Seis centmetros para sal mineral e 12 a 15 centmetros para proteinados: O que est por trs destes nmeros? Literalmente atrs est o suplemento, cujo uso o produtor espera que compense o dinheiro neles investido. Para tal, precisam ser ingeridos pelos animais! Por essa razo esse dimensionamento to importante. Respondendo a mesma pergunta menos literalmente, no sentido de identificar qual o e tcnico-cientfico que os ampara, somos obrigados a itir que so valores mais baseados na experincia de campo do que em cincia[1]. Impe-se, tambm, a realidade de que cochos so considerados um investimento caro, o que faz esses valores serem, em bom Latim, o minimum minimorum. 2r3y6a
Dados de pesquisa indicam que esses “mnimos absolutos” talvez precisem ser revistos. Um dos mais contundentes motivadores j relatei num texto de setembro de 2013, apresentando dados obtidos na tese de doutorado do Dr. Ricardo Goulart[2], orientado do Prof. Moacyr Corsi (ESALQ/USP), que mostro mais uma vez a seguir.
Para avaliar o consumo, cujo monitoramento era fundamental para avaliar a efetividade de aditivos no sal, eles adicionaram sulfato de ltio como marcador no sal mineral. Dessa forma, apenas os animais em que fosse encontrado ltio no sangue, seriam aqueles que teriam consumido o sal mineral. Conseguiram, assim, distinguir os que consumiram o produto, daqueles que no consumiram. O quadro 1 uma adaptao dos dados originais, mostrando apenas a variao da mistura mineral de um dos tratamentos.
O que a anlise desses dados indica que em quase metade das ocasies os animais no consumiram o produto. De todas as observaes (60), 29 tiveram consumo zero (29/60 = 48,0%). A variao de consumo tambm foi enorme: Desde 2 g/cabea/dia at 146 g/cabea/dia.
Caso no tivssemos a informao proporcionada pelo ltio no sangue, faramos apenas a mdia do consumo. O valor mdio de 24 g/cabea/dia estaria perto do consumo desejado, mas representaria bem pouco a realidade. Os dados completos so muito semelhantes: o nmero de ocasies em que os animais no consumiram foi de 47,0%.
Apesar do importante aqui ser focar o consumo do sal mineral, vale pena discorrer brevemente sobre o consumo do sal em cada forrageira, ressalvando que esse experimento no foi delineado para isso. Ao avaliarmos a ocorrncia dos zeros em cada capim, na mdia, no h grande diferena, exceto para o Mombaa, para o qual pesou uma das datas em que nenhum animal consumiu. Como o conjunto dos dados mostra, a variabilidade to grande que isso poderia ter ocorrido em outros pastos, caso houvesse mais datas avaliadas. Algum poderia insistir que o Mombaa, por ter maior valor nutricional entre todos, poderia fazer o animal sentir menos necessidade de consumir o suplemento. Todavia, exatamente por permitir o animal ter maior desempenho, as exigncias de minerais deste tambm aumentam. Enfim, no necessariamente o capim melhor vai reduzir a necessidade de suplementao.
Voltando questo do espao linear, outra considerao importante se, uma vez que os cochos usualmente so ados por ambos os lados, podemos considerar que temos 3 metros de espao linear para um cocho de 1,5 metros, ou seja, como se ambos os lados fossem 100,0% aproveitveis.
Apesar de ser usual fazer essa considerao, isso s seria verdade se os animais se alinhassem uns exatamente em frente aos outros, o que nem sempre costuma ser o caso, conforme observao prtica. Um valor que parece mais seguro, portanto, seria 1,5 vezes.
Um ponto interessante a considerar que, melhor do que ter um cocho de dois metros, ter dois de um metro, de forma que os animais submissos tenham uma alternativa ao cocho em que o animal que ele tenha medo esteja. Nesse caso, a recomendao separar esses cochos a uma distncia equivalente a dois corpos dos animais, pois o espao equivalente a um corpo corresponde a “distncia de fuga” do animal, ou seja, a distncia abaixo da qual ele se sente ameaado. Ao configurarmos a disposio dos cochos seguindo essa orientao, mesmo que o animal que lhe cause mais medo esteja na ponta de um cocho, o animal submisso consumir tranquilo seu sal no outro cocho, mesmo que esteja na ponta mais prxima do primeiro.
Outro elemento do comportamento animal que devemos levar em conta decorre do fato de bovinos serem presas de carnvoros e terem como sua estratgia de defesa viver em grupo. Isso interfere na suplementao medida que, uma vez que no momento que os animais com mais ascenso sobre o grupo (os lderes) cansam de ficar prximos ao cocho e resolvem ir pastejar em outros lugares, os demais animais os acompanham. Alguns animais seguem, ento, o grupo mesmo que no tenham consumido o suplemento. Este provavelmente um dos fatores que deve explicar boa parte dos dados do Quadro 1 de baixo consumo ou ausncia de consumo.
Frente dvida quanto a estes valores de espao linear (6 cm/UA[3]para sal mineral e 12 a 15 cm/UA para proteinado) serem realmente suficientes, a melhor opo seria dar o maior espao linear possvel dentro de um oramento realista e observar o uso do cocho pelos animais no momento do fornecimento. Havendo suspeita de estar muito apertado, sempre ser possvel colocar cochos extras, nem que sejam improvisados.
Alis, outra boa dica do pessoal do bem estar animal o salgador ficar uns 15-20 minutos observando os animais, at para ver se algum deles tem algum problema, momento em que ele pode avaliar essa questo do espao linear.
Em comum, o sal mineral e o proteinado tem altos teores de sdio, o nutriente que tanto ajuda o animal desejar consumir o suplemento, como limita o consumo da mistura. O sdio muito mais eficaz na mistura mineral, pois ingredientes de proteinados, como milho, casca de soja e farelos, “diluem” o efeito desse elemento. Alm disso, esses alimentos, por si s, so atraentes para o consumo dos animais.
Nesse sentido, o proteinado de baixo consumo (entre 1 a 2 g/kg de Peso Vivo) j fica perto do limite em que h eficcia do sdio como limitador. Quanto mais o “dilumos” em frmulas de maior ingesto, menos podemos contar com seu efeito limitador de consumo. Falhando o sdio de limitar o consumo, o que ocorre que os primeiros animais a terem o ao cocho consumiro todo o produto e os demais ficaro apenas na vontade.
Exatamente por isso que, para suplementaes com maior quantidade de produto, deve-se mudar a estratgia e dar espao para que todos os animais possam comer ao mesmo tempo, o que significa prover algo em torno de 60-70 cm/unidade animal.
O que essa situao mostra que nessa nossa poca de melhoramento genmico, inseminao artificial em tempo fixo, transferncia de embrio e animais chipados, vamos ter que voltar nossa ateno para questes aparentemente resolvidas. A vantagem que, agora, podemos usar a prpria tecnologia para ter respostas mais rpidas e confiveis. Juntar o ado com o futuro, nesse caso, ser o caminho para encontrar solues para uma suplementao mais eficiente e eficaz.
[1] Nunca consegui encontrar um trabalho cientfico sobre isso.
[2] Tese de doutorado (“Avaliao de antimicrobianos como promotores de crescimento via mistura mineral para bovinos de corte em pastejo”, disponvel emhttp://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/11/11139/tde-17032011-171637/pt-br.php),
[3] UA = Unidade Animal, correspondendo a um animal de 450 kg de peso vivo.