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A queda de brao entre os laticnios e produtores de leite 4i4a5

por Equipe Scot Consultoria
13/10/2017 - 13:45

Scot Consultoria: Professor, porque tantos produtores esto saindo da pecuria leiteira? 575x1h

Paulo do Carmo Martins: O mundo entrou em uma nova etapa, e ns da atividade pecuria, mas especificamente da pecuria leiteira, temos que caminhar urgentemente para esse processo, onde pecuria de preciso ser a tnica, onde as empresas no oferecero mais produtos e sim servios, onde a informao circular de maneira profundamente intensa e onde quem no tiver alinhado todas essas transformaes no ter condies de sobreviver.

Nos ltimos anos o leite est expulsando produtores que no conseguem se adaptar nova realidade. E essa velocidade de expulso vem sendo cada vez mais rpida.

Mas h uma perspectiva produtiva para tudo isso, porque se a automao no setor urbano algo preocupante porque elimina empregos, no caso da pecuria leiteira ser a redeno, afinal muito complicado produzir leite todos os dias do ano e a mquina vai ajudar a suprir essa demanda.

Scot Consultoria: Atualmente qual o faturamento da cadeia de leite e lcteos no Brasil, como esse indicador comportou-se nos ltimos anos e quais so as expectativas?

Paulo do Carmo Martins: Quando falamos do setor “lcteo” como um todo, para quem no da atividade, as pessoas ficam impressionadas. Ns no reconhecemos algo que muito importante para a cadeia. A cadeia longa e tambm tem um faturamento muito elevado.

Aproximadamente 67 bilhes de reais ser o faturamento da cadeia como um todo ao longo de 2017. Ano ado foi de aproximadamente 90 bilhes, este preo mais elevado foi devido alta de preos, mas nesses ltimos doze meses os preos caram muito.

No varejo, o leite longa vida caiu 26% e, no conjunto, de acordo com o IPCA do IBGE, nos ltimos doze meses a queda foi de 15% no preo pago pelo consumidor. Isso ento impacta a cadeia.

Mas a verdade que, o faturamento e a gerao de empregos continuam muito altos. Somos uma atividade que necessariamente industrial, no existe o leite de mesa como existe a laranja de mesa, a maa de mesa... Todo produto lcteo industrial, e com isso voc alonga a cadeia.

So cerca de 11 mil caminhes que todo dia circulam pelas estradas brasileiras captando leite, so aproximadamente 2 mil laticnios com Servio de Inspeo Federal (SIF) e mais tantos outros com selos de inspeo estadual ou municipal.

Ns temos aproximadamente 900 mil produtores que todo dia se dedicam a atividade e isso cria uma capacidade de gerao de emprego e renda que faz com que o leite seja a cadeia mais importante em termos de formulao de desenvolvimento brasileiro.

Lembramos muito da soja, faz sentido, mas a soja uma cadeia pequena, a soja importante porque gera dlares, mas gera muito pouco emprego.

E a perspectiva continua muito boa, porque temos no Brasil duas coisas que nenhuma tecnologia consegue criar, a primeira uma populao que cresce e a segunda uma populao que cresce e ainda jovem, e o jovem tende a consumir. E por isso que ns temos a chegada de novas empresas, ou comprando 100% das empresas brasileiras ou sendo minoritrias em laticnios mais exigentes.

Essas empresas querem vir para c porque o consumo mdio per capita brasileiro ainda de 170 litros por habitante/ano, o padro europeu/americano de 270 litros, ns temos, portanto, condies de crescer 100 litros por habitante/ano nos prximos anos. E isso uma ddiva que temos que preservar e cultivar porque gera emprego e renda por todo Brasil. Apenas cerca de 62 municpios no produzem leite no Brasil, isso mostra o vigor do setor.

Scot Consultoria: Em sua opinio, qual o principal gargalo na produo de leite nacional?

Paulo do Carmo Martins: O principal gargalo para o setor ainda o problema de produtividade, isso faz com que o leite brasileiro seja muito caro. Ns temos a soja mais barata do mundo, temos o milho altamente competitivo, mas temos um leite ao produtor muito caro. Isso acontece porque a produtividade baixa. Ns precisamos evoluir nesse ponto.

Mas tambm temos outro gargalo que a qualidade. A qualidade do leite brasileiro precisa melhorar para que possamos ter um produto com maior rendimento industrial e com isso o produtor possa ser melhor remunerado.

Scot Consultoria: Em funo do consumo de lcteos ser diretamente relacionado com a renda, em anos de crise, como a que vivemos nos ltimos anos, qual a sugesto para aumentar a vendas e reduzir os prejuzos tanto do lado da indstria como do produtor?

Paulo do Carmo Martins: O Brasil tem uma caracterstica importante. Temos tecnologias de produo adaptadas s condies tropicais. S o Brasil tem isso. Ns conseguimos evoluir muito na parte de melhoramento gentico animal e vegetal e isso cria um estoque muito favorvel para o produtor.

Agora em relao ao consumo, ainda temos muita condio de crescer, depender da renda. Mas temos que lembrar que ao longo da histria brasileira, a renda vem crescendo continuamente. Ns somos um pas diferente, a ponto de acharmos que normal essa caracterstica de o filho ter condio melhor que o pai e o pai ter condio melhor que o av.

A cada gerao a gente melhora as condies de vida e o consumo, que de maneira geral impactam na cadeia toda do leite. Mas isso no regra geral no mundo. A regra geral no mundo uma gerao crescer, a outra decrescer e assim continuamente, e no necessariamente fazer essa trajetria de sucesso como vimos no Brasil, porque a cada 20 anos ns estamos com uma gerao mais rica. E isso fica demonstrado no leite. S para termos uma noo clara, h 40 anos o Brasil consumia 1/5 do que consome hoje, e a populao apenas duplicou nesse perodo.

Scot Consultoria: Comparativamente com outros importantes pases produtores de leite onde podemos reduzir os custos, visto que a produo nacional uma das maiores?

Paulo do Carmo Martins: Ns temos dois desafios pela frente, o primeiro gesto. Sem gesto fica difcil reduzir custos e boa parte dos produtores no tem noo de quanto seu o custo de produo. Ento preciso conhecer custos para fazer gesto.

E com base na gesto preciso tambm incorporar tecnologias, porque as tecnologias tem essa caracterstica de melhorar a qualidade, aumentar a rentabilidade e diminuir custos. Aplicar tecnologias nas propriedades algo vital para que possamos melhorar o custo de produo. O leite brasileiro tem um custo de produo muito elevado e no so por questes naturais, so por problemas de organizao dentro da propriedade leiteira.

Scot Consultoria: Nos ltimos anos qual foi a evoluo tecnolgica que a produo e o processamento de lcteos sofreram no pas?

Paulo do Carmo Martins: Ns tivemos uma transformao muito grande em termos de oferta de solues nos ltimos anos. Hoje temos variedades de pastagens apropriadas para diferentes biomas brasileiros, a Embrapa, por exemplo, acaba de lanar um novo azevm s para regio Sul, que chama BRS integrao. Lanamos h 10 meses o capim BRS Capiau, que apropriado para a produo de silagem, que resolve o problema grave de estiagem que boa parte do Brasil submetida, ou seja, criamos vrias alternativas com capins clonados.

Na parte de melhoramento gentico animal tambm tivemos uma evoluo substancial, e como exemplo posso mencionar a nova tecnologia que a Embrapa criou que uma equao genmica que permite que os touros Girolando, que esto sendo acompanhados pelo programa de melhoramento gentico, tenham uma acurcia maior em termos de previsibilidade no que diz respeito a qualidade gentica de suas filhas, essa tecnologia praticamente duplica a acurcia. E isso um melhoramento substancial porque saber que tipo de prognie voc ter quando usar o smen de um touro faz toda diferena.

Tambm evolumos em termos de informao no setor, embora precisamos evoluir muito mais nesse aspecto. A Scot Consultoria e a Embrapa so um exemplo disso, porque geram informao de qualidade e segurana para o setor.

Ento, relacionados produo, as tecnologias vem acontecendo e o produtor vem incorporando elas.

Pelo lado da indstria tambm vemos uma movimentao. Comeamos a ver claramente um processo de inovao que h muito tempo no acontecia, como o lanamento de novos produtos, novas embalagens, busca por novos pontos de venda... Isso tudo vai demonstrando que o setor apresenta uma vitalidade muito importante para que possamos continuar crescendo o consumo per capita independente da crise conjuntural que estamos submetidos.

Scot Consultoria: O atual sistema de pagamento aos produtores pelo leite produzido do nosso pas eficiente? Quais as mudanas que o senhor sugere visto que isso pode melhorar a qualidade do produto fornecido?

Paulo do Carmo Martins: A questo da qualidade o ponto nevrlgico do setor e ns precisamos evoluir, porque a maioria das empresas no estimulam o produtor a melhorar a qualidade.

Mas por outro lado, as empresas que so muito corretas e rgidas na questo da qualidade acabam sendo prejudicadas, porque existe uma competio de empresas que no so to rgidas assim e que aceitam o leite que no de boa qualidade.

Isso tem que estar muito caracterizado no preo e tambm na produo, aquele produtor que no tem qualidade no pode ser aceito. Ns precisamos melhorar em termos de fiscalizao por parte do governo, e em termos de polticas remuneratrias por parte das indstrias. D para contar nos dedos de uma mo s empresas que realmente criam estmulos visveis e perceptveis para o produtor em termos de preos.

E o prprio consumidor o motor de tudo isso. As grandes empresas esto no caminho certo em termos de buscar qualidade, quem trabalhar melhor a qualidade vai ganhar mercado, mas ns precisamos resolver a falta de gesto da cadeia produtiva dos laticnios, que ainda so somente compradores de leite e no trabalham com gesto de captao e no desenvolvem a qualidade com seus fornecedores.

Nessa nova etapa da era digital, na qual as informaes circulam com muita facilidade, estou convencido que a qualidade ou a ser o ponto de referncia em termos de organizao da cadeia e a tem que ter o esforo de todos os agentes para que os resultados sejam obtidos. Os laticnios tem capacidade de induzir a melhoria e eles precisam atuar dessa forma para que