Os meses de maio e junho marcam o incio do perodo seco nas principais regies de explorao pecuria do Brasil, com exceo do Nordeste onde, em oposio, se iniciam as chuvas. 4l3h5g
Esse perodo de seca, anualmente enfrentado pelo pecuarista com maior ou menor dificuldade, dependendo da intensidade com que se impe, marcado por, alm da ausncia de chuvas, diminuio do fotoperodo ou horas de luz diria, e diminuio das temperaturas, principalmente durante as madrugadas, com possveis ocorrncias de geadas, com temperaturas prximas ou abaixo de 0oC, de acordo com a topografia e regio em que se localizam.
As forrageiras tropicais paralisam seu metabolismo, secam as folhas, no perfilham e diminuem seu sistema radicular. O pecuarista que teve oportunidade de realizar o diferimento de pastagens e/ou produziu silagem, a hora de fazer uso delas na suplementao alimentar dos bovinos. Outros ainda, dependendo de suas capacidades, estratgias e peculiaridades econmicas, iniciam o confinamento de animais. De forma geral se estabelece uma mudana na rotina da fazenda.
Assim como nas forrageiras, a mudana do clima influencia no metabolismo das plantas daninhas que infestam as pastagens.
As espcies anuais, predominantes entre as que caracterizamos como de fcil controle, fecharam seu ciclo e sumiram da pastagem. Restaram suas sementes no solo, que germinaro no restabelecimento das condies climticas favorveis na primavera.
As espcies perenes tambm fecharam seu ciclo, possuem sementes secas em suas estruturas reprodutivas, como vagens e pendes, ou j as dispersaram pelo vento, atravs de animais ou outros mecanismos, porm permanecem vivas. Internamente seus talos esto verdes. As folhas se modificaram em defesa da perda de gua para o ambiente. Em algumas espcies ficaram coriceas, outras reduziram drasticamente sua rea e arquitetura. A cutcula, que a camada de cera de proteo da folha, ficou mais espessa e impermevel. Alteraes que, em resumo, caracterizam as estratgias das plantas para atravessar esse perodo desfavorvel, com um mnimo de gasto de energia, garantindo sua sobrevivncia. Seu sistema radicular est ativo, normalmente explorando camadas profundas e midas, muito alm das exploradas pela gramnea forrageira, o que caracteriza a paisagem do momento, das pastagens secas e das plantas daninhas verdes.
Todas essas transformaes metablicas da planta indicam que devemos t-las em considerao para seu controle. A roada manual ou mecnica uma das principais estratgias de combate utilizadas pelo pecuarista nesse momento, o que em alguns casos interessante, uma vez que o dano s pastagens mnimo, ou inexistente, e a supresso da parte area elimina as partes secas da planta, proporcionando um melhor rebrote na primavera, facilitando seu controle foliar em rebrotes vigorosos nos perodos chuvosos que se sucedero. Contudo essa roada proporciona o fortalecimento do sistema radicular das plantas herbceas, arbustivas e arbreas, e caso no se realize uma ao de controle, imediatamente aps o corte, ou foliar em seus rebrotes, teremos um fortalecimento desta planta roada, sendo seu controle efetivo praticamente nulo nessa operao.
Fao um analogia da roada das plantas daninhas poda de inverno realizada em frutferas de interesse econmico, principalmente as de origem de clima temperado, como videiras, figueiras e macieiras, onde se eliminam as partes velhas, fontes de perda durante o perodo seco e que dificultaro seu rebrote e se fortalece o sistema radicular. exatamente isso que o pecuarista realiza com a roada das plantas daninhas: uma poda com ao revigorante.
Dentre os mtodos de controle das plantas daninhas nesse perodo devemos descartar totalmente a modalidade de aplicao foliar, restando trs outras modalidades: aplicao no toco aps o corte; basal sem corte e distribuio de herbicidas no solo.
uma das principais modalidades de controle no perodo seco, e por sinal tambm uma das mais efetivas em plantas lenhosas. Muitas vezes a nica opo, aliada modalidade basal, que proporciona controle de algumas espcies de difcil, e at mesmo impossvel, controle em aplicaes foliares.
Como mencionado em artigos anteriores, dentro de estratgias de controle das plantas daninhas na pastagem, se consideram aplicaes foliares nas pocas quentes e midas, com tratamentos qumicos mais baratos, que proporcionaro controle das plantas de mais fcil controle, normalmente em maiores infestaes, e as plantas de difcil controle remanescentes so foco nessa ocasio.
A aplicao de produtos base principalmente de picloram, realizada imediatamente aps o corte do caule, o mais rente possvel ao nvel do solo. Esse corte rente ao solo importante porque cortes mais altos determinam um maior percurso que o produto dever percorrer at atingir o sistema radicular, bem como representa reserva de defesa da planta tratada. A indicao da aplicao ser imediatamente, ou o mais breve possvel aps o corte, se deve tambm defesa da planta, que sela seus vasos para evitar perdas de gua e seiva, dificultando tambm a penetrao do herbicida.
As diversas marcas de picloram comercialmente disponveis no mercado so formulaes lquidas, contendo 240 g/L de concentrao. Algumas j possuem corantes, normalmente azul ou roxo, o que bastante interessante nessa modalidade de aplicao, marcando as plantas tratadas e facilitando o trabalho no campo. Quando a formulao no contm corante, sua adio praticamente mandatria, pelo motivo mencionado. Diversos corantes podem ser utilizados, desde os empregados em pintura at corantes alimentcios.
A prtica recomenda que se trabalhe no campo em duplas ou trios, onde um ou dois trabalhadores realizam o corte com foice, machado ou motosserra, e outro fica exclusivamente dedicado aplicao nos tocos recm cortados, utilizando pulverizador costal, pressurizado manualmente, equipado com ponta de pulverizao que proporcione o jato mais concentrado possvel, para que este se direcione exclusivamente no toco cortado, podendo tambm que algum volume escorra at o solo rente ao tronco, uma vez que o produto absorvido tanto na rea de corte como pela raiz. Outra recomendao que se realize um bom molhamento na rea de corte, o que no ocorre quando se utilizam esponjas ou pinceis, no sendo assim recomendados para uso nessa aplicao.
Uma recomendao especial na aplicao de herbicidas no toco de plantas lenhosas, se faz em espcies que possuem sistema radicular com um tipo de enovelamento de vasos prximo ao nvel do solo. Caso clssico observado na espcie Memora peregrina, popularmente conhecida como “ciganinha”, uma bignonicea arbustiva, da famlia dos ips. Planta importante nos cerrados de So Paulo, Minas Gerais, Gois e principalmente Mato Grosso do Sul. Nesse caso s o corte rente ao solo no suficiente. Deve-se utilizar enxadas, ou outras ferramentas de corte, que atinjam esse enovelamento no incio da raiz, abaixo do nvel do solo, normalmente a 10, 15 ou at 20 cm de profundidade, para que o produto seja aplicado nessa regio. Um trabalho bastante mais exigente em qualidade, demandando treinamento dos aplicadores e cuidadoso acompanhamento durante a aplicao, mas tambm sendo bastante efetivo no controle quando bem feito.
Campo infestado com Ciganinha (Memora peregrina) – Foto: N. Caceres
Detalhe do sistema radicular profundo da ciganinha, e o ponto de enovelamento de vasos onde deve ser feito o corte e aplicao no toco – Foto: N. Caceres
A aplicao basal, assim denominada por ser realizada na base da planta, realizada sem o corte e direcionada no tero ou metade inferior dos troncos ou ramos da planta a ser controlada. Uma modalidade de controle bastante interessante tratando-se de plantas que possuem caules finos ou com numerosas ramificaes. Importante que a aplicao seja em todos os ramos da planta e que o molhamento seja em toda a circunferncia dos ramos ou tronco.
A barreira para penetrao do produto na planta a casca dos troncos ou ramos, muitas vezes espesso e corticoso, e para penetr-los a calda herbicida no pode ser diluda em gua, mas em um solvente orgnico, como leo diesel ou querosene, o que vem a ser um inconveniente pelo custo adicional, mas mais prtico e rpido que a aplicao no toco.
Os produtos principais para esse uso so base de triclopir ou picloram + triclopir, e como dito anteriormente, diludos predominantemente em leo diesel. Por essa razo tambm que o direcionamento do jato de aplicao deve ser o mais possvel aos ramos, uma vez que o que cair no capim no ser efetivo na planta daninha e causar a queima da forrageira.
Aplicao basal – Foto: Corteva
Finalmente temos como possibilidade de controle de plantas daninhas na poca seca, a aplicao de herbicidas slidos no solo, ao redor das plantas. Essa modalidade bastante prtica para controle de plantas arbustivas e lenhosas, encontra-se hoje mais limitada pela pouca disponibilidade de produtos comerciais, predominantemente formulaes peletizadas, contendo 100 g/kg (10%), do ingrediente ativo tebutiuron. Esse produto essencialmente absorvido pelas razes, assim, uma vez aplicado na superfcie do solo, necessita ser solubilizado e penetrar no perfil para ser absorvido pelas razes. Isso se d nas primeiras chuvas, ou at mesmo atravs da movimentao de gua capilar do solo, ao longo dos ciclos dia/noite.
Alm de plantas de folhas largas, esse produto tambm controla as chamadas tabocas, ou bambus, que so monocotiledneas que infestam pastagens em muitas regies do Brasil.
A recomendao se d em gramas de produto por m2, sendo as doses indicadas nas bulas dos produtos, e variam com a espcie da planta alvo de controle.
Bem, comentamos aqui de modo breve, as modalidades de controle de plantas daninhas durante o perodo seco em pastagens. Uma poca em que as invasoras at exercem pouco poder de competio com as forrageiras, uma vez que estas esto com baixa atividade metablica, porm uma poca capital para control-las, reduzindo sua populao, tornando esse trabalho facilitado, e com menores perdas, no perodo das guas, onde a pastagem deve produzir em toda sua potencialidade, contudo, como mostrado no texto, exige alguns cuidados especiais para bem aplicar as tcnicas.