Scot Consultoria
scotconsultoria-br.noticiascatarinenses.com

Quando parece que tem pouco pasto, o que podemos fazer? 5q3a5

por Sergio Raposo de Medeiros
21/05/2021 - 10:30

Alguns pecuaristas do Brasil Pecurio-Central j comeam a ter a impresso de que os perodos de seca parecem estar se intensificando, seja por um aumento de severidade ou na durao. H algumas simulaes que mostram que isso pode ser mesmo efeito das mudanas climticas e j escrevemos sobre isso, com o sugestivo ttulo “Seeeeeeeeeeeeeeeeca”. 3bu69

Esse ano, em vrios locais, as chuvas do perodo das guas j foram menos intensas e pararam antes da hora. A situao, ento, no de folga em termos de pastagens, com uma “seca” inteira pela frente. E no se tem bola de cristal para saber quando as chuvas efetivamente voltaro. Nesse cenrio, aconselhvel ter cautela, em geral sendo melhor agir para aumentar a chance de sobrar pasto do que arriscar faltar.

Ao contrrio do texto que citamos acima, portanto, esse aqui lida com aes que podem ser tomadas agora para minorar o problema de falta de pasto e, tambm, para alertar o que devemos evitar fazer.

Listamos algumas opes para dar folga ao pasto at que as chuvas voltem:

1. Vender animais

Essa a sada mais simples e lgica e, ao mesmo tempo, a mais impopular. Ningum gosta de se desfazer de ativos, os bois, que so os ganhos futuros na atividade. A questo que, se a manuteno de todos os animais significar superpastejo, o prejuzo duplo: os animais tero baixo desempenho e contribuiro para a degradao do pasto.

2. Usar raes

A suplementao de pastagens na seca uma obrigao no Brasil Pecurio-Central. A questo que as opes que tm melhor relao benefcio/custo dependem de alta disponibilidade de forragem, mesmo que de baixa qualidade. Assim, as pastagens diferidas na seca sero os locais onde essas estratgias podem ser usadas, mas a realidade de muitas regies que as chuvas encurtadas desse vero no permitiram o usual acmulo de pastagem. por isso que uma das solues usar uma lotao ainda mais baixa do que os cerca de uma unidade animal por hectare que temos como referncia (e apenas referncia!) nesses casos.

Se o pasto tem baixo volume de massa, o uso do proteinado, cuja modo de ao exatamente aumentar a ingesto dos animais, ter pouco a ajudar se o animal no tiver o que comer. Quantidades um pouco maiores, como nos proteicos-energticos, tambm acabam ajudando pouco. Por fim, nos preos atuais dos concentrados, no precisa uma proporo muito grande para deixar a prtica anti-econmica, algo que cada um deve fazer os prprios clculos.

Ocorre que, mesmo que a conta de uma suplementao proteico-energtico mais intensa, com 5 ou 7 g/kg de peso vivo, se revele econmica, nessa situao a forragem ainda representa entre 75-65% da matria seca da dieta e, nessa situao indefinida entre ser uma dieta francamente fibrosa ou outra, bem definida como concentrada, a eficincia biolgica pior, algo que costuma ficar fora da conta financeira.

Para fugir disso, uma alternativa a ser considerada o confinamento em pasto, ou semiconfinamento. Nele, usa-se 17 a 20 g de concentrado/kg de peso vivo e o consumo do pasto pelo animal serve apenas para ele se recuperar do excesso de concentrado, com a fibra de baixa qualidade do pasto ajudando-o a recuperar, minimamente, a funo de ruminar. Um alerta que essa tcnica, apesar de ter a vantagem de poder ser feita a qualquer momento e por quase todo mundo, no deve ser feita sem o aconselhamento de um tcnico, pois h risco real de morte de animais por doenas metablicas, como a acidose e o timpanismo. Mesmo que no morra nenhum animal, os resultados podem ser piores do que seriam com a superviso recomendada, que vai da formulao da rao e informaes fundamentais de manejo com relao, por exemplo, adaptao dos animais dieta, um dos pontos-chave para o sucesso dessa opo.

Uma vantagem do confinamento em pasto que as taxas mais elevadas de ganho ajudam o animal a depositar gordura, sendo, portanto, particularmente recomendado para animais que podemos terminar e vender, ou seja, exatamente os que mais vo liberar espao para os animais que ficam na fazenda, afinal so os mais pesados.

3. Usar volumosos

Em relao suplementao concentrada, o uso de volumosos uma opo bem mais tranquila em termos de segurana de uso, pois, no ambiente de forragem (alimento fibroso), estamos dando mais volumosos (alimento fibroso). O operacional um pouco mais complicado, exatamente porque, como o prprio nome diz, temos que lidar com volumes maiores para fornec-los.

Aqui, bom lembrar que o menor custo dos volumosos no necessariamente faro seu uso to mais barato, pois devemos olhar o custo deles em matria seca (MS). Uma silagem de milho que custe, por exemplo, R$200,00/t de matria natural, com 67% de umidade, custa R$600,00 por tonelada de matria seca (R$200,00/t dividido por 0,33, sendo esse ltimo o teor de MS de 33% da silagem).

Para categorias que apenas se deseje manter o peso na seca, como vacas em bom estado corporal, a suplementao com algum volumoso pode ser vantajosa, especialmente quando se considera o custo dirio de suplementao, pois fornecemos apenas a quantidade necessria para manter o peso (menos volume), sem conflito entre pasto e concentrado e sem risco de algum animal comer mais concentrado do que deveria.

4. Confinar

A pergunta natural depois de considerar a suplementao com concentrados e, em seguida, com volumosos: no seria vantagem usar os dois juntos? A resposta que perfeitamente possvel. Nesse caso, ento, por que j no fazer uma dieta completa, incluindo minerais e aditivos? E, se fizer, por que j no confinar os animais?

Tentar um confinamento especialmente interessante no contexto de reduzir a lotao das pastagens. Um pequeno confinamento de 100 cabeas pode liberar 100 hectares de pasto diferido em bom estado, considerando o valor de referncia citado.

Um confinamento pequeno pode ser feito de forma simples e, at, meio improvisada, no que diz respeito sua estrutura fsica. Onde no se deve economizar, contudo, no seu planejamento, pois exatamente em saber quanto ele deve custar e quanto deve produzir por animal que reside uma de suas principais vantagens. Nesse caso, recomenda-se que o produtor tenha superviso de tcnicos para planejar e realizar o confinamento. Mesmo que, por ser com poucos animais, o custo do tcnico por cabea seja muito alto, pode ser mais barato que os prejuzos pela falta de orientao. Deve-se permitir alguma presso desse estreitamento de margem (ou at pequeno prejuzo), considerando essa despesa como parte do custo do aprendizado que permitir ganhos maiores no futuro.

5. Boitel

Essa opo de terceirizar a engorda elimina a necessidade de investimento. Mesmo que seja para s ganhar a arroba estocada (as que entram no confinamento com o animal), quando todo o ganho do confinamento fica para o proprietrio do boitel, ainda assim, pode ser vantajoso. Tem-se a mesma vantagem de reduzir a lotao da fazenda ao vender os animais no incio da seca, mas com a chance de conseguir um preo melhor nas arrobas que entraram, apostando em uma valorizao das arrobas no perodo do confinamento. Nesse ano, em que o preo da arroba est j bastante elevado, parece haver menos espao para que isso ocorra, mas continua sendo uma alternativa a ser considerada.

6. Irrigao

Uma ltima alternativa seria pensar em irrigar as pastagens. Sem dvida, essa a opo mais complicada. O primeiro alerta que a gua apenas um dos fatores de produo de forragem. A irrigao tem tanto mais chance de alterar a curva de produo de forragens quanto mais prximo da linha do Equador for a pastagem. Isso porque, nessas latitudes, a durao do tempo de luz dirio (fotoperodo) longa o ano todo, bem como as mdias de temperatura so sempre mais elevadas. No Brasil, quanto mais ao sul, menos diferena faz irrigao na produo da forragem. Ainda assim, mesmo no estado de So Paulo, podemos ter bons resultados nas pocas em que as chuvas rareiam, mas ainda os dias so quentes, como no incio e final da seca.

Especialmente para essa temporada, um projeto de irrigao pode ajudar no caso da seca se prolongar e, quando as temperaturas mais altas do final do inverno permitirem, conseguir ir adiantado a recuperao das reas irrigadas.

Ao contrrio do confinamento, comear com uma rea muito pequena e ir aumentando mais complicado. Parece mais lgico, nesse caso, pensar em uma estrutura cujo tamanho faa o custo por hectare irrigado ser bem diludo, o que pode implicar em pensar em reas da ordem de uma centena de hectares como mnimo. Esse valor mnimo para iniciar j deve fazer parte da orientao tcnica que fundamental nesse caso.

A opo de irrigar, portanto, daquelas que precisa estar no contexto de pensar mais em mdio e longo prazo, colocando outros objetivos no horizonte futuro como, por exemplo, um pastejo mais intensificado ou at a adoo da produo integrada.

Consideraes Finais

Todas as alternativas acima so apenas sugestes e podem ser consideradas paliativas. Elas no so excludentes e podem ser combinadas entre si para minorar a falta de pastagem. Elas apenas apontam direes. As decises mesmo tm que ser feitas por cada um em funo das caractersticas e circunstncias locais.

Alm disso, como boa parte delas tm que ser feitas baseadas em expectativa futura incerta, fica ainda mais difcil separar o certo e o errado. H, todavia, uma chance do arrependimento maior ao se ignorar os riscos e amargar perdas, do que se lamentar por ter podido ganhar mais ao ser prudente. E, se h mais riscos em uma das opes, porque ganhar com ela menos provvel. Informao, tcnica, experincia e instinto: o que contamos nessa hora e que, em longo prazo, deve garantir o melhor conjunto de escolhas.