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Mesmo as prticas mais conhecidas das fazendas, aquelas que am de gerao para gerao, devem se atualizar. Como sempre digo, mexe-se em time que est ganhando, pois, o que nos trouxe at aqui, no necessariamente, nos levar frente.
Dentre os processos em fazendas, um dos mais tradicionais em qualquer tipo de propriedade pecuria a vacinao. Aproveito a poca pr-campanha para sugerir ajustes que podem ser realizados nesse manejo para aprimor-lo, porm, mais do que isso, gostaria de motivar a reflexo sobre como possvel melhorar os processos de trabalho, mesmos aqueles arraigados e culturalmente institudos nas equipes. Sem dvida, o lucro da pecuria de preciso est na excelncia do cumprimento desses detalhes.
Voltando para o exemplo, as etapas do processo de vacinao permitem alcanar outros ganhos alm da imunizao em si do rebanho ou o cumprimento de uma determinao legal. possvel trabalhar questes de planejamento, motivao de equipe, boas prticas, bem-estar animal, otimizao de recursos e qualidade da carne. J pensou nisso?
Todo o processo deve comear com o planejamento de quantas pessoas iro trabalhar e onde ficaro alocadas. O grupo pode estar dividido em duas equipes: a da vacina em si e aquela que ir trazer e levar o gado. O curral lugar de trnsito e nunca deve estar cheio de animais. Tambm preciso definir qual ser a logstica da ordem dos retiros, fazenda por fazenda.
Os insumos devem ser revistos como caixa, gelo, vacina, agulha, seringa e seus reparos; alm de medicamentos que podem ser necessrios para emergncia. A lista de materiais deve ser checada at dois dias antes da vacinao, para que haja tempo de compra, se necessrio. Tambm deve ser feita uma reviso no curral para ajustar pontas e tabuas que estejam caindo. Tem gente que sofre durante todo o manejo de vacinao com um problema na guilhotina ou no curral, por exemplo, para consert-lo s no final do manejo. Isso pouco inteligente, alm de arriscado.
Reunio de lanamento do servio
Antes de comear o procedimento importante que toda a equipe esteja no curral para a definio dos combinados em uma “reunio de lanamento”. Deve-se questionar: o que se espera da vacina? Quais os melhores procedimentos? O que no deve acontecer? E, na conversa, o lder ir ar a mensagem para que as pessoas tenham cuidado e faam o manejo com calma. Ele ir orientar sobre a troca de agulhas e prtica para a conservao do produto. Vale uma reciclagem do procedimento, mostrando o local de correto da vacinao como tambm orientaes para reduzir as quebras de agulha e a contaminao. A reunio no tem por objetivo “chover no molhado”, mas incentivar o debate educacional para nivelar o conhecimento, relembrar prticas esquecidas e valorizar quem faz bem feito. No final da reunio, deve-se enfatizar o que se espera: a imunizao correta, sem acidente para os animais e para as pessoas.
A vacinao deve acontecer no tronco de conteno. Isso inegocivel! No h como vacinar os animais no brete supondo que haver maior velocidade de procedimento. J foi comprovado cientificamente que o manejo de vacinao mais eficaz com o animal contido e isso pode at diminuir o tempo de operao. A prtica corrobora com o que dizem as pesquisas. Quem est na lida sabe o tempo que se perde ao desvirar um animal que pula no meio do brete, o que comum. Alm da insegurana e prejuzo pela incerteza da aplicao correta.
O lder ou proprietrio, ao acompanhar o procedimento no curral, no deve apressar as pessoas. O manejo deve seguir seu ritmo com cuidado, pois nesse caso o indicador importante no o nmero de animais vacinados/dia ou o tempo da operao. O correto ser medir a qualidade da aplicao da vacina, nmero de abcesso, nmero de acidentes etc. A mtrica ir considerar os indicadores que mostrem a qualidade do processo.
Aproveitar a agem dos animais para outros controles
A vacinao o momento em que todos os animais so supervisionados, individualmente, pela equipe. Manejos de reproduo ou outros cuja vacinao possa comprometer o desempenho no devem ser realizados, por outro lado, h controles que podem ser feitos.
Fazendas que trabalham com engorda podem aproveitar o manejo para fazer aferio de peso. As demais devem coletar o peso de 15% (desde que o aparte seja de at 30kg) do lote para verificar se o ganho est dentro do previsto, pois se necessrio, h tempo de fazer ajustes nutricionais para alcanar a meta estipulada. A aferio de amostra tambm permite verificar a homogeneidade do lote. Se necessrio, tambm pode ser feito um novo aparte de lotes muito heterogneos.
A pesagem tambm um indicativo para as fmeas que entraro em reproduo no final do ano. Por ocorrer em perodo que antecede a seca pode-se avaliar o peso das fmeas e prever se estaro no escore desejado para a estao de monta. Se identificado que esto magras ainda h tempo de um reequilbrio nutricional para que elas cheguem com peso adequado na estao. Fechar os olhos sobre isso ter mais fmeas vazias no fim do ano e, consequentemente, menor produo ao nascimento.
Por exemplo, as novilhas devem estar com mnimo de 300kg para concepo. Se a aferio, na vacina, apontar fmeas jovens com 220kg preciso avaliar qual ser a estratgia para que esse animal ganhe os 80kg at a monta e manter um bom ndice reprodutivo. Os ajustes vo indicar uma mudana no manejo, readequao de lotes e atualizao do plano nutricional para a conquista do peso necessrio.
Grandes rebanhos, com retiros afastados, podem aproveitar esse momento de agem no curral para uma auditoria na fazenda e marcao fria para contagem do gado. Ao voltar para o retiro, se h animais sem a marca fria, conclui-se que no foram contabilizados e vacinados (soca) e pode-se aplicar o manejo. Dica prtica contar os animais sempre “na sada”, ou seja, quando esto sendo soltos do brete, com uma conferncia, se necessrio, na agem de uma rea a outra do curral. Assim, no h erro.
Ao fim do processo hora de uma reunio final de avaliao. Quais foram nossos acertos? O que faltou e precisamos ter cuidado da prxima vez? Qual foi o nmero de ocorrncias? Quantas agulhas quebradas? Esse um momento de integrao, aprendizado e fortalecimento de um novo jeito para velhos manejos. Haver mais organizao, preparo, capricho e a certeza da imunizao. Colhe-se a integrao da equipe, noes de planejamento, bem-estar e sade animal. Fora da porteira, o reflexo est na ascenso do status sanitrio brasileiro o que impacta diretamente no mercado internacional e na sustentao de toda a cadeia.