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Critrios cientficos e tcnicos para a escolha da espcie forrageira para o estabelecimento da pastagem 246m3d

por Adilson de Paula Almeida Aguiar
15/02/2018 - 14:30

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Neste artigo est comprovado que as diferenas para qualidade e quantidade de forragem no so significativas entre espcies forrageiras. E agora, quais parmetros devem ser avaliados na hora do plantio da pastagem?

Com base nos relatrios da ABRASEM referentes s safras 2014/2015 e 2015/2016, calculam-se que foram estabelecidos por ano no Brasil entre quatro e cinco milhes de hectares de pastagens apenas por meio de sementes de forrageiras tropicais. Entre as possveis 15 etapas de um programa de estabelecimento da pastagem que eu adoto, a da escolha da espcie forrageira que ser plantada a mais importante, pois o erro cometido nesta deciso ir comprometer a possibilidade de se maximizar o potencial de produo com tecnologias ou tcnicas que sero adotadas aps o estabelecimento da mesma.

Eu adoto nove parmetros para orientar o pecuarista quanto escolha da espcie forrageira:

1. adaptao s condies climticas;

2. adaptao s condies de solo;

3. comportamento frente ao ataque de pragas e doenas;

4. se causa distrbios metablicos aos animais;

5. a sua aceitabilidade pela espcie animal;

6. como plantada, se por sementes ou por mudas;

7. os objetivos para a sua explorao, se para pastejo, ou para a conservao sob as formas de silagem, pr-secado ou feno;

8. o mtodo de pastoreio que ser adotado, se lotao continua, ou alternada ou rotacionada;

9. e o nvel tecnolgico que o pecuarista vai adotar na explorao da pastagem, se extensivo, se intensivo sem irrigar ou se intensivo irrigado.

Quando estes parmetros so apresentados muitos perguntam: mas e a qualidade da forragem produzida por cada espcie forrageira? E o potencial de produo de forragem? E a capacidade de e? Estes parmetros no foram considerados! Por qu? Eles no so importantes para a escolha de uma espcie forrageira?

Sempre foi dada muita nfase queles parmetros por parte dos pecuaristas e tcnicos porque de fato a qualidade da forragem ir determinar maior ou menor desempenho individual, enquanto o potencial de produo de forragem e, consequentemente a capacidade de e da pastagem iro determinar maior ou menor taxa de lotao. Assim a associao de maior desempenho individual com maiores taxas de lotao refletir significativamente na produtividade da pastagem, em quilos ou em arrobas por hectare.

As empresas que produzem e comercializam sementes de forrageiras, conhecendo como o pecuarista e muitos tcnicos pensam, do nfase aqueles parmetros em seus materiais de propaganda, at mesmo os pesquisadores de empresas pblicas de pesquisas os exaltam no lanamento de novos cultivares.

Acredita-se que aqueles parmetros sejam determinados pelo Gentipo que “a soma total de todos os genes de um indivduo – o seu potencial ou mrito gentico, da qual seus descendentes recebero uma amostra aleatria.” Qualquer caracterstica manifestada denominada no estudo de melhoramento gentico por Fentipo, que “a aparncia ou a capacidade produtiva de um indivduo. a expresso visvel ou mensurvel das vrias caractersticas que constituem um indivduo.” O Fentipo, ou uma caracterstica, pode ser classificado como qualitativa, por exemplo, as caractersticas botnicas, ou como quantitativas, por exemplo, as caractersticas produtivas da forrageira, estas ltimas as que nos interessam neste artigo.

Independente da caracterstica em questo ela a expresso da herana gentica transmitida pelos anteados do indivduo (o Gentipo) em um determinado ambiente, e da interao gentipo especfico:ambiente especifico.

O peso do Gentipo na expresso do Fentipo tem sido quantificado pelo parmetro Herdabilidade da caracterstica, que “um termo usado para descrever a fora da herana na determinao das diferenas entre indivduos em uma caracterstica determinada”. A Herdabilidade indica o grau em que o Fentipo um indicador de Gentipo e classificada em Baixa (abaixo de 0,25 ou 25%), Mdia (entre 0,25 e 0,5 ou 25 a 50%) e Alta (acima de 0,5 ou de 50%).

Pois bem, qual a Herdabilidade para as caractersticas que determinam os parmetros qualidade de forragem e produo de forragem? baixa! Ou seja, as diferenas de qualidade e produtividade de forragem entre diferentes espcies forrageiras e para uma mesma espcie so mais devidas ao meio ambiente (leia aqui, manejo) do que ao Gentipo.

Mas no existem mesmo diferenas entre plantas forrageiras para aqueles parmetros? Os novos cultivares no so superiores aos tradicionais? H sim, mas so pequenas e existem mais diferenas por causa das diferenas de ambientes e pela interao gentipo:ambiente do que pelas diferenas entre gentipos. Os dados das tabelas 1, 2 e 3 daro e estas concluses.

Tem 20 anos que integrantes do Grupo de Estudos e Trabalhos em Pasto (GET) vm comparando os cultivares de Panicum maximum Mombaa e Tanznia e o capim-tifton 85 na fazenda escola na FAZU, em um sistema de pastagem intensiva. Na Tabela 1 tem os valores mdios para indicadores que refletem os parmetros qualidade (dada pelo GMD) e quantidade de forragem (dada em t e kg de MS/ha e TL).

Ainda o GET vem comparando a B. hibrida cultivar Convert HD364 com seus progenitores, desde 2012. Na Tabela 2 tem os valores mdios para indicadores que refletem os parmetros qualidade (dada pelo GMD) e quantidade de forragem (dada pela TL) das forrageiras avaliadas.

Avaliando os parmetros GMD e TL nos perodos de chuva e de seca, e a produtividade por hectare, de sete cultivares de Brachiaria sp e seis de Panicum maximum, lanados pela EMBRAPA, desde o lanamento do primeiro cultivar de Brachiaria, o capim-marandu ou Braquiaro em 1984, at o lanamento da B. hbrida cultivar Ipypor, em 2017, e do primeiro cultivar de P. maximum, o capim-tanznia, lanado em 1990, at o lanamento do cultivar Qunia, em 2017 no encontrei diferenas significativas que justifiquem a escolha de uma planta forrageira para o plantio da pastagem com base naqueles parmetros, e muito menos substituir uma planta forrageira em uma pastagem j estabelecida por outra buscando maiores qualidade e quantidade de forragem.

Ainda h um conceito arraigado de que forrageiras da espcie P. maximum tm melhor qualidade de forragem e produzem mais forragem por hectare que forrageiras de outros gneros ou espcies e, portanto, so as eleitas para sistemas intensivos de produo em pasto, at mesmo justificando a substituio de um cultivar de uma espcie qualquer por um cultivar de P. maximum.

Na Tabela 3 tem os valores mdios para indicadores que refletem os parmetros qualidade (pelo GMD) e quantidade de forragem (TL) de sete cultivares de Brachiaria sp e seis de P. maximum lanados pela EMBRAPA nas ltimas quase trs dcadas.

Ento se as diferenas entre forrageiras para qualidade e quantidade de forragem no so significativas quais parmetros devem ser avaliados para a escolha da espcie forrageira para o plantio da pastagem?

O foco deve estar nos seguintes parmetros e na seguinte ordem:

I. adaptao da forrageira s condies climticas da regio j que o homem no consegue interferir nos elementos e fatores climticos;

II. depois adaptao s caractersticas dos solos da regio, seguindo a ordem relevo (o homem no interfere), profundidade (o homem no interfere), drenagem (h limitaes pela legislao ambiental) e fertilidade (interferncia total); e por fim,

III. o comportamento da planta forrageira frente a pragas e a doenas.

Todos os outros parmetros daqueles nove citados no incio deste artigo so veis de interferncia e controle pelo homem, at mesmo o controle de pragas e doenas.

E as to desejadas qualidade e quantidade de forragem so parmetros que o homem tem toda a capacidade de determinar atravs do manejo correto da pastagem.

E se o pecuarista pretende intensificar a produo animal em pasto comece pelas pastagens cujas espcies forrageiras estejam adaptadas h anos na sua fazenda, mesmo mal manejadas, desde que o estande de plantas esteja uniforme.

Para o pecuarista seria mais fcil ter disponvel no mercado, forrageiras que naturalmente apresentassem melhor qualidade e maior quantidade de forragem, independente das prticas de manejo que fossem adotadas. E ele acredita que isso seja possvel, mas infelizmente, no . Ele precisa mudar de atitude.

Um detalhe: veja nas tabelas 1, 2 e 3 que as TL variaram entre 3,6 a 5,9 UA/ha (GET:FAZU), que o GMD anual variou entre 0,445 (EMBRAPA) a 0,72kg/cabea/dia (GET:FAZU) e as produtividades por hectare variaram entre 20,6@/ha/ano (EMBRAPA) a 62@ (GET:FAZU em 450 dias). Pergunta-se: qual a produtividade mdia das pastagens brasileiras? Para GMD de 0,27kg/dia. Para taxa de lotao de 0,84 UA/ha. Para produtividade por hectare de 3,24@/ha/ano. Ento pecuarista, se a sua fazenda ainda tem ndices na mdia das pastagens brasileiras, ou que seja o dobro ou que seja o triplo, se preocupe primeiro em mudar o manejo da pastagem para aumentar seus ndices de produtividade antes de pensar em substituir a espcie forrageira tradicionalmente explorada.