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Grupos de Discusso Livre entre Produtores: Um modelo autossustentvel de transferncia de tecnologia 3z1c3r

por Sergio Raposo de Medeiros
20/10/2016 - 09:40

Informao um insumo que ajuda a melhorar como se produz. Feliz daquele que tem o a ela, pacincia para decodific-la e persistncia para traduzi-la em ao concreta. Nessa ltima etapa, no raro, com necessrias adaptaes realidade local. Exatamente pela necessidade de considerar detalhes especficos de cada realidade, muito melhor do que dispor s da informao ela vir por meio de um tcnico de “corpo e alma” no local. 2q561t

Apesar disso, a maioria dos produtores abrem mo de ter esse auxlio profissional por consider-lo caro.

Paralelamente a isso, o Brasil fez, nas ltimas dcadas, um grande investimento na capacitao de recursos humanos via cursos de ps-graduao. Em que pese o vis principal desse esforo ter sido formar professores e pesquisadores, ele gerou um razovel contingente de pessoas no absorvidas pelas reas acadmicas e de pesquisa. So profissionais obviamente mais bem qualificados, cujo potencial no tem sido devidamente aproveitado por falta de oportunidade de trabalho.

Uma alternativa para reduzir o custo do consultor e atender um maior nmero de produtores compartilhar um tcnico que faria um atendimento coletivo ao grupo.

Um modelo muito bem sucedido que segue essa linha foi apresentado em um dos seminrios do Departamento de Cincia Animal da Universidade da Califrnia, em Davis que tive a oportunidade de assistir no incio deste ano. Abaixo um relato descrevendo os principais pontos apresentados pelo responsvel, o nutricionista animal e especialista em pastagem, Dr. Woody Lane.

O Dr. Lane criou e trabalha com “Grupos de Discusso Livre entre Produtores”. A princpio, ele apenas ministrava cursos de manejo de forragem, mas, insatisfeito com o grau de aproveitamento pelos produtores participantes, procurou outros caminhos para aumentar a eficcia da adoo das tcnicas. Os grupos de estudo, criados com o objetivo de construir coletivamente o conhecimento e a troca de experincias, mostrou-se uma boa soluo para resultados muito alm dos obtidos apenas com os cursos.

As principais caractersticas desses grupos so:

1)Grupos fechados. Os membros tem que se associar a ele,

2)Antes de se tornar membro, o interessado deve fazer cursos de nivelamento, exceto se j tiver experincia suficiente em nutrio e pastagem,

3)Cada grupo tem cerca de 20 membros, sendo que considera-se o membro como a propriedade (ou operao) e mais de um indivduo relacionado a ela pode participar,

4)Os encontros so mensais,

5)O local no fixo e alternam-se entre as propriedades envolvidas ou outro lugar de interesse do grupo,

6)O facilitador contratado pelo grupo para dar 100% de ateno aos seus membros,

7)A taxa equivalente a US$ 150-200,00/ano.

Segundo Lane, uma grande vantagem do grupo ser heterogneo, havendo perspectivas bem diferentes entre os membros. Por isso mesmo, os grupos podem ter membros que produzem bovinos, ovinos, caprinos, que vendem gentica, sementes, sistemas orgnicos de produo, etc.

O facilitador organiza e lidera o encontro e as discusses. Ele deve ser especialista nos assuntos de maneira a ter a confiana dos membros do grupo e se esforar para que cada encontro seja de valor para todos.

Uma reunio tpica dura cerca de 3 horas, ocorrendo a tarde ou antes do anoitecer, com o horrio de encerramento bem definido e rigorosamente cumprido. Usualmente, comea por uma caminhada nas pastagens. Em seguida, em algum lugar coberto, o facilitador toma a palavra para um ou dois tpicos previamente definidos, usando principalmente uma lousa e canetas coloridas. No ocorre uma palestra convencional, mas, ao contrrio, prestigia-se a interatividade e a discusso entre todos.

As discusses so fomentadas, por serem timos momentos de aprendizado. O facilitador no evita que elas se tornem acaloradas, pois so esses momentos mais quentes que mais ajudam os indivduos a se engajarem no processo e, portanto, aprenderem mais. Ele apenas deve moderar e, especialmente, evitar que as discusses sejam monopolizadas, estimulando dar voz aos participantes mais retrados de forma a contar com a participao efetiva de todos.

Havendo tempo, se de interesse do grupo, assuntos fora dos tpicos agendados podem ser abordados. Durante a reunio, no servida nenhuma comida ou bebida, segundo ele, para reforar a ideia de reunio de trabalho e no criar a necessidade do anfitrio ter que se preocupar com isso.

Os temas discutidos podem ser, por exemplo, o estado atual das pastagens e demais recursos alimentares, ideias para reduzir a necessidade de mo-de-obra, objetivos de curto e longo prazo, uso de novas forrageiras e a lucratividade da fazenda. Os assuntos so agendados seguindo uma lgica temporal, ou seja, no inverno, discute-se as pastagens e a nutrio da primavera-vero, de forma a ter chance de interferir oportunamente.

O Dr. Lane enumera os ganhos para os membros dos grupos: 1) o a informaes relevantes e discusso aprofundada sobre elas, 2) Interao e aprendizado com o grupo, 3) Apoio do grupo para encontrar solues originais aos problemas, 3) Aprender com o erro dos outros, escapando de fracassos evitveis 4) Motivar-se a implantar novas aes bem sucedidas por membros do grupo, 6) Realizar negcios e atividades de maneira cooperativa e 7) Realizar e aproveitar pesquisas e demonstraes feitas nas fazendas.

Uma das fundamentais vantagens de ser um grupo fechado, que as pessoas ficam mais vontade para se expor, discutindo assuntos que no ficariam to vontade de falar em pblico. Isso garante relatos mais fieis realidade e, portanto, maior chance das informaes serem realmente teis.

Finalizando o seminrio, o Dr. Woody Lane, enfatizou o fato dos grupos serem autossustentveis, dependendo apenas da percepo por parte de seus membros que ele esteja cumprindo seu papel e, assim, compensem o investimento mensal. O Dr. Lane atua em trs grupos no estado americano do Oregon, o mais antigo deles h mais de 20 anos.

Ele comentou que se inspirou em grupos semelhantes na Amrica do Sul e em outros continentes. De fato, j ouvi alguns relatos de grupos assim no Brasil, mas sempre com tcnicos de algum rgo oficial como facilitador. Desconfio que a maioria descontinuou pelo recorrente problema de falta de verba, situao para a qual esse modelo americano seria imune.

Fazemos votos que o detalhado relato dessa experincia americana sirva como inspirao para que algum tente adapt-la nossa cultura, aproximando quem tem conhecimento tcnico de quem efetivamente o transforma em produo e riqueza. Assim teramos um ciclo fechado da informao como insumo, na qual uma experincia sul-americana teria inspirado um tcnico americano a criar um bem sucedido modelo de transferncia de tecnologia, sua palestra nos EUA assistida duas dcadas depois por um brasileiro e relatada em um texto que estimulou sua adoo no Brasil.

Algum se habilita?

*[1] O Seminrio, em ingls, pode ser assistido pelo link http://uc-d.adobeconnect.com/p5reshbp8p5/