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Os prejuzos causados pelo maior vilo da soja brasileira 1w732y

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06/12/2018 - 16:50

Atualmente vimos notcias sobre o aparecimento de focos da ferrugem asitica (Phakopsora pachyrhizi) em lavouras da safra 2018/2019 em alguns estados da regio Sul, Sudeste e do Centro Oeste. As informaes preocupam produtores, que temem os prejuzos que a doena pode causar a produo. 6m5d3o

De acordo com a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), a produo do gro para essa safra de aproximadamente 119,2 milhes de toneladas, e a instalao da ferrugem asitica no campo, pode ser um fator de correo para esse nmero.

Para esclarecer algumas dvidas e entender sobre a doena e seus reais impactos a soja, a Scot Consultoria convidou Rafael Moreira Soares, pesquisador da Embrapa Soja para uma entrevista.

Rafael possui graduao em agronomia pela Universidade de o Fundo (1994), mestrado (em 1997) e doutorado (em 2001) em agronomia na rea de Proteo de Plantas pela Universidade Estadual Paulista Jlio de Mesquita Filho (UNESP). Trabalhou na Fundao de Pesquisa Agropecuria do Rio Grande do Sul (Fepagro) entre os anos de 2002 e 2004, e desde 2004 pesquisador da Embrapa Soja. Tem experincia na rea de agronomia, com nfase em fitopatologia, atuando principalmente na realizao de pesquisas para o manejo de doenas da cultura de soja (Glycine max), com foco no desenvolvimento de cultivares resistentes doenas e controle qumico. Veja a entrevista a seguir:

Scot Consultoria: O senhor poderia comentar sobre a importncia da ferrugem asitica para a cultura da soja e qual o seu potencial de dano?

Rafael Soares: A ferrugem asitica da soja um fungo e a principal doena da cultura no Brasil atualmente, isto porque uma doena bastante agressiva que causa desfolha e perda de produtividade na lavoura e est disseminada em praticamente todas as regies produtoras do gro no Brasil, com exceo do extremo Norte do pas, como Roraima, que ainda no foi detectado o problema.

Ns temos vrias ferramentas para o manejo da doena e entre elas, a principal o uso de fungicidas, ou seja, o controle qumico. Mas a nossa maior preocupao tem sido o aparecimento de resistncia do fungo aos fungicidas utilizados. Ento, produtos que l no incio, quando a ferrugem apareceu, em 2003 e 2004, funcionavam muito bem, hoje j possuem defeitos.

Scot Consultoria: Em relao as molculas disponveis no mercado para controlar a doena, o senhor acredita que o produtor est bem amparado com as opes encontradas?

Rafael Soares: Com certeza ns necessitamos de mais opes. O agricultor ainda tem produtos bons para serem utilizados, podendo utilizar uma mistura de duas ou trs molculas diferentes comerciais que j vem pronta.

Tambm temos a recomendao de utilizar produtos “multi-stios” que so produtos de contato que no so to modernos e eficientes como essas molculas utilizadas mais comumente, so produtos efmeros que penetram na planta. Mas a mistura desses “multi-stios” tem ajudado a melhorar o ndice da doena e controle e, alm disso, eles auxiliam tambm a manejar esse problema da resistncia, pois no esto sujeitos a esse fator como os produtos “stio-especficos” que so os produtos sistmicos.

Ento, ns temos a necessidade de que as empresas que desenvolvem esses produtos lancem novas molculas, para que ns no fiquemos correndo o risco de ficarmos sem essa ferramenta de controle, pois j foi registrado resistncia sobre as trs principais molculas que so utilizadas.

Scot Consultoria: Quais as novas linhas de pesquisa em relao ao combate doena?

Rafael Soares: So diversas as formas manejo. O correto comear na entressafra, com o agricultor adotando o vazio sanitrio e cuidando da sua rea para que no tenha plantas espontneas de soja, que se perde no transporte aps a colheita, porque pode ter sobrevivncia do fungo, essa a primeira medida que o agricultor, antes de plantar a soja, j deve adotar para comear a controlar a doena.

H tambm a parte de manejo cultural, que seria semear o mais cedo possvel e com cultivares mais precoces, isso tem ajudado no que ns chamamos de escape da doena, pois voc planta mais cedo e colhe mais cedo, escapando do perodo mais crtico quando a populao de fungos est mais alta no ambiente. Por isso que ns somos a favor de que a janela de plantio no seja muito longa, pois quanto mais tarde for plantado, pior, tendo maiores chances de manifestao da doena e tendo que aplicar maior quantidade de fungicida.

E, alm disso, as novas tecnologias que ns temos mais esperana para melhorar o controle da doena, o uso de cultivares resistentes ferrugem. J existem algumas cultivares no mercado, a Embrapa lanou a Tecnologia Shield, que o nome comercial para nossas variedades que possuem genes de resistncia doena.

No so cultivares imunes doena, elas ainda iro precisar de aplicao de fungicidas como as outras, mas em caso de epidemias mais fortes, ou o agricultor no conseguir ir ao campo devido s chuvas para a aplicao no momento exato, sero materiais que am mais a doena, que no se multiplicam tanto. Essas cultivares talvez sejam, no momento, a tecnologia mais inovadora que ns temos.

Scot Consultoria: Quais os principais manejos que devem ser adotados para a diminuio da infestao quando a doena j est inserida?

Rafael Soares: O ideal que o agricultor entre com o controle qumico preventivamente, pelo menos que a primeira aplicao seja realizada antes de visualizar a doena. Mas para isso, ele deve utilizar ferramentas informativas disponveis, por exemplo, o site de consrcio de ferrugem que tem as primeiras ocorrncias, alm de outras informaes, como o clima, para fazer essa aplicao preventiva bem-feita, para que ele possa evitar ao mximo que a doena evolua em sua lavoura.

Eventualmente, principalmente nos cultivos mais tardios, a doena vai entrar, porque no tem como ter 100% de proteo. A partir disso, ele tem que ir realizando as aplicaes de fungicidas e fazer o monitoramento. O residual da maioria dos produtos est entre 15 a 20 dias, ento o agricultor ter que fazer a aplicao novamente aps esse tempo se a doena ainda estiver presente.

Alm disso, necessrio observar outras doenas. Em via de regra, as aplicaes esto sendo feitas para a ferrugem, mas outras doenas, como doenas de final de ciclo, como Odio em pocas mais secas, mofo branco, mancha alta, so doenas que podem demandar aplicaes de fungicidas.

Scot Consultoria: Como o custo de produo afetado em caso de foco da doena na propriedade?

Rafael Soares: Ns calculamos que anualmente, no Brasil, a ferrugem tem um custo de US$2,00 bilhes. Esse custo basicamente tem sido de perda, mas o produtor tem conseguido diminuir significativamente as perdas, e basicamente ento, esse custo a aplicao do fungicida. Os melhores produtos tm um custo relativamente elevado, essas misturas de stios tambm tm um custo elevado, ento voc est fazendo uma aplicao, mas nesta aplicao voc est colocando dois ou trs produtos, o que aumenta o custo por hectare da aplicao.

esse que tem sido o maior custo de produo a respeito da ferrugem. E, evidentemente que se o agricultor entrar no momento errado ou no conseguir controlar a doena, ela pode causar perdas, que podem variar de 5% a 20%, e em caso de perder a mo mesmo pode at ser maior. H casos, em ensaios, que no so feitas as aplicaes, que as perdas chegam a 80%-90%.