no citamos a contribuio da demanda.
a que vem a segunda parte da historia. Tnhamos no comeo do ano dois problemas. 1. Indstria sem poder de compra e 2. Populao sem poder de compra (crise econmica). E s o primeiro problema foi solucionado.
Diante disso, no tem porque se acreditar que os compradores pagariam mais pela arroba por estarem com mais folga no caixa. Ningum compartilha sua margem com os outros agentes da cadeia produtiva por caridade. o mercado. S se paga mais por algum produto se realmente for necessrio pagar mais, e isso quase sempre ocorre quando h aumento de demanda.
E no houve aumento.
Quando a margem das indstrias estava ao redor de 11,0%, no comeo do segundo semestre, a do varejo batia quase nos 70,0%, a melhor em dois ou trs anos. A partir da, na medida que os frigorficos elevavam o preo do seu produto, que elevou a margem para quase 25,0%, o varejo perdeu resultado, no houve como rear isso ao consumidor, e a diferena entre o preo de compra a receita caiu para 50,0%.
Pense agora como o varejista que pagou mais para abastecer as gndolas depois que os frigorficos aumentaram os preos. Acho que no h dvida de que o dono do aougue e do supermercado trabalharia para manter seus resultados. Mas isso no est sendo possvel. No houve ree das altas, ele absorveu estes ajustes, certamente para no prejudicar as vendas (figura 2).
Diante de tudo que foi apresentado, evidente que a alta imposta pelo atacado carne bovina aconteceu independentemente da situao do bolso do consumidor, com o poder de compra da populao.
A falta de sustentao deste movimento das indstrias ficou mais claro assim que comeou o quarto trimestre do ano. Na primeira semana de outubro, em pleno perodo em que os salrios so pagos, as contrataes temporrias comeam a ocorrer, se aproxima a primeira parcela do dcimo terceiro – todos fatores de aumento de renda -, os frigorficos aram, depois de um perodo de alta, a reduzir os preos da carne (figura 3). E, o que ocorre historicamente, alta de preos em outubro.
Em resumo. No adianta o frigorfico ter mais poder de compra se a demanda no cresce.
Por fim, o cenrio provvel por vir, embora seja de valorizao da arroba pela combinao de aumento de renda e entressafra no mercado do boi gordo, de alta comedida.
As expectativas da economia comearam a melhorar, mas no se pode perder de vista que ainda amos por uma crise econmica. Seus efeitos continuaro, no mnimo, at o final do ano e isso limitar o aumento de venda no varejo, em especial da carne bovina.