O consumo um dos aspectos mais determinantes da produo animal. , tambm, um dos assuntos em que existem as maiores dvidas, alguns mitos e respostas contraintuitivas. Abaixo, um que junta algumas das perguntas mais comuns, desde o consumo de suplemento mineral at o de gua. 2a3i2m
Apesar de, por vezes, ainda algum reviver a teoria da “sabedoria nutricional” do animal, infelizmente, isso no acontece. Segundo essa teoria, o bovino, tendo o a um cocho provido de subdivises, em que cada uma delas tivesse um mineral, ele lamberia cada uma dessas fontes na medida exata das suas exigncias. Na realidade, o nico mineral que, inequivocamente, os animais procuram avidamente o sal comum (cloreto de sdio). Exatamente por isso, o sal comum o motivador do consumo e os demais vo de arrasto. Por isso, ele usado como referncia, considerando que o animal consome at a exigncia desse mineral ter sido atendida, o que, apesar de poder ocorrer ou no, o que nos resta para formularmos as misturas minerais e, na mdia, parece funcionar relativamente bem.
A incluso da ureia pode ajudar a alterar o padro de consumo dos animais do suplemento, em geral sem reduzir o consumo dirio, por um aumento no nmero de visitas ao cocho. A crena de que ela pode restringir o consumo perigosa, pois ingesto elevada de ureia (mais do que 30-40 g/100kg de PV) pode causar intoxicao e risco de morte. No custa lembrar, inclusive, que deve ser feita adaptao dos animais ao sal com ureia, com consumo de 1/3 da dose na primeira semana e 2/3 na segunda, diluindo-o com um sal mineral sem ureia.
A quantidade de incluso do sal comum nos proteinados muito maior do que a necessidade para as exigncias de sdio, mas a funo mais importante dele nesse tipo de suplemento reduzir a taxa de ingesto pelos animais, ajudando para que todos os animais consigam sua vez de chegar ao cocho e consumam o produto. Conseguir o consumo-alvo de um proteinado, na pinta, acaba sendo um evento raro. O importante que esteja mantendo o valor mais prximo possvel da mdia planejada. No caso de subconsumo, pode-se reduzir o teor de sal comum na frmula e vice-versa, caso o objetivo seja reduzir o consumo. Todavia, se reduzir muito o teor de sdio, podemos ficar sem o efeito de reduo de taxa de consumo. Assim, uma alternativa para controlar o excesso de consumo sem reduzir o sdio a colocao de uma quantidade fixa por um nmero determinado de dias, digamos trs, e a no reposio no terceiro dia, mas s no dia seguinte. Para evitar que animais submissos do lote fiquem sem sua parte do consumo, deve-se atentar para a disponibilidade linear do cocho e aumentar se notar muita competio entre os animais.
Quando se usa quantidades maiores de concentrados para suplementar animais em pastagem, como em semi-confinamentos ou confinamento em pastagem, ao contrrio do proteinado, no h sal comum que chegue. Nesse caso, o que resta ao produtor dar espao de cocho para que todos os animais consigam comer ao mesmo tempo, pois somente assim podemos ter a esperana de que cada um dos animais coma exatamente a parte que planejamos a eles.
A caracterstica do alimento que mais interfere no seu consumo de matria seca (MS), desde que ele no tenha algum outro fator anticonsumo, sua digestibilidade. Agora, consideremos uma gramnea que foi colhida com 80 dias de crescimento, e que metade dela ensilamos e a outra metade foi transformada em feno. Em seguida, a silagem e o feno so oferecidos a dois lotes de animais idnticos, um em cada piquete. Depois de alguns dias, o consumo mdio de cada um dos piquetes avaliado, com a silagem com consumo de 33,33 kg/cabea/dia e o feno de 11,11 kg/cabea/dia. Para um leigo em nutrio de ruminantes, a resposta estaria clara e com larga vantagem para a silagem. Ocorre que, para ruminantes, em questo de nutrio, ns desconsideramos a gua, pois ela muito varivel em importantes fontes alimentares, especialmente nas forragens e outros volumosos. Nesse caso, sendo os teores de MS, respectivamente, para silagem e feno, de 27% e 81%, temos que a quantidade de MS exatamente a mesma, ou seja, 33,33 kg/cabea/dia X 27/100 = 9,00 kg de MS, assim como 11,11 kg/cabea/dia X 81/100 = 9,00 kg de MS. Portanto, em geral, a maior parte da variao de consumo entre feno e silagem costuma mesmo ser o teor de MS. Nesse caso, o consumo foi igual, pois tanto a silagem como o feno eram de uma mesma planta e o que contou para determinar seu consumo foi sua digestibilidade. Nessa considerao, assume-se, tambm, que o processo de fermentao da silagem foi bem-sucedido, pois, quando no, compostos secundrios de fermentao subtima podem reduzir a ingesto das silagens.
No existe esse valor para teor de MS ideal para consumo, pois, para o animal, o que conta a MS ingerida, como no exemplo acima.
Sim, ele pode, mas isso costuma no acontecer, ou seja, em pastagens a regra o animal no consumir tudo o que desejaria. Um dos parmetros sugeridos, no qual ocorreria o consumo voluntrio, seria a oferta de forragem maior do que trs vezes o consumo voluntrio do animal, o que s acontece em pastos com muita massa e baixas lotaes. Nessa situao to grande a quantidade de forragem que, por facilidade de apreenso da forragem e pela maior possibilidade de seleo das partes mais nutritivas das plantas, o animal pode comer at atingir sua exigncia energtica e perder o interesse em continuar pastejando.
Essa aquela pegadinha, que todo mundo vota “sim”, mas que s verdade se for comparando o mesmo alimento ou a mesma dieta. Um bom exemplo so dietas “quentes” de confinamento, ou seja, dietas com predomnio de concentrados. Quanto mais usamos concentrado, que tem maior teor de energia do que os volumosos, mais rapidamente o animal atingir sua necessidade energtica, pois precisa cada vez menos alimento para que isso ocorra, ou seja, com menor consumo.
Outra pegadinha: a maior parte das pessoas escolhe a opo “cresce porque come”, pois ela est na ordem lgica dos processos, ou seja, o animal primeiro come e depois, com os nutrientes, cresce. Todavia, vrias informaes cientficas mostram que o crescimento do animal que o “puxa” da ingesto de alimentos. Tive um bom exemplo disso no meu experimento de doutorado: o suplemento usado como tratamento reduziu a gordura do leite e, portanto, uma das respostas possveis seria que as vacas tratadas teriam menor necessidade de consumo, afinal a gordura o componente mais energtico do leite. Todavia, a resposta das vacas tratadas foi aumentar a produo de leite em volume, mas exatamente na quantidade que resultou no mesmo gasto de energia para o menor volume com mais gordura das vacas controle. Enfim, o consumo de matria seca foi o mesmo, comprovando a tese segundo a qual o animal come em funo das suas exigncias e no o contrrio.
O consumo recomendado de gua para um animal que ele beba toda a quantidade que tenha vontade. Simples assim. Especialmente em um pas tropical como o Brasil devemos ter cuidado, pois a gua fundamental no s por questes nutricionais, mas porque ela tem um importante papel na regulao trmica e em aliviar o estresse calrico principalmente pelo processo de sudorese. Quanto mais quente, mais gua o animal perde pelo suor e mais sede ele ter. uma grande lstima quando o desempenho animal limitado por falta desse atendimento to bsico. O importante reconhecer a importncia da gua e ficar de olho em oferec-la em abundncia aos animais.
Esperamos que alguma dessas informaes sejam teis e/ou que ajudem a uma melhor compreenso do consumo nas vrias dimenses e aspectos aqui abordados. O importante sempre estar atento ao consumo e se perguntando se tudo o que pode ser feito para obter os melhores resultados est sendo feito, afinal, o sucesso do animal depende muito dele.