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Efeito do correto manejo da pastagem na resposta s prticas de correo e adubao do solo em sistemas de pastejo – parte 3 w3w

por Adilson de Paula Almeida Aguiar
17/09/2021 - 11:00

O objetivo da sequncia de trs artigos com este tema descrever como o manejo da pastagem influencia a maximizao da resposta da pastagem s prticas corretivas e de adubao do solo e para a nutrio equilibrada da planta forrageira. 1m484m

Na primeira parte desta sequncia de textos foi descrito como as espcies de plantas forrageiras e seus cultivares influenciam na maximizao da resposta da pastagem s prticas de correo e adubao do solo.

Na segunda parte, o objetivo foi descrever como o padro de estabelecimento da pastagem; a infraestrutura: rea de lazer, cochos, bebedouro...; o conforto animal e o manejo do pastejo influenciam na maximizao da resposta da pastagem ao manejo da fertilidade do solo.

Nesta terceira e ltima parte, o objetivo descrever como a presena de plantas infestantes, as pragas e as doenas, a irrigao do solo e a suplementao animal influenciam na maximizao da resposta da pastagem ao manejo da fertilidade do solo.

A presena de plantas infestantes 4r522x

Tomemos a avaliao dos efeitos da variao do pH do solo sobre o desenvolvimento e os teores dos nutrientes fsforo (P), potssio (K), clcio (Ca) e magnsio (Mg) acumulados na parte area e nas razes do capim-marandu (Brachiaria brizantha) e da planta daninha malva (Urena lobata). Para a avaliao, foram preparadas solues nutritivas com os seguintes valores de pH: 3,5; 4,5; 5,5; e 6,5. A gramnea forrageira e a planta daninha responderam diferentemente variao do pH.

O capim-marandu apresentou maior sensibilidade s variaes do pH, tendo sido a produo de MS da parte area e das razes sempre crescente em funo do aumento do pH. Por sua vez, a produo de matria seca das duas fraes da planta daninha no foi influenciada pela variao do pH.

Comparativamente, o capim-marandu apresentou maior habilidade para absorver nutrientes em pH 6,5, enquanto a malva apresentou maior habilidade em condies de pH extremo (3,5 e 6,5). Independentemente do pH da soluo nutritiva e da parte da planta analisada, os teores de P, K, Ca e Mg foram, quase sempre, mais elevados na planta daninha do que no capim-marandu, demonstrando que a malva apresenta maior habilidade para extrair esses nutrientes do solo.

A maior habilidade da planta infestante em extrair nutrientes do solo associada competio com a planta forrageira por outros fatores de crescimento (luz solar, dixido de carbono, espao e gua) e1u1y

Em um trabalho foi avaliado o efeito da taxa de infestao de camboat (Cupania vernalisCamb.) no processo de recuperao de pastagens deBrachiaria decumbens em bioma cerrados. Foram classificadas como alta, mdia e baixa infestao, as densidades de plantas de camboat de 6 plantas/m2 e 49% de rea de cobertura, 2 plantas/m2 e 36% de rea de cobertura e 0,5 planta/m2 e 13,5% de rea de cobertura, respectivamente (tabela 1).

Tabela 1.Produo de matria seca (kg MS/ha) total em funo da taxa de infestao de camboat e da adubao.

Nvel de infestao
Tratamentos Alto Mdio Baixo Testemunha Mdia
Adubado 3.680Ca 3.884Ca 5.066Ba 6.119Aa 4.687
No adubado 2.405Bb 2.867Aba 3.509Ab 3.246Ab 3.006
Mdia 3.042 3.375 4.287 4.683 3.847

Mdias seguidas da mesma letra, minscula na coluna e maiscula na linha, no diferem entre si pelo Teste Tukey (5%).
Fonte: DOBASHI et al., 2001.

Observa-se que a resposta adubao s foi maximizada na ausncia da planta infestante (testemunha). Mesmo no nvel baixo de infestao, a produo de forragem no tratamento adubado no foi maximizada. Por outro lado, apenas o procedimento de controlar as plantas infestantes para o nvel zero (testemunha) possibilitou o aumento na produo de forragem, que quase alcanou a produo do tratamento adubado, mas com alta taxa de infestao de camboat, valores de 3.260 x 3.680 kg de MS/ha, respectivamente.

Quando se calcula os investimentos e custos do controle de plantas infestantes e se compara com o valor para corrigir e adubar o solo, chega-se concluso de que o controle de plantas infestantes bem mais barato e, portanto, deve ser executado antes.

O ataque de pragas e doenas gd1i

As pastagens, como outras culturas cultivadas, sofrem ataques de pragas e so acometidas por doenas. As pragas que atacam pastagens so classificadas como ocasionais, gerais e especficas. Como ocasionais so encontradas as cochonilhas, as lagartas e o percevejo-das-gramneas; como gerais so encontrados os cupins, as formigas, os gafanhotos, as larvas de besouros escarabedeos e os percevejos castanho das razes; e como especficas, as cigarrinhas-das-pastagens.

Se por um lado possvel aumentar a tolerncia de plantas forrageiras s pragas e doenas por meio da correo e da adubao do solo, a negligncia no seu controle contribui para que a resposta da planta ao manejo da fertilidade do solo no seja maximizada.

As pragas cortadoras (formigas, gafanhotos, lagartas, cupins subterrneos) reduzem o ndice de rea foliar da planta forrageira, reduzindo a fotossntese e, consequentemente, o acmulo de forragem; as que sugam a seiva e so toxicognicas (cigarrinha-das-pastagen, cochonilha, percevejo das gramneas, percevejos castanhos das razes) desorganizam o metabolismo da planta. Por exemplo, as cigarrinhas-das-pastagens injetam nas plantas dois grupos de substncias toxicognicas: um tipo se coagula no interior do tecido das folhas, possivelmente desorganizando o transporte da seiva; outro grupo composto por substncias solveis, que se translocam para o pice (ponta) das folhas, provocando morte dos tecidos. Em consequncia do efeito dessas substncias, ocorre reduo na produo de forragem, com consequente reduo da capacidade de e da pastagem.

Assim, para a mxima resposta aos corretivos e adubos aplicados ao solo importante garantir a ausncia de pragas e doenas ou pelo menos mant-las em nveis populacionais abaixo do nvel de dano econmico.

A irrigao do solo da pastagem 4z4u3

A irrigao do solo da pastagem possibilita o controle de sua umidade, condio que potencializa a resposta s adubaes, particularmente com N e principalmente quando a fonte de N a ureia convencional (tabela 2).

Tabela 2.Resposta de pastagens de capim-marandu ao nitrognio em funo de doses e do regime hdrico, sequeiro ou irrigado.

Dose de N (kg/ha)
100 200 400 600
Regime hdrico Resposta ao N (kg MS/kg de N)
Sequeiro 80 50 32 23
Irrigado 100 60 40 35

Fonte: OLIVEIRA et al., 2004.


Observa-se que a irrigao do solo da pastagem possibilitou incrementos nas respostas ao N, que variou entre mais 25% para a dose de 100 kg/ha, a 52% para a dose de 600 kg/ha.

A suplementao animal 3u3319

Para o manejo de fertilidade de um solo de pastagem, uma parte dos nutrientes que compe os suplementos para os animais em pastejo considerada como uma “importao” de nutrientes para o sistema de produo. Dependendo da quantidade e da concentrao dos suplementos fornecidos aos animais, as quantidades que so incorporadas aos solos da pastagem por meio da ciclagem de nutrientes podem ser significativas.

Em uma fazenda de pecuria de corte, 120 machos foram alocados durante 183 dias em um piquete com rea de 37,5 ha com uma taxa de lotao de 3,2 animais/ha. O solo da pastagem nunca tinha sido corrigido e adubado. Os animais comearam a ser suplementados quando pesavam 420 kg e saram desse piquete para o frigorfico com 545 kg. Durante esse perodo foram suplementados, em mdia, com 8,7 kg de concentrado/cabea/dia com 16% de protena bruta (PB), ou 2,6% de N, e 0,42% de fsforo (P), totalizando 5,086 kg de concentrado/ha no perodo.

Por meio de um modelo de balano de massa, foi possvel predizer que por meio da ciclagem, a importao de nutrientes via concentrado poderia estar contribuindo com 66 kg de N e 11 kg de P2O5/ha/ano. Pecuaristas que tm suplementado animais na fase de engorda com altas quantidades de concentrados em uma mesma rea por muitos anos, tm observado que no perodo chuvoso a rebrota da pastagem mais vigorosa, que a colorao da planta tem mudado e que a capacidade de e tem aumentado, mesmo sem nunca terem corrigido e adubado os solos daquelas reas. E as anlises de solos feitas em diferentes anos tm ado a concluso de que a ciclagem de nutrientes significativa.

Por outro lado, em um sistema muito intensivo de produo de leite, em pastagem cujo solo corrigido, adubado e irrigado j por mais de 15 anos, com taxa de lotao mdia anual de 10 UA/ha, com vacas em lactao (10 vacas/ha) consumindo 15 mil kg de concentrado/ha/ano com 11,5% de PB (1,8% de N), 0,38% de P, 0,47% de potssio (K) e 0,11% de enxofre (S), a importao de nutrientes via concentrado poderia estar contribuindo por meio de ciclagem com 259 kg de N, 18 kg de P2O5, 24 kg de K2O e 3 kg de S/ha/ano.

Assim, em pastagens com animais suplementados com altos nveis de concentrados as respostas s adubaes podem ficar abaixo das expectativas, j que um aporte significativo de nutrientes est sendo importado do sistema por meio da suplementao. Por outro lado, se as quantidades de nutrientes ciclados por meio dos suplementos forem preditas, pode-se economizar com a reduo das doses de adubaes.

Consideraes finais 1nt22

A produo primria da agropecuria talvez seja a atividade econmica mais complexa j que ela se d em uma “indstria a cu aberto”. A atividade pecuria explorada em pasto ainda mais complexa que a agricultura por causa da presena do componente animal, que torna o sistema muito dinmico em funo do seu comportamento no processo de colheita da forragem, eficincia de converso dessa forragem em produto animal e na ciclagem de nutrientes nos compartimentos atmosfera-solo-planta-animal.

A eficincia da converso de nutrientes aplicados por meio de corretivos e adubos almejada em qualquer atividade que explora o solo, entretanto, essa tal eficincia de converso mais desafiadora em sistemas pastoris, j que os nutrientes devem primeiramente serem convertidos na produo vegetal para depois serem convertidos no produto animal que ser comercializado. Ou seja, existe uma etapa a mais que na agricultura, que envolve um complexo processo de colheita pelo animal herbvoro.

Neste sentido, a adoo do conjunto de aes no correto manejo da pastagem e do pastejo a base para a eficiente converso de nutrientes do solo em produto animal.