Scot Consultoria
scotconsultoria-br.noticiascatarinenses.com

Efeitos das plantas daninhas sobre os hbitos de pastejo 14382s

por Neivaldo Tunes Caceres
05/01/2021 - 18:00

Em textos anteriorestivemos oportunidade de mencionar brevemente alguns aspectos que envolvem a presena das plantas daninhas nas pastagens e sua implicao sobre os hbitos de pastejo pelos animais. Neste artigo vamos focar mais detalhadamente nesse aspecto, por vezes despercebido pelo pecuarista, mas que muito impacta na eficincia de sua atividade. 4l3x26

Pastagem limpa x pastagem infestada 3i2m5v

Em nosso artigo de julho de 2020 “A vaca vota”, apresentamos interessantes resultados de um estudo conduzido nos EUA que comprovou, cabalmente, a preferncia dos bovinos por pastejarem reas livres de plantas daninhas. Relembrando, em quatro meses de estudo, os animais permaneceram 76% do tempo na rea onde havia sido feito o controle de plantas daninhas com herbicidas, em detrimento da rea de igual tamanho, que ficou sem tratamento, mas com livre o aos animais. Nesse estudo, as plantas infestantes eram de porte baixo, apenas dificultavam a o da forragem disponvel aos animais.

Em nosso caminho profissional, no desenvolvimento de herbicidas para pastagens, em centenas de oportunidades na montagem de campos experimentais, pudemos observar esse efeito quando fazamos aplicaes em pequenas parcelas na pastagem, onde animais permaneciam na rea. Com o avano do controle apenas nessas parcelas, os animais promoviam um super pastejo nas reas limpas e no exploravam as parcelas testemunhas ou o restante da rea no tratada, onde a forragem era sub pastejada. A simples presena de plantas herbceas de pequeno tamanho j impede que os bovinos deem sua caracterstica bocada com a lngua, envolvendo a forragem para ingesto. Menor disponibilidade de forragem por bocada leva menor ingesto dessa forragem e, consequentemente, menor ganho individual e capacidade de e da pastagem como um todo.

Tratando-se de plantas daninhas de maior porte, observa-se outro efeito no que se refere distribuio dos animais na pastagem. No pasto infestado por plantas lenhosas, arbustivas e arbreas de porte alto, popularmente chamada de “juquira”, o gado sempre est agrupado durante o pastejo e na sua movimentao pela rea. Num pasto limpo, os animais distribuem-se e exploram uniformemente a rea. Esse fato decorre do hbito gregrio que os bovinos desenvolveram ao longo da evoluo das espcies, por serem herbvoros, presas naturais, portanto, necessitam do contato visual entre indivduos do grupo para se sentirem seguros no ambiente. Na pastagem limpa, por mais distantes que os animais se encontrem, havendo possibilidade de contato visual, os animais sentem-se protegidos e pastejam tranquilamente; na “juquira” os animais esto sempre prximos, para que esse contato visual no se perca. Esse efeito pode ser observado nas fotos a seguir.

Figura 1.
Pastagem infestada esquerda com os animais agrupados, e totalmente dispersos numa pastagem livre de plantas daninhas direita.

Fonte: acervo pessoal do autor

Fcil imaginar que ocorrero reas de super pastejo e outras de total subutilizao da forragem em diferentes pontos da pastagem infestada. Como praticar nessas condies o correto manejo de entrada e sada dos animais em funo da disponibilidade de forragem? Impossvel.

Esse aspecto um fator decisivo de degradao das pastagens que leva a um caminho sem volta, determinando em pouco tempo a necessidade de sua renovao para que novamente se eleve o patamar de produtividade da rea.

Compactao direcionada e perdas 1hc45

Plantas daninhas de maior porte, mesmo que em pequenos nveis de infestao, foram tambm o caminhar dos animais, que desviam das plantas, criando um traado repetitivo, levando tanto ao desaparecimento da pastagem nesses caminhos, como compactao dirigida do solo, prejudicando a penetrao da gua da chuva e criando ambiente propcio para que a gua corra e origine eroses, podendo at levar formao das temidas voorocas, em casos extremos.

A presena de espinhos nessas plantas intensifica esse efeito, que afasta ainda mais os animais em seus hbitos de pastejo e caminhar. Estudos conduzidos pela ESALQ mostraram que espcies com espinhos impedem o aproveitamento do capim a at 1,5 m de seu centro, enquanto espcies de plantas invasoras sem espinhos influenciam negativamente num raio de at 1,0 m ao seu redor. Essa informao interessante, porque mostra que, mesmo sem espinhos, uma planta tem grande influncia na perda de aproveitamento da pastagem, podia se imaginar que esse efeito no fosse to pronunciado.

Estudo no MT do Prof. Sidnei Marchi e outros (Planta Daninha 2019; v37:e019185644) tambm mostra a influncia negativa de espcies com espinhos entre 1,0 e 1,5 m de seu centro, sobre o o dos bovinos pastagem existente.

Faamos um exerccio: consideremos uma infestao de apenas 500 plantas/ha, muito pouco, praticamente uma planta a cada 10 m de distncia, a influncia de cada uma delas, se no tiver espinhos, exercida numa rea de aproximadamente 3 m2, totalizando 1.500 m2 de pastagem no aproveitada por hectare. D para acreditar que 500 plantas causam uma perda de 15% da produo de forragem em 1 ha de pastagem? Para piorar, se essa espcie possuir espinhos, as perdas podem subir para 35% com a presena dessas 500 plantas/ha.

Considerao final 71d64

So clssicas e frequentes as referncias das plantas daninhas com as perdas de produtividade e qualidade da forragem; reduo da vida til das pastagens e degradao, necessitando altos investimentos para sua renovao, mas raras so as menes de que a presena dessas espcies indesejveis, mesmo em infestaes aparentemente desprezveis, afeta de tal modo o comportamento animal, que multiplica esse efeito danoso na pastagem. Atente-se para mais esse detalhe e tenha no controle das plantas daninhas um item essencial e inquestionvel na rotina da atividade pecuria.